
Francisco Turra
Presidente dos Conselhos de Administração da APROBIO e Consultivo da ABPA, ex-ministro da Agricultura
Esse texto trata de uma opinião do colunista e não necessariamente reflete a posição do Agro Estadão
Opinião
Que a dor gaúcha dê espaço para uma nova consciência ambiental
Todos estamos tristes e cansados de ver os efeitos desse filme de terror que não termina no nosso amado Rio Grande do Sul. Que lástima
27/05/2024 - 13:30

Minha trajetória está intrinsecamente ligada ao Rio Grande do Sul e ao seu desenvolvimento. Nasci em Marau numa família de pequenos agricultores italianos. Cresci e me formei sempre interessado em defender os interesses da região e de sua população. Fui prefeito, deputado estadual e federal, até chegar a ser ministro da Agricultura. Acompanhei cada evolução da cadeia agropecuária, que tornou nosso país um exportador de alimentos para o mundo. Mais recentemente, me tornei um porta-voz da força da indústria verde de biodiesel. A combinação perfeita entre produção de alimento e energia sustentáveis.
Não é preciso dizer então o quanto corta meu coração ver a tragédia gigantesca que feriu nossa gente, nossas escolas, hospitais e indústrias, tirando o povo de forma violenta de suas casas. O transporte foi muito afetado pelo ar, por terra e pelo mar. Centenas de pontes foram levadas pelas águas, estradas destruídas, deslizamentos perigosos e o aeroporto internacional interditado. As artérias que alimentam a economia foram interrompidas.
Mas não foi apenas nos centros urbanos e nas vias de acesso onde os danos aconteceram, mas no interior mais remoto também. Várias culturas foram afetadas, como as plantações de soja, de milho, de trigo e de arroz. No setor de proteína animal, sofreram a avicultura, suinocultura e a cultura de bovinos.
É importante lembrar que o desastre aconteceu no final da colheita de soja, de arroz e de milho. Perdemos, numa estimativa da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater), 460 mil toneladas de soja, 200 mil toneladas de arroz e 300 mil toneladas de milho.
Nossos vales tão férteis perderam a terra mais produtiva e ela deverá ser corrigida sob pena de perder sua fertilidade. Aliás, nosso solo, em todas as latitudes, precisa ser recuperado. Só assim será possível ter de volta a capacidade produtiva normal da terra.
Várias entidades setoriais já se posicionaram junto ao Governo Federal sobre ações de curto prazo que possam dar fôlego ao processo de recuperação. São medidas para recuperação da infraestrutura, de auxílio para a imigração interna, para a agricultura familiar e para o agronegócio, com ações fiscais e de renegociação de dívidas. O crédito deve estar disponível para reerguer indústrias paradas, o que consequentemente vai garantir a manutenção dos empregos. Empresários também devem cuidar de manter seus investimentos no estado.
Faz parte de nossas tradições gaúchas superar grandes desafios com lutas e vitórias, mas o que vem pela frente é a construção de um novo Rio Grande do Sul, a busca de uma nova normalidade mais segura e sustentável. Estou seguro de que esse ressurgimento é possível, com muita solidariedade e a união que verificamos de um país inteiro para reduzir o sofrimento do nosso povo.
Exatamente nas grandes tragédias acontecem as grandes soluções. Mas precisamos que essa dor dê espaço para uma nova consciência ambiental. As mudanças climáticas são reais e acontecem em todos os quadrantes. O custo da transição energética é muito inferior aos prejuízos que sofremos por não tomar as medidas necessárias para valorizar a produção de energias limpas.
O futuro do aquecimento global já é presente, mas o futuro das próximas gerações ainda é uma esperança, que precisamos alimentar.
Siga o Agro Estadão no Google News, WhatsApp, Instagram, Facebook ou assine nossa Newsletter

Newsletter
Acorde
bem informado
com as
notícias do campo
Mais lidas de Opinião
1
O Agro Brasileiro e a Aliança Global contra a Fome e a Pobreza
2
Por que a reciprocidade trumpista não funciona: o caso do etanol
3
Rota Bioceânica: Oportunidade Histórica para o Agronegócio Brasileiro
4
Política Agrícola: se não puder ajudar não atrapalhe
5
Novidades na pesquisa agropecuária e um problema antigo
6
A norma antidesmatamento européia (EUDR) e o Agronegócio Brasileiro

PUBLICIDADE
Notícias Relacionadas

Opinião
Vamos seguir sem deixar nenhuma mulher para trás
No Dia Internacional da Mulher, não venho fazer homenagens. Venho falar sobre as dores que, nesta data, muitos jogam debaixo do tapete

Teresa Vendramini

Opinião
A norma antidesmatamento européia (EUDR) e o Agronegócio Brasileiro
A preocupação global com o desmatamento e suas consequências ambientais têm gerado intensos debates nas últimas décadas, especialmente em relação à Amazônia, um dos maiores patrimônios naturais do planeta

Welber Barral

Opinião
O Agro Brasileiro e a Aliança Global contra a Fome e a Pobreza
Como um dos maiores produtores e exportadores mundiais de alimentos, o Brasil tem responsabilidade central no combate à insegurança alimentar, contribuindo com a produção de grãos, carnes, frutas e outros produtos essenciais

Tirso Meirelles

Opinião
Por que a reciprocidade trumpista não funciona: o caso do etanol
Em declarações recentes, o ex-presidente Donald Trump ressuscitou o conceito de “reciprocidade” nas relações comerciais, afirmando que “se eles nos cobram, nós cobramos deles”

Welber Barral
Opinião
Política Agrícola: se não puder ajudar não atrapalhe
Suspender financiamentos para investimento, em geral, e para custeio para médio e grande produtor, a taxas subsidiadas, não seria problema, mas sim a elevação do dólar, da taxa de juros, do custo dos insumos, que não se resolve via medida provisória

José Carlos Vaz
Opinião
Rota Bioceânica: Oportunidade Histórica para o Agronegócio Brasileiro
O mercado asiático é um dos principais parceiros comerciais do Brasil e isso não é novidade para ninguém

Teresa Vendramini
Opinião
Marcos Fava Neves: 5 pontos para ficar de olho no mercado agro em fevereiro
No segundo mês de 2025 será importante acompanhar as safras brasileira e argentina, além do cenário econômico e político mundial

Marcos Fava Neves
Opinião
O Brasil e seu NDC: ambição verde versus realidade
Não serão poucos os efeitos internacionais dos impactantes atos executivos assinados por Trump ao assumir novamente a presidência

Welber Barral