PUBLICIDADE
Nome Colunistas

Welber Barral

Conselheiro da Fiesp, presidente do IBCI e ex-secretário de Comércio Exterior do Brasil

Esse texto trata de uma opinião do colunista e não necessariamente reflete a posição do Agro Estadão

Opinião

O Brasil e seu NDC: ambição verde versus realidade 

Não serão poucos os efeitos internacionais dos impactantes atos executivos assinados por Trump ao assumir novamente a presidência

04/02/2025 - 08:00

Foto: Adobe Stock
Foto: Adobe Stock

Entre atos recentes de Donald Trump, estão a determinação de – pela segunda vez – retirar os EUA do Acordo de Paris, que materializa compromissos internacionais para a redução de emissões. Compromissos óbvios para evitar o apocalipse climático.

Mas Trump crê que mudanças climáticas não existem. E excluiu os EUA de um acordo que abrange praticamente todos os países do mundo. Junta-se, ironicamente, a um grupo restrito de negacionistas que inclui Irã, Líbia e Iêmen.

CONTEÚDO PATROCINADO

Uma consequência temida do ato trumpista é o arrefecimento dos compromissos de outros países, num momento em que a temperatura global já rompeu o limite de 1,5 graus. Será um desafio gigante, para a diplomacia brasileira, alcançar compromissos comuns na COP de Belém, que permitam avanços no Acordo de Paris.

Isto não implica, entretanto, que o Brasil possa assumir obrigações irrealizáveis, que teriam o efeito contrário de desacreditar os esforços de um país que pretende ser protagonista na agenda ambiental. E, neste sentido, precisamos falar da NDC do Brasil.

A Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC, em inglês) é um plano de ação climática que cada país signatário do Acordo de Paris submete à Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança Climática (UNFCCC). Esse documento detalha os compromissos e metas específicos de cada país para reduzir suas emissões de gases de efeito estufa e contribuir para o objetivo global de limitar o aquecimento do planeta a abaixo de 2°C, em relação aos níveis pré-industriais. As NDCs são atualizadas a cada cinco anos, devendo representar uma progressão em relação às metas anteriores, e são consideradas a espinha dorsal do Acordo de Paris, pois traduzem os esforços coletivos dos países para combater as mudanças climáticas.

PUBLICIDADE

No caso do Brasil, a NDC do Brasil foi atualizada em setembro de 2023, retomando o nível de ambição apresentado em 2015 no Acordo de Paris. O país se comprometeu a reduzir suas emissões de gases de efeito estufa em 48% até 2025 e em 53% até 2030, em relação aos níveis de 2005. Em termos absolutos, isso significa limitar as emissões a um máximo de 1,34 GtCO2e em 2025 e 1,21 GtCO2e em 2030. Além dessas metas de curto prazo, o Brasil mantém o objetivo de longo prazo de alcançar a neutralidade climática até 2050. O governo também se comprometeu a apresentar um novo ciclo de NDC para 2035, que será mais ambicioso e efetivo, alinhado com a chamada “Missão 1,5” que o país lidera junto com Emirados Árabes Unidos e Azerbaijão. Adicionalmente, a NDC brasileira reforça o compromisso político de zerar o desmatamento até 2030, uma medida crucial considerando que quase metade das emissões do país provém da destruição da vegetação nativa.

Pois bem. Ocorre que os países signatários do Acordo de Paris têm até fevereiro de 2025 para apresentar suas novas NDCs. Essa nova rodada de NDCs é crucial para a ação climática internacional, pois estabelecerá metas atualizadas de redução de emissões e outras medidas que os países se comprometem a implementar. O Brasil, em sua busca por protagonismo, também prometeu estar entre os primeiros países a enviar suas NDCs.

Muito da boa intencionalidade do Brasil pode esbarrar na barreira da realidade. Como exemplo, tome-se outro compromisso, relacionado ao metano: em 2021, na COP26 em Glasgow, o Brasil assinou o acordo voluntário para reduzir as emissões de metano em 30% até 2030. Em Baku, o Brasil assinou a Declaração de Redução de Metano proveniente de resíduos orgânicos, comprometendo-se a adotar medidas mais rigorosas para enfrentar o problema. 

Mas a verdade é que o Brasil não sabe como alcançar estes compromissos. Atualmente, o Brasil é o quinto maior emissor de metano no mundo (21,1 Mt CH4 emitidas em 2023), sendo que a pecuária é responsável pela maior parte dessas emissões (62% do total).

Apesar disso, ambientalistas criticam o que seria a falta de ambição do Brasil, tachando como insuficiente a meta de redução de emissões entre 59% e 67% até 2035. Meta, aliás, muito superior a de muitos países desenvolvidos.

Antes de assumir compromissos internacionais, é necessário que o governo brasileiro faça um exercício quanto à sua viabilidade. Primeiro, porque a indústria brasileira já enfrenta desafios de competitividade, e a NDC não aborda adequadamente como conciliar as metas climáticas com o crescimento econômico. Não se detalhou como o Brasil planeja superar os desafios tecnológicos necessários para alcançar suas metas, com uma aparente confiança excessiva em soluções tecnológicas futuras, mas ainda teóricas. Ainda, a saída dos EUA complica o financiamento ambiental, e falta ao Brasil detalhamento sobre como serão mobilizados os recursos necessários para implementar as medidas de mitigação e adaptação. Por fim, não há mecanismos claros de participação e engajamento da sociedade civil, setor privado e comunidades locais na implementação das metas.

A urgência climática brada todos os dias nos noticiários, com tragédias quotidianas em todas as partes do mundo. Não se nega este fato. Entretanto, apenas boas intenções são insuficientes para uma estruturação ordenada e exequível dos compromissos internacionais pelo Brasil.

Siga o Agro Estadão no WhatsApp, Instagram, Facebook, X, Telegram ou assine nossa Newsletter

PUBLICIDADE
Agro Estadão Newsletter
Agro Estadão Newsletter

Newsletter

Acorde bem informado
com as notícias do campo

Agro Clima
Agro Estadão Clima Agro Estadão Clima

Mapeamento completo das
condições do clima
para a sua região

Agro Estadão Clima
VER INDICADORES DO CLIMA

PUBLICIDADE

Notícias Relacionadas

Swap EUA-Argentina como estratégia  geopolítica

Opinião

Swap EUA-Argentina como estratégia geopolítica

Apoio de Trump ao governo de Milei deixa claro que a ajuda é condicional e persiste enquanto houver convergência ideológica

Welber Barral loading="lazy"
Opinião:

Welber Barral

O campo pede respeito

Opinião

O campo pede respeito

Aumento de impostos e ineficiência federal ameaçam competitividade e empregos rurais

Tirso Meirelles loading="lazy"
Opinião:

Tirso Meirelles

A maturidade do biodiesel nacional na COP 30

Opinião

A maturidade do biodiesel nacional na COP 30

Com impacto direto no agronegócio, biodiesel se consolidou como uma solução mais efetiva de curto prazo para a descarbonização

Francisco Turra loading="lazy"
Opinião:

Francisco Turra

Marcos Fava Neves: 5 pontos para ficar de olho no mercado agro em outubro

Opinião

Marcos Fava Neves: 5 pontos para ficar de olho no mercado agro em outubro

Início de uma nova safra exige atenção dos produtores ao clima, ao dólar, aos EUA e às oportunidades em novos mercados

Marcos Fava Neves loading="lazy"
Opinião:

Marcos Fava Neves

PUBLICIDADE

Opinião

45 anos de contribuição do Brasil para uma agricultura sustentável no Cone Sul

Com a tecnologia de Fixação Biológica de Nitrogênio na soja, o país economiza cerca de U$ 20 bilhões por ano em fertilizantes nitrogenados

Opinião

Política Agrícola e a pedra filosofal

Seguro é tão crédito quanto financiamento, “barter” ou usar recursos próprios. Crédito decorre de confiança baseada em evidências.

José Carlos Vaz loading="lazy"
Opinião:

José Carlos Vaz

Opinião

A vez do EFTA

Com barreiras tarifárias dos EUA e exigências da União Europeia, Mercosul mostra que ainda pode alcançar tratados modernos de comércio

Welber Barral loading="lazy"
Opinião:

Welber Barral

Opinião

Geopolítica da carne

México elevou em 198% as compras de carne bovina em 2025 e pode habilitar 14 novos frigoríficos do Brasil

Teresa Vendramini loading="lazy"
Opinião:

Teresa Vendramini

Logo Agro Estadão
Bom Dia Agro
X
Carregando...

Seu e-mail foi cadastrado!

Agora complete as informações para personalizar sua newsletter e recebê-la também em seu Whatsapp

Sua função
Tipo de cultura

Bem-vindo (a) ao Bom dia, Agro!

Tudo certo. Estamos preparados para oferecer uma experiência ainda mais personalizada e relevante para você.

Mantenha-se conectado!

Fique atento ao seu e-mail e Whatsapp para atualizações. Estamos ansiosos para ser parte do seu dia a dia no campo!

Enviamos um e-mail de boas-vindas para você! Se não o encontrar na sua caixa de entrada, por favor, verifique a pasta de Spam (lixo eletrônico) e marque a mensagem como ‘Não é spam” para garantir que você receberá os próximos e-mails corretamente.