O gado pode morrer de frio? 

Além do frio, o inverno garante um clima mais seco e não são raros os dias com grande amplitude térmica – quando as temperaturas máxima e mínima têm uma grande diferença. Essas oscilações podem fazer mal ao gado e até provocar a morte dos animais.

Inclusive neste inverno, já foram registradas mortes de bovinos por causa da queda da temperatura em Mato Grosso do Sul. Há cerca de uma semana, uma onda de frio atingiu a região sul do estado, resultando na morte de aproximadamente 100 bovinos da raça nelore. 

Em 2023,  também em Mato Grosso do Sul, as baixas temperaturas causaram a morte de aproximadamente 2,7 mil bovinos, entre bois, vacas e bezerros, por hipotermia. As informações são da Agência Estadual de Defesa Sanitária Animal e Vegetal de Mato Grosso do Sul (Iagro).

Mas por que parece ser mais comum que o gado morra de frio no Centro-Oeste do país? É que na região, predomina a criação de raças zebuínas, que tendem a ser mais sensíveis ao frio em comparação ao gado com genética taurina, tradicionais dos estados do Sul, por exemplo.  

“Raças como nelore, gir, guzerá, tabapuã, brahman, indubrasil, entre outras, são consideradas mais rústicas, com pelagem curta e metabolismo mais baixo do que os animais de origem europeia. No entanto, tendem a ser mais vulneráveis ao frio,” comenta Julia Monsalve, zootecnista e analista de mercado da Scot Consultoria.

A zootecnista explica que bovinos adultos da raça zebuína podem suportar temperaturas de até -5°C, mas a exposição prolongada ao frio com temperaturas abaixo de 10°C pode causar estresse térmico ao gado, especialmente se houver vento e umidade. 

A analista também destaca atenção especial com os animais mais jovens. Ela explica que um frio com de 10º C ou menos já provoca estresse térmico nos bezerros. E temperaturas abaixo de 15°C se tornam problemáticas se não houver proteção adequada para o gado.

Como prevenir a morte do gado no inverno?

Para que os animais passem o inverno sem sofrer com o frio, os pecuaristas precisam adotar uma série de medidas preventivas e de manejo. 

A especialista da Scot Consultoria destaca que é fundamental garantir que o rebanho tenha acesso a abrigos naturais ou artificiais adequados para mitigar os riscos associados ao frio. Uma alternativa apontada por ela é o plantio de árvores com copas densas, formando corredores que ofereçam proteção contra ventos.

Além da proteção física, é importante estar atento à alimentação do gado. Uma condição debilitada dos animais, somada à perda do ‘escore corporal’ – que diz respeito à massa muscular e à gordura – pode intensificar os efeitos negativos do clima. De acordo com a zootecnista, é preciso aumentar a quantidade de alimentos ricos em energia, como milho e farelo de soja, para fornecer calorias extras necessárias para a termorregulação.

“O consumo de forragem de alta qualidade, como feno e silagem, promove a fermentação ruminal, gerando calor interno. Suplementar a dieta com proteínas de alta qualidade, minerais e vitaminas fortalece o sistema imunológico e o metabolismo energético”, explica Julia. 

Ela também não descarta o uso de rações comerciais balanceadas para ajudar a garantir que os bovinos recebam todos os nutrientes necessários em proporções corretas, contribuindo para a manutenção da saúde e da produção durante o inverno. E é claro, o acesso à água fresca e não congelada garante a hidratação adequada para a digestão e o metabolismo. 

O inverno e os efeitos sobre a pecuária leiteira

Durante o inverno o efeito de um clima mais seco pode afetar as pastagens e, consequentemente, reduzir a produção de leite. Nas principais bacias leiteiras do país, em Minas Gerais, na região Sul e em Goiás, a ocorrência de geadas e a redução das chuvas podem impactar o desenvolvimento e a qualidade dos pastos.

Além disso, o baixo consumo de água neste período também pode comprometer a produção, como explica a analista: “o consumo de água pelos bovinos tende a diminuir, dado que as águas ficam mais geladas e causam desconforto para as vacas. O rúmen do bovino mantém uma temperatura de aproximadamente 37 graus (37°C), e a água muito fria pode reduzir o consumo em até 20%”, afirma Julia Monsalve.

Um risco importante é a pneumonia. Conforme a especialista, as bezerras tendem a ficar mais doentes e gastar mais energia com a manutenção da temperatura corporal do que para o ganho de peso.

Nem todo frio é negativo para o gado

Apesar dos desafios no período de inverno, o frio traz alguns benefícios para a pecuária leiteira.  Além de haver menor incidência de doenças transmitidas por parasitas como moscas ou carrapatos, as temperaturas entre 5º e 15º C proporcionam mais conforto térmico às vacas.

Ao se sentirem confortáveis, as vacas gastam menos energia para manter a temperatura corporal e, assim, têm maiores índices reprodutivos durante a estação mais fria do ano.

“Nesse cenário, é essencial proporcionar abrigos adequados que protejam os animais do vento, da chuva e da geada, além de camas confortáveis de palha ou serragem para mantê-los secos e aquecidos. Bezerros precisam de abrigos específicos e, em casos extremos, roupas protetoras”, recomenda Julia.

A principal recomendação para manter os animais confortáveis e evitar perdas, é planejar as ações. “O planejamento antecipado, incluindo a preparação de infraestrutura e estratégias nutricionais específicas, é crucial para garantir a saúde e a eficiência da produção durante o inverno”, conclui.

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