Economia
MP-RS identifica produção de leite com soda cáustica e água oxigenada
Operação Leite Compen$ado apurou que o leite era vendido no Brasil e na Venezuela; setor produtivo pede para população "confiar no leite gaúcho"
Fernanda Farias | Porto Alegre | fernanda.farias@estadao.com.br
11/12/2024 - 16:35
O Ministério Público do Rio Grande do Sul identificou a produção de leite e derivados com adição de soda cáustica e outros produtos nocivos à saúde, como água oxigenada, em uma indústria no município de Taquara, no Vale do Paranhana. A Operação Leite Compen$ado 13 acontece quase 12 anos após a primeira ação do MP e sete anos após a mais recente etapa. De acordo com o MP, foram detectados “pelos indefinidos” e pontos de sujeira dentro de embalagens.
O promotor de Justiça Alcindo Luz Bastos da Silva Filho, da Promotoria de Justiça de Defesa do Consumidor, explica que a soda cáustica é usada para ajustar o PH do leite e diminuir a sua acidez e, ainda por cima, volatiza ou desaparece rapidamente, não sendo detectada nas análises.
“Além de aprimorarem as fórmulas para adulteração, também aprimoraram as práticas criminosas. Eles utilizam alguns códigos – ‘vitamina’ e ‘receita’ – para tentar despistar qualquer tentativa de investigação”.
Segundo o MP, as irregularidades não foram detectadas apenas no leite UHT, mas no leite em pó, em compostos lácteos para fazer bebidas derivadas do produto e no soro de leite. “Por exemplo, sobre o composto lácteo, eles chegam a reprocessar o produto vencido para reutilizá-lo novamente. Já a água oxigenada ou peróxido de hidrogênio, serve para matar micro-organismos e recuperar produto em deterioração. Isso, sem falar da soda cáustica, que pode conter metais pesados, alguns, inclusive, cancerígenos”, destaca Alcindo Bastos.
A investigação apurou que os produtos da indústria de Taquara são distribuídos não só para o Rio Grande do Sul, mas para todo o Brasil e para a Venezuela. Além disso, a fábrica já venceu e participa de várias licitações em muitas partes do país para fornecimento de laticínios. Recentemente, a empresa foi vencedora de um certame para distribuir produtos derivados do leite para escolas de uma cidade paulista.
O MP informou que a Justiça ainda não autorizou a divulgação das marcas e que aguarda exames mais detalhados sobre os lotes para determinar exatamente quais estão contaminados.
Prisões
A operação ainda prendeu novamente o criminoso conhecido como “alquimista” ou “mago do leite”. O químico industrial está impedido pela Justiça de trabalhar em laticínios desde 2005, quando foi absolvido de uma condenação. Porém, a investigação apurou que o homem foi contratado pelo laticínio alvo da operação.
“Era para ele estar usando tornozeleira eletrônica, era para sair a condenação dele da Leite 5. Mas, enquanto essas questões básicas não ocorrem, o que ele faz? Adultera leite e pior, aprimora seus mecanismos de ação, já que tem a fórmula exata da quantidade de soda cáustica para uma quantidade exata de litros de leite, fazendo com que os ajustes não sejam detectados nos exames”, ressalta o promotor de Justiça Mauro Rockenbach, da Promotoria de Justiça Especializada Criminal de Porto Alegre.
Além do Ministério Público do RS, atuaram na operação o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), Receita Estadual, Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam), Ministério Público de São Paulo e Delegacia do Consumidor da Polícia Civil (Decon). Foram cumpridos quatro mandados de prisão preventiva e 16 de busca e apreensão em empresas e residências de quatro municípios gaúchos e na capital paulista.
Quatro pessoas foram presas preventivamente no Rio Grande do Sul, sendo que o diretor administrativo da empresa também foi flagrado com uma arma de fogo de numeração raspada. Segundo o MP, uma funcionária da fábrica foi presa em flagrante por “embaraço de investigação de organizações criminosas” por estar avisando outros colegas por mensagem para esconderem celulares. Em São Paulo, houve uma prisão em São José do Rio Preto.
Setor produtivo do leite pede que consumidores “confiem no leite gaúcho”
Em nota, a Associação dos Criadores de Gado Holandês do RS (Gadolando) e a Federação Brasileira das Associações dos Criadores de Animais de Raça (Febrac), manifestaram “profundo pesar diante das denúncias pesar diante das recentes denúncias de adulteração de produtos lácteos envolvendo a empresa Dielat, localizada em Taquara”.
A nota assinada por Marcos Tang, presidente das duas entidades, diz ainda “lamentamos que ainda existam criminosos que comprometem a integridade de um produto tão essencial, fruto do árduo trabalho de nossos produtores. Reafirmamos que o leite gaúcho mantém elevados padrões de qualidade, sustentados pela dedicação e compromisso dos produtores com os consumidores”.
O texto destaca que as adulterações identificadas pelo MP não têm origem nas propriedades rurais ou nos produtores. “O leite produzido no Rio Grande do Sul é, por padrão, um alimento seguro, confiável e de altíssima qualidade”, diz. A nota também pede que a sociedade continue confiando no leite gaúcho e em seus produtores e exige punições aos criminosos.
“O leite não é apenas um alimento; é o sustento de uma cadeia inteira, que inclui famílias dedicadas, trabalhadores do campo e pequenos produtores. Não aceitaremos que ações criminosas comprometam esse trabalho”, conclui.
O Agro Estadão procurou a Dielat, mas ninguém atendeu às ligações.
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