Celso Moretti
Engenheiro Agrônomo, ex-presidente da Embrapa
Esse texto trata de uma opinião do colunista e não necessariamente reflete a posição do Agro Estadão
Opinião
Dependência externa de fertilizantes ainda preocupa
Em 2022 o Brasil se reencontrou com um problema sistêmico do agro: a monumental dependência da importação de fertilizantes
Nada menos do que 85% desses insumos usados pela agricultura brasileira são importados. São quase 40 milhões de toneladas. A luz vermelha foi acesa com o início da guerra da Ucrânia, em fevereiro daquele ano. Veio o bloqueio do Mar Negro. Somente Rússia e Belarus respondem por 50% do potássio que chega ao Brasil. O governo à época deu início à chamada “diplomacia dos fertilizantes”. Vários países como Canadá, Estados Unidos, Marrocos, Rússia, Jordânia e Israel foram visitados. Felizmente, a safra 2022/23 não foi comprometida e, em alguns portos, fertilizantes nem chegaram a adentrar o território brasileiro, sendo reexportados dali mesmo.
Para se desenvolverem adequadamente, as plantas necessitam de diversos nutrientes. Três são exigidos em maior quantidade: nitrogênio, fósforo e potássio. Entre 60 e 70% do nitrogênio, ao redor de 85% do fósforo e quase a totalidade do potássio (99%) são importados. Os principais países parceiros do Brasil para a compra desses insumos são diferentes para cada tipo de fertilizante. De acordo com a Comex Stat (Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio), em 2024 figuraram como principais parceiros para a aquisição de nitrogênio (N), a Rússia, a China, o Catar e os Estados Unidos. Para fontes de fósforo (P) destacaram-se o Egito, a China, o Marrocos e Israel. Já para o potássio (K) os principais parceiros fornecedores são o Canadá, a Rússia, o Uzbequistão e a Belarus.
O Plano Nacional de Fertilizantes (PNF), um conjunto de ações que busca minimizar a dependência da importação de fertilizantes, foi estabelecido em 2022. A ideia central é conjugar esforços dos setores público e privado visando a diferentes aspectos como a modernização, a reativação e a eventual expansão de plantas industriais de fertilizantes já existentes no País. O plano busca ainda a melhoria do ambiente de negócios com foco na atração de investimentos tanto para as cadeias produtivas, quanto para a distribuição de fertilizantes. Estímulo à produção de bioinsumos, uso de adubos organominerais e de remineralizadores estão entre as ações elencadas no PNF. No quesito bioinsumos o Brasil já deu mostras que poderá se tornar o maior líder global. E isso, em pouco tempo. Microrganismos fixadores de nitrogênio e mobilizadores de fósforo nos solos ajudam o Brasil a economizar bilhões de dólares anualmente.
Empresas, cooperativas e produtores estão em ritmo acelerado de planejamento da safra de verão. Segundo especialistas, o mercado de fertilizantes deve crescer da ordem de um milhão de toneladas em 2024. Dados do USDA, publicados em 10 de maio, indicam pequena retração na produção mundial de milho. Para o Brasil é estimado aumento ao redor de 4% em relação à safra 2023/24. Os americanos preveem também aumento na produção global de soja para a safra 2024/25 da ordem de 6%. As estimativas para a produção brasileira do grão elevariam o total produzido em 9,7%, chegando a 169 milhões de toneladas.
A agricultura brasileira tem potencial e capacidade de seguir alimentando um mundo que possui diversos países em insegurança alimentar. As projeções acima indicam crescimento na produção de grãos, o que significa, em última análise, maior demanda por fertilizantes, considerando-se as dosagens correntemente aplicadas de NPK.
Com terra agricultável e tecnologia, o Brasil tem tudo para assegurar incrementos ainda maiores nas próximas safras. Apesar de o problema estar ainda presente e de ser uma preocupação importante, existe a expectativa de que os esforços em andamento no país terão impacto positivo e poderão apresentar solução complementar para um setor estratégico para a economia. É sabido que não existe vara de condão. Que os conflitos existentes não tragam impactos negativos para o suprimento de fertilizantes e que as estratégias sendo implementadas surtam os efeitos esperados. A conferir.
Siga o Agro Estadão no Google News, WhatsApp, Instagram, Facebook ou assine nossa Newsletter
Newsletter
Acorde
bem informado
com as
notícias do campo
Mais lidas de Opinião
1
Agro em janeiro: 5 pontos para ficar de olho
2
2024: setores público e privado juntos para fortalecer a transição energética
3
Política Agrícola: Câmbio e China
PUBLICIDADE
Notícias Relacionadas
Opinião
Política Agrícola: Câmbio e China
Produzir proteína em larga escala implica ficar mais exposto à dependência que o câmbio e o comércio internacional têm com relação à situação geopolítica. Trump rugindo será um gato ou um leão?
José Carlos Vaz
Opinião
Agro em janeiro: 5 pontos para ficar de olho
Dólar em patamares recordes, início do novo governo Trump e efeitos do clima nas lavouras; o que esperar de janeiro para o agronegócio
Marcos Fava Neves
Opinião
2024: setores público e privado juntos para fortalecer a transição energética
Este ano de 2024 acumulou boas notícias para o setor de biocombustíveis, em especial para a indústria de biodiesel, que completa 20 anos
Francisco Turra
Opinião
O canto aflitivo dos cafezais
Em um mundo onde o café é mais do que uma mercadoria — é cultura, sustento e identidade —, ignorar os recentes efeitos climáticos no cafezais brasileiros seria um erro catastrófico
Welber Barral
Opinião
O acordo Mercosul-União Europeia e a competência do agro brasileiro
A competitividade e a sustentabilidade da agricultura brasileira assustam os produtores europeus, sobretudo franceses, que têm um setor agropecuário altamente subsidiado
Celso Moretti
Opinião
A informação a serviço do produtor
A atuação integrada é indispensável para fortalecer a representatividade dos produtores rurais, aprimorar o planejamento estratégico do agronegócio e posicionar o Brasil como líder global em sustentabilidade e produtividade
Tirso Meirelles
Opinião
Marcos Fava Neves: 5 pontos para ficar de olho no mercado agro em dezembro
Dezembro será um mês extremamente importante para acompanhar o andamento das lavouras no Brasil, de olho no mundo dos grãos e das carnes
Marcos Fava Neves
Opinião
Política Agrícola: novidades regulatórias
O Bacen deu um passo importante para dar mais segurança e transparência à matriz de recursos do sistema produtivo rural
José Carlos Vaz