PUBLICIDADE
Nome Colunistas

José Carlos Vaz

Advogado e consultor, mestre em direito constitucional, ex-secretário de Política Agrícola do Ministério da Agricultura

Esse texto trata de uma opinião do colunista e não necessariamente reflete a posição do Agro Estadão

Opinião

Política Agrícola: Câmbio e China

Produzir proteína em larga escala implica ficar mais exposto à dependência que o câmbio e o comércio internacional têm com relação à situação geopolítica. Trump rugindo será um gato ou um leão?  

17/01/2025 - 16:38

Foto: Adobe Stock
Foto: Adobe Stock

Muita gente já ouviu falar dos “se´s” da política agrícola: “se” São Pedro ajudar; “se” o dólar subir; “se” acontecer uma geada, “se” o banco der mais crédito etc.  Já a análise dos “cê´s” da atividade produtiva rural fica mais restrita aos especialistas do setor, cada um com o seu conjunto preferido de temas.

Meus “cê´s”, sempre foram, por ordem de prioridade: Câmbio, China, Clima e Crédito. Posteriormente passei também a mencionar Coordenação. Neste texto vou me ater aos “cê´s” Câmbio e China.

Como a safra brasileira tem uma dependência muita grande de fornecedores e compradores externos, os produtores de médio e grande porte que desde os anos 1990 passaram a utilizar a “soja verde” e mais tarde os contratos “barter” (com ou sem vinculação de Cédula de Produto Rural – CPR) têm sua liquidez e sua capacidade de pagamento bastante prejudicadas quando o dólar americano sobe abrupta e fortemente, em especial se o produtor já entregou boa parte da sua colheita e:

  • os compromissos em dólar (mesmo em real, mas com taxa pós-fixada) estão vencendo; e/ou,
  • os insumos para a próxima safra não foram comprados.

A partir dos anos 2010, o meu “cê” de Câmbio passou a ter uma maior abrangência: inclui também a variação expressiva, em desfavor do produtor, da relação preço do produto e preço dos insumos, mesmo não havendo flutuação do dólar.

Nessas crises de Câmbio (moeda e permuta), a política agrícola deve proporcionar liquidez para os credores, de modo que possam diluir os pagamentos devidos pelos produtores, na safra em curso e nas safras seguintes.

PUBLICIDADE

É uma solução simples, ágil e não onerosa, se os juros praticados forem positivos. Mas como por questões eleitorais não se aceita o uso de taxas naqueles patamares, acaba que o Tesouro Nacional é chamado para subsidiar. Com isso, as linhas de crédito demoram a ser disponibilizadas, não têm recursos suficientes, são burocráticas.

Outra medida que seria muito conveniente também utilizar é mais complexa e polêmica: estabelecer uma “câmara de compensação” Brasil/China, envolvendo inicialmente apenas grãos/decorrentes e seus insumos, com o uso de contratos de compra e venda plurianuais e de mecanismos de controle e redistribuição da volatilidade da relação preço do produto e preço dos insumos. Seria institucionalizar o atual “use os insumos e devolva na forma de grãos/carnes/derivados”.

A grande dificuldade será a resistência dos operadores internos à prática de maior transparência nas relações contratuais e nos preços praticados.

O Brasil “fidelizar” a China, e vice-versa, também reduziria a vulnerabilidade que o nosso país tem perante os Estados Unidos que podem, a qualquer momento, reduzir seu compromisso de utilização de biocombustíveis e inundar o mercado internacional com grãos, deprimindo os preços. Alguém duvida que o tesouro americano “Mike Tyson” é mais forte que o tupiniquim (Adilson Maguila)?

Produzir proteína em larga escala, como se propõe o Brasil, implica ficar mais exposto à dependência que o câmbio e o comércio internacional têm com relação à situação geopolítica.

Até quando será possível manter o status quo de não alinhamento com os Estados Unidos ou a China?

Muitas poderão ser as respostas, mas todas terão que considerar o fator presidente Trump e a sua capacidade de blefar e de pagar para ver. O Trump inexperiente e sem liderança parlamentar do primeiro mandato não é o Trump de 2025: agora ele terá maioria na câmara, no senado e na suprema corte. Antes de tomar posse está rugindo para todos os países: China, União Europeia, Rússia, Brasil (até o Canadá!). Até onde ele irá?

Siga o Agro Estadão no WhatsApp, Instagram, Facebook, X, Telegram ou assine nossa Newsletter

PUBLICIDADE
Agro Estadão Newsletter
Agro Estadão Newsletter

Newsletter

Acorde bem informado
com as notícias do campo

Agro Clima
Agro Estadão Clima Agro Estadão Clima

Mapeamento completo das
condições do clima
para a sua região

Agro Estadão Clima
VER INDICADORES DO CLIMA

PUBLICIDADE

Notícias Relacionadas

Insegurança jurídica setorial e seus reflexos na Economia e na atração de investimentos internacionais

Opinião

Insegurança jurídica setorial e seus reflexos na Economia e na atração de investimentos internacionais

Setores como infraestrutura, energia limpa, bioeconomia e exportações também sentem os reflexos de um ambiente regulatório volátil

Marcello Brito loading="lazy"
Opinião:

Marcello Brito

A moeda dos Brics

Opinião

A moeda dos Brics

Uma moeda comum entre os países do BRICS segue distante; o que pode evoluir são os sistemas interligados de pagamento

Welber Barral loading="lazy"
Opinião:

Welber Barral

Feiras e exposições reforçam o protagonismo da pecuária paulista

Opinião

Feiras e exposições reforçam o protagonismo da pecuária paulista

Investimentos em genética, manejo, nutrição e bem-estar animal garantem produtos de alta qualidade para o consumo interno e para exportação

Tirso Meirelles loading="lazy"
Opinião:

Tirso Meirelles

Genes e Algoritmos: a nova engenharia do mundo

Opinião

Genes e Algoritmos: a nova engenharia do mundo

A convergência entre inteligência artificial e biotecnologia está transformando o mundo que conhecemos, de forma acelerada e irreversível.

Celso Moretti loading="lazy"
Opinião:

Celso Moretti

PUBLICIDADE

Opinião

Política agrícola: esperando agosto

Depois que China, União Europeia, Japão e outros países fecharam acordos com os EUA, Brasil faz o que pode enquanto aguarda a sexta-feira

José Carlos Vaz loading="lazy"
Opinião:

José Carlos Vaz

Opinião

A transparência que devemos cultivar em Transição Energética

Setor de biocombustíveis enfrenta dano causado por distribuidoras que não cumpriram metas de aquisição de Créditos de Descarbonização (CBIOs)

Francisco Turra loading="lazy"
Opinião:

Francisco Turra

Opinião

O Brasil precisa voltar a produzir ureia – e com urgência

A vulnerabilidade na oferta de fertilizantes compromete a produtividade, eleva os custos e ameaça a competitividade do campo

Celso Moretti loading="lazy"
Opinião:

Celso Moretti

Opinião

Terras raras e os interesses do Brasil

Detentor de reservas relevantes mas pouco exploradas, país precisa de estratégia para não repetir papel exportador de matérias-primas.

Welber Barral loading="lazy"
Opinião:

Welber Barral

Logo Agro Estadão
Bom Dia Agro
X
Carregando...

Seu e-mail foi cadastrado!

Agora complete as informações para personalizar sua newsletter e recebê-la também em seu Whatsapp

Sua função
Tipo de cultura

Bem-vindo (a) ao Bom dia, Agro!

Tudo certo. Estamos preparados para oferecer uma experiência ainda mais personalizada e relevante para você.

Mantenha-se conectado!

Fique atento ao seu e-mail e Whatsapp para atualizações. Estamos ansiosos para ser parte do seu dia a dia no campo!

Enviamos um e-mail de boas-vindas para você! Se não o encontrar na sua caixa de entrada, por favor, verifique a pasta de Spam (lixo eletrônico) e marque a mensagem como ‘Não é spam” para garantir que você receberá os próximos e-mails corretamente.