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Esse texto trata de uma opinião do colunista e não necessariamente reflete a posição do Agro Estadão

Opinião

O fantasma tarifário de 1930

A Lei de 1930 serve como uma advertência quanto às consequências imprevistas do protecionismo e da necessidade de cooperação para manutenção da estabilidade internacional

2 minutos de leitura

26/05/2024 | 19:23

moedas de dinheiro caindo
Foto: Adobe Stock

Logo após a crise econômica de 1929, os Estados Unidos elevaram unilateralmente suas tarifas de importação. Conhecida como Lei Hawley–Smoot, esta elevação teve consequências funestas com o declínio do comércio mundial e retaliação dos parceiros, levando à redução da cooperação internacional e do crescimento econômico.

Os eventos de 1930 vêm à memória quando se observam as medidas anunciadas nesta semana pelo governo norte-americano. Na realidade, as medidas recentes consolidam a reversão da liberalização comercial promovida no período 1990-2010, que se caracterizou pelo mesmo ato, por meio da OMC e dos acordos de livre comércio. Tal medida permitiu também crescimento do investimento transnacional, eficiência econômica e redução da pobreza. Apenas na Ásia, calcula-se que mais de um bilhão de pessoas tenham, neste período, ultrapassado a linha da miséria.

Mas o atual espírito do tempo é bem outro. As tarifas anunciadas pelo Governo Biden atingem veículos elétricos, baterias, chips, painéis solares e produtos médicos. Em alguns casos, chegam a mais de 100% (para veículos) e 50% para painéis e chips. Na prática, constituem barreiras intransponíveis para que fabricantes chineses acessem o mercado norte-americano. Estas tarifas se somam a outras que, desde o Governo Trump, foram impostas contra a importação de aço e alumínio.

Uma característica destacada das tarifas anunciadas é que se referem aos setores mais inovadores da atual economia, essenciais para a transição energética e para o controle da tecnologia futura. Mas suas justificativas são as mesmas de toda medida protecionista: preservação do emprego local, preocupação com defesa nacional, garantias aos investidores nacionais, etc.

Ainda, e da mesma forma que há quase um século,  já surgem as medidas de retaliação. A China logo anunciou novas medidas de defesa comercial contra exportações norte-americanas, sobretudo no setor químico. A Europa vai rever suas tarifas, justificando a probabilidade de desvio do comércio chinês para seu mercado. Outros países tentarão naturalmente proteger suas indústrias, para não serem repisados no embate entre os dois grandes tiranossauros econômicos.

Com 1% do comércio internacional, o Brasil é um peão lateral no imenso xadrez comercial do mundo. Com uma indústria estropiada há décadas por tributação escorchante, sobrevalorização cambial, pouca competitividade e menos inovação, a indústria brasileira peleja para sobreviver neste mundo adverso.

Por pressões recentes, a indústria brasileira conseguiu induzir as primeiras medidas governamentais, ainda tímidas quando comparadas às norte-americanas ou europeias, para sua proteção. O desafio para os formuladores de políticas econômicas é equilibrar esta proteção temporária com aumento da competitividade, para não se despencar novamente na lerdeza que caracterizou o fim da era de substituição de importações.

Quanto ao mundo, não há – infelizmente – perspectivas realistas de maior liberalização comercial, diante do cenário atroz da competição geopolítica. Uma conclusão soturna, para um mundo cujos desafios demandam, ao contrário, urgente cooperação entre os países.

Bom Dia Agro
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