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Francisco Turra

Presidente dos Conselhos de Administração da APROBIO e Consultivo da ABPA, ex-ministro da Agricultura

Esse texto trata de uma opinião do colunista e não necessariamente reflete a posição do Agro Estadão

Opinião

Que a dor gaúcha dê espaço para uma nova consciência ambiental

Todos estamos tristes e cansados de ver os efeitos desse filme de terror que não termina no nosso amado Rio Grande do Sul. Que lástima

Região Metropolitana de Porto Alegre alagada no início de maio. Foto: Lauro Alves/SECOM
Região Metropolitana de Porto Alegre alagada no início de maio. Foto: Lauro Alves/SECOM

Minha trajetória está intrinsecamente ligada ao Rio Grande do Sul e ao seu desenvolvimento. Nasci em Marau numa família de pequenos agricultores italianos. Cresci e me formei sempre interessado em defender os interesses da região e de sua população. Fui prefeito, deputado estadual e federal, até chegar a ser ministro da Agricultura. Acompanhei cada evolução da cadeia agropecuária, que tornou nosso país um exportador de alimentos para o mundo. Mais recentemente, me tornei um porta-voz da força da indústria verde de biodiesel. A combinação perfeita entre produção de alimento e energia sustentáveis. 

Não é preciso dizer então o quanto corta meu coração ver a tragédia gigantesca que feriu nossa gente, nossas escolas, hospitais e indústrias, tirando o povo de forma violenta de suas casas. O transporte foi muito afetado pelo ar, por terra e pelo mar. Centenas de pontes foram levadas pelas águas, estradas destruídas, deslizamentos perigosos e o aeroporto internacional interditado. As artérias que alimentam a economia foram interrompidas. 

Mas não foi apenas nos centros urbanos e nas vias de acesso onde os danos aconteceram, mas no interior mais remoto também. Várias culturas foram afetadas, como as plantações de soja, de milho, de trigo e de arroz. No setor de proteína animal, sofreram a avicultura, suinocultura e a cultura de bovinos.

É importante lembrar que o desastre aconteceu no final da colheita de soja, de arroz e de milho. Perdemos, numa estimativa da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater), 460 mil toneladas de soja, 200 mil toneladas de arroz e 300 mil toneladas de milho.

Nossos vales tão férteis perderam a terra mais produtiva e ela deverá ser corrigida sob pena de perder sua fertilidade. Aliás, nosso solo, em todas as latitudes, precisa ser recuperado. Só assim será possível ter de volta a capacidade produtiva normal da terra.

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Várias entidades setoriais já se posicionaram junto ao Governo Federal sobre ações de curto prazo que possam dar fôlego ao processo de recuperação. São medidas para recuperação da infraestrutura, de auxílio para a imigração interna, para a agricultura familiar e para o agronegócio, com ações fiscais e de renegociação de dívidas. O crédito deve estar disponível para reerguer indústrias paradas, o que consequentemente vai garantir a manutenção dos empregos. Empresários também devem cuidar de manter seus investimentos no estado.

Faz parte de nossas tradições gaúchas superar grandes desafios com lutas e vitórias, mas o que vem pela frente é a construção de um novo Rio Grande do Sul, a busca de uma nova normalidade mais segura e sustentável. Estou seguro de que esse ressurgimento é possível, com muita solidariedade e a união que verificamos de um país inteiro para reduzir o sofrimento do nosso povo.

Exatamente nas grandes tragédias acontecem as grandes soluções. Mas precisamos que essa dor dê espaço para uma nova consciência ambiental. As mudanças climáticas são reais e acontecem em todos os quadrantes. O custo da transição energética é muito inferior aos prejuízos que sofremos por não tomar as medidas necessárias para valorizar a produção de energias limpas. 

O futuro do aquecimento global já é presente, mas o futuro das próximas gerações ainda é uma esperança, que precisamos alimentar.

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