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Agropolítica

“São problemas do bem”, avalia Fávaro sobre elevação dos preços dos alimentos

Governo enxerga que solução está em incentivo à produção por meio do Plano Safra; especialista pondera que Executivo deve estar atento às contas públicas para diminuir impacto dos juros

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Daumildo Júnior | Brasília | daumildo.junior@estadao.com

25/02/2025 - 08:00

Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil
Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

Arroz, carne bovina, café, óleo de soja e, por último, ovo. Essa poderia ser uma lista de compras de supermercado, mas são itens que preocupam ou já preocuparam o governo federal. Isso porque os preços dos alimentos estão em discussão desde o ano passado no alto escalão da Esplanada dos Ministérios, em Brasília (DF). Na análise do ministro da Agricultura e Pecuária, Carlos Fávaro, essa tendência de alta em alguns produtos é causada pelo que ele considera “problemas do bem”. 

Os ovos são a inquietação mais recente da lista. Conforme o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), nos últimos dois anos, esse é o maior patamar no preço do ovo. A nível de comparação, em maio de 2023 — até então, o mês mais caro desse recorte temporal — uma caixa de ovo vermelho para retirar em Santa Maria de Jetibá (ES) custava R$ 232,51. Na média de fevereiro de 2025, até o momento, a mesma caixa vale R$ 244,67, sendo que em janeiro deste ano a média foi de R$ 169,75.  

De acordo com Fávaro, a situação dos ovos reflete o aumento da renda da população e o crescimento dos empregos no Brasil. “Primeiro diagnóstico, do bem, é que o consumo cresceu, o consumo per capita. Isso é um problema do bem porque a renda da população brasileira cresceu no governo do presidente Lula. […] Ovo deixou de ser um alimento de substituição. Hoje, da classe mais humilde até a classe mais alta, se consome ovo, porque a renda cresceu”, comentou em entrevista exclusiva ao Agro Estadão. 

Outro contratempo considerado positivo pelo ministro é a confiança de outros países na qualidade dos produtos brasileiros. Ele cita os casos de gripe aviária nos Estados Unidos e outras questões sanitárias, como a febre aftosa na Alemanha, para justificar o ponto de vista. “O Brasil não tem febre aftosa, não tem gripe aviária, passou a ser a segurança, o supermercado do mundo. A gente tem que estar preparado para isso, porque isso gera emprego”, complementou.

A corrida dos estoques

Durante a entrevista, Fávaro revelou que esteve em contato na semana passada com dois empresários responsáveis por cerca de 15% da produção de ovos no Brasil. Um deles disse ao ministro que a busca maior pela proteína também é fruto de uma corrida para ter estoques. O temor de altas mais expressivas nos preços tem levado atacadistas a aumentarem as compras. 

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“Quando cria o alarde, quem não precisa estocar corre para estocar, com medo do preço subir, daí isso faz subir. Foi um diagnóstico que eu tive de um empresário de ovo. ‘Oh tá subindo, gripe aviária nos Estados Unidos, vai exportar mais’. Aí o pessoal, que nem precisa comprar tanto, vai lá e compra ovos. O atacadista compra um pouco mais para ele ter na hora de vender”, exemplificou Fávaro. 

Na semana passada, o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, chamou de “absurdo” os patamares alcançados pelo ovo e voltou a sinalizar que as exportações têm relação. “Nós queremos discutir com os empresários que eles exportem, mas não pode faltar para o povo brasileiro”, disse Lula em entrevista à rádio Tupi FM, do Rio de Janeiro. 

Sem “pirotecnia” e de olho em um Plano Safra “robusto”

O chefe da Agricultura ressaltou que o governo pretende adotar manobras “sem nenhum tipo de pirotecnia”. A aposta está no Plano Safra, especificamente no direcionamento da verba na produção de alimentos, que têm subido de preço. 

“Um Plano Safra direcionado para aquilo que vai faltar ou que pode ter algum problema. Já provamos que pode dar certo. Fizemos isso no arroz. Então, eu acho que são problemas do bem que a gente consegue estar monitorando acompanhando com todo o governo”, apontou. 

Quem também falou da medida foi o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, em entrevista na última sexta-feira, 21, ao ICL Notícias. “A primeira providência [para baratear os preços] é fazer Planos Safras cada vez mais robustos e melhores. O governo Lula vai para o seu terceiro ano já preparando um terceiro grande Plano Safra. Nós batemos dois recordes, em 2023 e 2024, e queremos fazer o mesmo em 2025”, enfatizou.

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Contas públicas afetam juros e Agro brasileiro

O pesquisador do Insper Agro Global, Leandro Gilio, vê a iniciativa do Plano Safra direcionado aos problemas estruturais como “interessante”, já que outras sugestões ventiladas, como redução de tarifas de importação, soam mais como “cosméticas” e não surtem tanto efeito. No entanto, ele pondera que os resultados só devem ser observados no final de 2025 ou no próximo ano, já que se trata do Plano Safra 25/26.

“A gente está em um momento com juros em um patamar elevado. Então, se a gente pensar nesse setor que é bastante dependente de crédito para ter um custeio à produção, principalmente, o pequeno produtor, as medidas de estímulo à produção são positivas. É claro que isso não tem resultado do dia para a noite”, analisou Gilio ao Agro Estadão.    

O pesquisador também afirma que o governo precisa fazer a sua parte, pois o efeito do juros pode causar uma bola de neve. “Tem uma pressão na inflação que não vem só dos alimentos. O governo vem tendo problemas com o gasto público e isso acaba se vinculando à inflação, que eleva os juros, que impactam no Agro devido à necessidade do crédito. Juros mais elevados e mais custo de produção, que repassam para os alimentos”, explicou.

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