Economia
Empresas nos EUA divergem sobre vacinação contra gripe aviária
Desde 2022, a doença resultou na morte de cerca de 160 milhões de frangos e perus

Broadcast Agro
24/02/2025 - 16:55

As indústrias de frango e de ovos nos Estados Unidos têm posições divergentes sobre a vacinação contra a gripe aviária. Empresas de ovos querem uma resposta mais firme do governo ao surto da doença, que tem afetado granjas e elevado os preços dos ovos. Elas pedem que os reguladores aprovem uma vacina para aplicação nas granjas, uma mudança drástica em relação à posição adotada há alguns anos.
“O caminho que estamos seguindo agora não é sustentável para a indústria”, disse Craig Rowles, diretor científico da Versova, uma das maiores produtoras de ovos dos EUA. “Não é sustentável para nossos clientes que estão pagando US$ 8 pela dúzia de ovos.”
No entanto, processadoras de frango como Tyson Foods, Pilgrims Pride e Perdue Farms, alertam que a vacinação pode prejudicar suas exportações, que movimentam cerca de US$ 5 bilhões ao ano.
Se os EUA começarem a vacinar as aves, países importadores podem suspender as compras de produtos avícolas americanos, segundo autoridades do setor. Cada país precisaria aprovar a estratégia de vacinação dos EUA antes de retomar as importações.
“A vacinação teria um impacto devastador”, declarou o presidente do Conselho Nacional do Frango, Harrison Kircher.
O Departamento de Agricultura dos EUA (USDA) concedeu uma licença condicional para uma vacina contra a gripe aviária altamente patogênica. Desde 2022, a doença resultou na morte de cerca de 160 milhões de frangos e perus. No entanto, a vacina ainda não foi autorizada para uso nas granjas, e os produtores de aves não podem comprá-la.
“Isso é apenas uma etapa normal da pesquisa e desenvolvimento, não a implementação de uma estratégia de vacinação”, disse um representante do USDA.
O governo de Donald Trump planeja uma nova estratégia para combater a gripe aviária. O governo buscará “melhores maneiras, com segurança biológica e medicamentos”, em vez da prática atual de eliminar todas as aves de uma granja quando uma infecção é detectada, disse o diretor do Conselho Econômico Nacional escolhido por Trump, Kevin Hassett, no programa Face the Nation, da CBS.
O USDA planeja divulgar nos próximos dias uma estratégia abrangente de combate à doença. No entanto, vai levar algum tempo para que os preços de ovos voltem a cair, afirmou a secretária de Agricultura, Brooke Rollins, em entrevista à Fox News.
Há dois anos, produtores de ovos descartaram a ideia de vacinação contra a gripe aviária, apesar do impacto da doença nos preços. Na época, os custos e o esforço para vacinar as mais de 300 milhões de galinhas poedeiras nos EUA foram considerados inviáveis.
Agora, a postura do setor mudou. Os esforços para conter o avanço da doença não deram resultado, e autoridades sanitárias alertam sobre possíveis mutações que poderiam facilitar a transmissão entre humanos.
Nos últimos anos, granjas de ovos investiram milhões de dólares em sistemas como canhões de som com sensores de movimento e lasers para afastar aves selvagens que poderiam estar infectadas.
A gripe aviária tem uma taxa de mortalidade de quase 100% em frangos e é disseminada principalmente por aves silvestres, como patos e gansos. O vírus é tão contagioso que até uma rajada de vento pode carregar fezes contaminadas para dentro de um galpão avícola.
O lobby do setor de ovos cita a França como exemplo de sucesso, após uma campanha de vacinação em 2023 ter ajudado na recuperação da produção de patos no país.
“Precisamos de uma abordagem diferente para que a indústria de ovos sobreviva”, disse Rowles, da Versova. “A prática de abater aves simplesmente não está funcionando.”
O USDA concedeu aprovação condicional para a Zoetis, empresa de saúde animal, desenvolver uma vacina contra a gripe aviária para uso em frangos. O próximo passo seria a aprovação comercial, mas mesmo assim levaria tempo para resolver questões comerciais, aumentar a produção e definir uma estratégia de distribuição.
O setor de frango se opõe à vacinação antes que os impactos no comércio internacional sejam resolvidos.
Os EUA são o segundo maior exportador mundial de carne de frango, enviando produtos para mais de 150 países. Uma interrupção das exportações poderia resultar em cortes na produção e afetar a demanda por soja e milho, que são usados em ração animal.
Fornecedores de frango para redes de fast food e supermercados também argumentam que a vacinação não faz sentido devido ao curto ciclo de vida das aves de corte (45 dias até o abate), enquanto as galinhas poedeiras continuam em produção por cerca de dois anos.
Além disso, as galinhas poedeiras representam mais de 75% das mortes associadas ao atual surto, enquanto os frangos de corte representam apenas cerca de 8%.
John Clifford, ex-diretor veterinário do USDA, defende que os EUA negociem com países importadores regras comerciais ligadas à gripe aviária.
Uma das propostas do setor de ovos é restringir a vacinação aos Estados líderes na produção de ovos, como Iowa e Ohio, enquanto os Estados do Sudeste, que concentram a criação de frangos de corte, permaneceriam sem vacinas.
“Trata-se de desenvolver uma estratégia que possamos apresentar aos nossos parceiros comerciais”, disse Clifford. “Será que ainda aceitariam frangos dos EUA se garantirmos que eles não foram vacinados? Haveria mais receptividade a isso? Não sei.” Fonte: Dow Jones Newswires
Siga o Agro Estadão no Google News, WhatsApp, Instagram, Facebook ou assine nossa Newsletter

Newsletter
Acorde
bem informado
com as
notícias do campo
Mais lidas de Economia
1
China suspende importação de carne bovina de três empresas brasileiras
2
Carne bovina: o que está por trás da suspensão chinesa?
3
Ovos: preço sobe para o consumidor, enquanto avicultores enfrentam custos elevados
4
Portos RS: movimentação no primeiro bimestre cresce 19%
5
Produção de oliveiras pode ter quebra de até 40% no Brasil
6
Preço do cacau dispara e impulsiona expansão da produção no Brasil

PUBLICIDADE
Notícias Relacionadas

Economia
BNDES libera R$ 216,6 milhões para construção de armazéns
Cooperativas e empresas sucroalcooleiras de três estados serão beneficiadas

Economia
Agronegócio paulista tem superávit de US$ 1,3 bilhão em fevereiro
Apesar da queda nas exportações, embarques de carne bovina in natura e suco de laranja tiveram resultados positivos, aponta Faesp

Economia
AgRural: colheita de soja atinge 77% no país
O plantio da safrinha 2025 de milho está encerrado no Centro-Sul do Brasil, com destaque para bom desenvolvimento das lavouras no MT

Economia
Goiás abate volume recorde de bovinos em 2024, com 4 milhões de cabeças
Aumento foi de 13,4% em relação a 2023, segundo a Secretaria Estadual de Agricultura, Pecuária e Abastecimento
Economia
MT: colheita da soja e plantio de milho safrinha estão praticamente concluídos
Região médio-norte, maior produtora estadual, já concluiu safra do grão, de acordo com Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária
Economia
Qual o impacto do gafanhoto na agricultura?
Os gafanhotos causam desfolhação intensa em culturas como soja, milho e feijão, prejudicam pastagens e culturas perenes, resultando em prejuízos econômicos significativos
Economia
Bolsa de Cereais de Buenos Aires reduz estimativa da safra de soja 2024/25
A estimativa para a área semeada com milho na Argentina na temporada 2024/25 foi elevada em 500 mil hectares subindo para 7,1 milhões de hectares
Economia
Novo Fiagro financiará agricultura familiar do cacau em modelo que mescla capital público e privado
Fundo nasce com R$ 30 milhões e meta de chegar a R$ 1 bi até 2030; de cada cem produtores de cacau no Brasil, 85 estão à margem do sistema financeiro