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Economia

Disparada do cacau pressiona a indústria e impacta preço do chocolate na Páscoa

Com oferta em queda, importações sobem e processamento recua; mudanças climáticas e volatilidade global afetam produção e exportações brasileiras

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Paloma Custódio | Guaxupé (MG) | paloma.custodio@estadao.com

15/04/2025 - 08:00

Foto: Josué Castro/Coopermata
Foto: Josué Castro/Coopermata

O preço do cacau registrou alta de 189%, com picos de até 282%, ao longo de 2024, segundo a Associação Brasileira da Indústria da Alimentação (Abia). Ao Agro Estadão, a presidente-executiva da Associação Nacional das Indústrias Processadoras de Cacau (AIPC), Anna Paula Losi, explica que o principal fator para o aumento dos preços é a redução da oferta no mercado nacional e internacional. Ela lembra que as compras das amêndoas pelo setor são realizadas com pelo menos seis meses de antecedência do feriado.

No entanto, nem todo o aumento deve ser repassado ao consumidor, já que “as indústrias trabalharam para minimizar o impacto do custo das amêndoas, investindo na melhoria de seus processos produtivos”, ressalta Losi. Ela pondera ainda que, embora o preço do cacau tenha subido mais de 180% ao longo de 2024, “nenhum produtor teve seus preços reajustados neste mesmo patamar”.

Compras de cacau são realizadas seis meses antes do feriado da Páscoa – Foto: Josué Castro/Coopermata

Recebimento de cacau recua 67%

As indústrias processadoras de cacau brasileiras receberam 17.758 toneladas de amêndoas no primeiro trimestre de 2025, uma queda expressiva de 67,4% em comparação com o quarto trimestre de 2024 (54.435 toneladas). Já em relação ao primeiro trimestre do ano passado, a queda foi de 5%, quando o setor recebeu 18.700 toneladas de amêndoas de cacau. Os dados foram compilados pelo SindiDados – Campos Consultores e divulgados nesta segunda-feira, 14, pela AIPC.

Segundo Anna Paula Losi, este foi o segundo menor volume de amêndoas recebido pelas indústrias em um primeiro trimestre nos últimos cinco anos — superando apenas o registrado em 2021. 

Com a escassez de oferta, houve queda também na moagem. No primeiro trimestre de 2025, a indústria brasileira processou 52.135 toneladas de cacau, uma retração de 13% em relação ao mesmo período de 2024 (59.942 toneladas) e de 12,5% na comparação com o quarto trimestre do ano passado (59.589 toneladas).

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Ainda assim, o volume processado no primeiro trimestre foi quase três vezes superior ao total de cacau de origem brasileira recebido no período, revelando um desequilíbrio entre a produção nacional e a demanda da indústria. A diferença entre o volume moído e o recebido do mercado interno foi de 34.377 toneladas, ressaltando a contínua necessidade de complementação por importações.

1º Trimestre de 2025 (ton.)4º Trimestre de 2024 (ton.)1º Trimestre de 2024 (ton.)Variação anualVariação em relação ao período anterior
Amêndoas recebidas17.75854.43518.700-5%-67,40%
Cacau processado52.13559.58959.942-13%-12,50%
Fonte: AIPC

Cacau tem queda nas exportações e alta nas importações

De janeiro a março, o Brasil exportou 30 toneladas de cacau in natura, uma redução de 65,5% frente às 87 toneladas no mesmo período do ano passado. Já as importações de amêndoas de cacau voltaram a crescer, em meio a queda da oferta nacional. No primeiro trimestre de 2025, o Brasil importou 19.491 toneladas, um aumento de 29,8%.

Segundo a AIPC, mesmo com esse reforço externo, o total de amêndoas disponíveis (recebimento interno e importações) ainda não foi suficiente para suprir a demanda da indústria brasileira, resultando em um déficit de aproximadamente 14.886 toneladas no trimestre. 

Anna Paula explica que o aumento das importações foi impulsionado pela queda de 18% no recebimento de amêndoas pela indústria brasileira ao longo de 2024, somada à já esperada baixa nos três primeiros meses de 2025. “Importante destacar que o cacau importado é industrializado para atender os contratos de exportação”, destaca.

Já as importações de derivados de cacau somaram 7.633 toneladas no primeiro trimestre de 2025, uma queda de 25,1% em relação ao mesmo período do ano anterior. As exportações de derivados também recuaram, passando de 9.558 toneladas em 2024 para 9.287 toneladas em 2025,  uma redução de 2,8%.

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Segundo a AIPC, os números no mercado interno e na comercialização internacional reforçam a tendência de desaceleração na demanda, resultado da volatilidade do mercado global de cacau.

Josué Castro de Jesus, diretor executivo da Coopermata
Josué Castro de Jesus, diretor executivo da Coopermata – Foto: Josué Castro/Coopermata

Impacto das mudanças climáticas na produção nacional

A Bahia segue como o maior estado produtor de cacau do Brasil, respondendo por 65% do total de amêndoas destinadas às indústrias processadoras do país. No primeiro trimestre de 2025, o estado forneceu 11.671 toneladas, de acordo com dados da AIPC, um avanço de 2% na comparação com o mesmo período do ano passado. No entanto, houve uma forte retração de 73% em relação ao quarto trimestre do ano anterior.

O diretor executivo da Cooperativa Cacau Mata Atlântica da Bahia (Coopermata), Josué Castro, diz à reportagem que a colheita de cacau ficou abaixo das expectativas devido aos efeitos das mudanças climáticas. “Estamos trabalhando com assistência técnica e com todas as organizações que atuam nessa cadeia de valor para mitigar os efeitos das mudanças climáticas, aprimorar o manejo do solo e implementar o manejo integrado de pragas e doenças, para que nossos produtores sintam menos esses impactos”, afirma.

O produtor considera que o custo de produção do cacau está bastante favorável. “Tivemos uma baixa dos preços dos insumos e isso tem contribuído para que os produtores consigam fazer a manutenção das suas áreas”, diz.

Além disso, o preço do cacau tem se mantido em alta, o que é vantajoso para o produtor. “Mesmo com a produtividade mais baixa, os produtores têm conseguido gerar recursos significativos para fazer os investimentos necessários em suas propriedades”, conclui.

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