Economia
Azeite brasileiro adota padrão europeu e retira acidez dos rótulos
Aprenda a escolher um bom azeite, saiba o real papel da acidez e conheça as regras dos rótulos no Brasil

Mônica Rossi | Porto Alegre | monica.rossi@estadao.com
11/09/2025 - 07:00

A Prosperato, uma das maiores empresas brasileiras de azeite de oliva e pioneira no cultivo de oliveiras no Rio Grande do Sul, anunciou a retirada da informação sobre acidez dos rótulos de seus azeites. Segundo o diretor e mestre de lagar, Rafael Silva Marchetti, a iniciativa é para alinhar os produtos com uma tendência já consolidada entre produtores europeus.
Marchetti explica que a decisão reflete a visão de que a acidez não representa diretamente a qualidade ou o sabor do produto, causando possíveis equívocos na avaliação por parte do consumidor. Já para a indústria, ele esclarece, a acidez desempenha papel importante, por servir como parâmetro de rastreabilidade da qualidade das azeitonas e base para a remuneração de produtores.
“A acidez é um parâmetro químico de análise relacionado ao quanto a azeitona fermentou antes de virar o azeite. É importante lá na ponta para as grandes indústrias que recebem as azeitonas do campo. É o quanto o fruto fermentou entre o momento da colheita até o momento que ele se transforma em azeite. No final das contas, isso diz muito pouco sobre a qualidade para o público. O consumidor não pode analisar de maneira comparativa somente a partir dessa informação”, argumenta.
Segundo a empresa, a embalagem dos produtos da safra 2025 traz os dados considerados mais relevantes e indicativos da qualidade do azeite, como a classificação de extra virgem, o ano da safra e as variedades de azeitona utilizadas.
A mudança segue um movimento internacional, segundo Marchetti. “Isso que a gente está fazendo não é nenhuma invenção, a gente está só seguindo uma tendência de mercado. Na Europa, já está praticamente consolidado. Hoje é muito difícil, no supermercado lá fora, encontrar um azeite que tenha essa análise”, relata.
Rótulos dentro da lei

Foto: Mônica Rossi/Agro Estadão

Foto: Mônica Rossi/Agro Estadão
Taluí Zanatta, auditor da Área da Qualidade Vegetal do Serviço de Inspeção de Produtos do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) explica que a informação da acidez no rótulo do azeite não é obrigatória no Brasil.
“A informação da acidez é apenas um indicativo físico-químico indireto de qualidade e possui alto índice de conformidade nas análises laboratoriais de rotina. Não se trata de uma informação determinante na qualidade sensorial do produto. É totalmente possível que azeites de oliva em conformidade legal quanto ao parâmetro, isto é com acidez baixa, apresentem defeitos sensoriais significativos com atributos desagradáveis que remetem à fermentação, ao mofo e ao ranço, por exemplo”, pontua Zanatta.
Em consonância com o diretor da empresa gaúcha, o servidor do Mapa orienta que, “no caso da omissão da informação da acidez, o consumidor deve avaliar a data de envase dos produtos, quanto mais fresco melhor o azeite, portanto, deve buscar os envases mais recentes e preferir produtos em embalagens escuras”.

Além disso, é recomendado verificar se o importador ou responsável pelo produto é registrado no Mapa por meio desse link. Essa consulta demonstra se o azeite já passou por análises físico-químicas e sensoriais em ações de fiscalização. Zanatta diz ainda que, dentro do possível, o consumidor deve dar preferência aos azeites de oliva do tipo extravirgem. O produto deve ser armazenado em local ao abrigo da luz, do calor e deve ser consumido rapidamente após aberto.
“Os azeites produzidos e processados em lagares no Brasil costumam apresentar excelente qualidade”, conclui o fiscal.
Educação do consumidor

Para facilitar a compreensão do consumidor brasileiro, já habituado a conferir a acidez antes da compra, a empresa colocou em prática uma campanha de comunicação. A ideia é reorientar a atenção do consumidor para as informações que de fato influenciam a experiência com o produto.
“Se a gente for conversar com importadores de azeite no Brasil e perguntar por que eles colocam acidez no rótulo, vão dizer que é porque o consumidor quer ver. Só que o consumidor, muitas vezes, não sabe o que significa aquilo, entende? É só um comportamento de manada que ninguém sabe de onde surgiu, na verdade. Só foi sendo alimentado ao longo dos anos. Agora, é uma situação de estimular uma mudança de comportamento de consumidor”, justifica.

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