Pecuária Regenerativa: perspectivas, desafios e oportunidades no Brasil | Agro Estadão
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Welber Barral

Conselheiro da Fiesp, presidente do IBCI e ex-secretário de Comércio Exterior do Brasil

Esse texto trata de uma opinião do colunista e não necessariamente reflete a posição do Agro Estadão

Opinião

Pecuária Regenerativa: perspectivas, desafios e oportunidades no Brasil

Nos últimos anos, o conceito de pecuária regenerativa tem ganhado atenção no Brasil e no mundo, sendo apresentado como a próxima grande promessa para os desafios da produção agropecuária

01/11/2024 - 08:00

 Foto: Fazenda Madressilva/Arquivo
Foto: Fazenda Madressilva/Arquivo

Enquanto o modelo tradicional muitas vezes resulta em degradação do solo e perda de biodiversidade, a pecuária regenerativa propõe um caminho oposto e, claro, ambicioso: não só mitigar impactos negativos, mas restaurar e enriquecer o ecossistema. Um verdadeiro milagre moderno para o agronegócio brasileiro, que certamente não deixa de despertar ceticismo para alguns.

Na prática, a pecuária regenerativa busca resgatar a saúde do solo e aumentar a resiliência das áreas de pastagem. Como destaca o agrônomo Juliano Maia,especialista no tema na Fábrica de Bezerros, uma das principais técnicas é o manejorotacional do pasto, onde o gado é movido regularmente para que as pastagens serecuperem naturalmente, evitando o desgaste contínuo de uma única área. Em outraspalavras, o gado finalmente ganha o direito a um “descanso ecológico.” Outra técnicaé a integração de árvores e pastagens, que cria sistemas agroflorestais, melhorando aretenção de água e fornecendo sombra para os animais.

A regeneração do solo é o verdadeiro pilar dessa abordagem. Com um solo que retémmelhor a água e os nutrientes, a pecuária regenerativa promete reduzir a erosão eaumentar a produtividade. Um plano que soa especialmente atraente quandoconsideramos que cerca de 59,6% das pastagens no Brasil já mostram sinais dedegradação. Recuperar essas áreas poderia aumentar a produção sem a necessidadede mais desmatamento – uma solução que, se bem-sucedida, certamente traria alíviopara todos os setores, e possivelmente um pouco de esperança para o futuroambiental do país. Além disso, a diversidade biológica se beneficia, já que a variedadede plantas e animais fortalece a resiliência dos ecossistemas.

Mas não é apenas o meio ambiente que ganha; a pecuária regenerativa também trazvantagens econômicas para os produtores. Com práticas que melhoram a saúde dosolo e aumentam a eficiência do uso das pastagens, os custos com fertilizantes einsumos químicos podem ser reduzidos. Em um setor que sempre busca maximizar amargem de lucro, esse benefício certamente chama atenção. Ainda por cima,fazendas regenerativas têm atraído um mercado cada vez maior de consumidores conscientes que valorizam práticas sustentáveis. Ou seja, a pecuária regenerativapromete ser uma ponte para novos mercados, sem necessariamente renunciar àrentabilidade.

Entre as alternativas financeiras que podem servir de incentivo à adoção dessaspráticas, destaca-se a Cédula de Produto Rural (CPR) Verde, um título financeiro quepremia os produtores pela conservação e recuperação da vegetação nativa em suaspropriedades. A CPR Verde propõe compensações financeiras aos produtores quemantêm áreas de vegetação preservada, integrando diretamente a conservaçãoambiental ao ciclo econômico rural. Além disso, o título abre portas para uma fonte dereceita promissora com créditos de carbono. Estes créditos podem sercomercializados, permitindo que o produtor se beneficie financeiramente ao contribuirpara a redução de emissões de gases de efeito estufa. E a CPR Verde pode ser usadacomo garantia para financiamentos, facilitando o acesso a recursos que podem seraplicados em tecnologias e práticas regenerativas, como a recuperação de pastagense o plantio direto.

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Em relação às emissões de gases de efeito estufa, sabemos que o setor agropecuárioé um dos principais emissores no Brasil, devido, em grande parte, ao metano liberadopelo gado. E é aqui que a pecuária regenerativa entra como uma alternativa viávelpara reduzir essas emissões, promovendo práticas que capturam carbono no solo. Háquem diga que algumas fazendas podem se transformar em “sumidouros de carbono”– praticamente uma revolução silenciosa contra as mudanças climáticas. E as cifrassão promissoras: estima-se que o mercado de créditos de carbono no Brasil possagerar entre US$ 493 milhões e US$ 100 bilhões até 2030, com a pecuária regenerativadesempenhando um papel de destaque nesse crescimento.

Ainda assim, vale dizer que há risco de perder oportunidades. A implementação dapecuária regenerativa no Brasil enfrenta alguns desafios. A capacitação de técnicos eprofissionais especializados é essencial para que os produtores consigam aplicaressas práticas de forma eficaz. Não basta só adotar o modelo – é preciso saber aplicá-lo bem. Além disso, políticas públicas que incentivem e subsidiem a transição parapráticas regenerativas são cruciais para tornar essa alternativa economicamenteviável, especialmente para pequenos e médios produtores, que muitas vezes são osmais impactados por mudanças estruturais.

Neste cenário, a pecuária regenerativa surge como uma oportunidade única para oBrasil, um país com uma vasta área de pastagens e uma demanda crescente porsustentabilidade e adaptação climática. Se o Brasil aproveitar esta oportunidade, pode se estabelecer como referência global em práticas agropecuárias sustentáveis.

Naturalmente, isso dependerá de uma coordenação precisa entre o setor privado epolíticas públicas que não só incentivem, mas também demonstrem aos pecuaristasas vantagens econômicas desta transição. Em tempos de promessas abundantes, apecuária regenerativa se apresenta como uma aposta que combina o pragmatismo dolucro com a sustentabilidade ambiental – uma combinação rara e bem-vinda.

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