Agropolítica
Luis Rua é nomeado secretário de Relações Internacionais
Saída de Roberto Perosa acontece três dias após substituir Fávaro no Mapa
Fernanda Farias | Porto Alegre | fernanda.farias@estadao.com e Daumildo Júnior | Brasília | daumildo.junior@estadao.com | Atualizada 04/10/2024 às 08h50
03/10/2024 - 14:02

O governo publicou, nesta sexta-feira, 04, a nomeação de Luis Rua como novo secretário de Comércio e Relações Internacionais do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa). Rua era diretor de Mercados da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) e assume o cargo no lugar de Roberto Perosa, que confirmou a saída do ministério na última quinta-feira, 03.
A exoneração, a pedido, de Perosa também foi publicada no mesmo ato no Diário Oficial da União. A saída do ex-secretário teve um tom de surpresa, já que Perosa chegou a confirmar que iria participar da SIAL Paris 2024, que acontece entre os dias 19 e 23 de outubro na França. Além disso, havia uma programação para fazer visitas a produtores de borracha, confinamento de gado, laranja e limão. A reportagem apurou que Perosa irá se dedicar aos negócios e atuar na iniciativa privada.
Uma semana antes de deixar o cargo, Perosa ocupou a cadeira de ministro
No final de setembro, Perosa foi o escolhido pelo ministro Carlos Fávaro para substituí-lo durante uma semana. Segundo ele, foi uma “experiência muito intensa”, apesar da facilidade de interlocução que já tinha com as outras secretarias da pasta.
“Liguei para o ministro Fávaro e disse: olha, volta logo”, confidenciou ao Agro Estadão – entre risos – durante a substituição. “Você tem que mergulhar em todos os temas. A vida do ministro não é fácil, é a conclusão a que eu cheguei”, pontuou.
Para Perosa, a oportunidade demonstrou a confiança do ministro no seu trabalho, já que foi a primeira vez que um secretário de Comércio e Relações Internacionais foi designado para a função. “Mostra a confiança e é fruto desse bom trabalho”, concluiu à reportagem.

Ampliação de negócios com a China continua, apesar da saída
O saldo que Perosa deixa é de 246 novos mercados abertos em 60 destinos após 21 meses à frente da secretaria, além de negociações avançadas com a China para mais 15 aberturas, que devem ser oficializadas em novembro, durante a visita do presidente chinês Xi Jinping ao Brasil.
“Nós vivemos o melhor momento de negociações com a China. A expectativa é a liberação de uvas frescas, sorgo, gergelim e DDG (grãos de destilaria). Além disso, a China está olhando com muito bons olhos para utilização do etanol, que hoje é 1,5% no blend da gasolina [no Brasil, é 27%]. Então tem grandes possibilidades, além da revisão de protocolos”, conta Perosa ao Agro Estadão.
Atualmente a China é o destino de 30% das exportações brasileiras. De janeiro a agosto deste ano, os embarques para o país asiático somaram US$ 69,2 bilhões, enquanto em todo o ano passado, alcançaram R$ 104,3 bilhões.
Via de mão dupla
O ex-secretário também adiantou que o Brasil pode abrir mercados para a China e outros países. “Estamos abertos para pescados da China e abrindo [também] para o pescado brasileiro acessar a China. Estamos negociando com o Vietnã para abrir [mercado de] camarão do vietnamita, para que a gente possa acessar no Vietnã também”, afirma Perosa.
Em dois anos, ex-secretário percorreu 40 países
Roberto Perosa passou os últimos dois anos dialogando com autoridades internacionais, totalizando 40 países. Ao Agro Estadão, ele relembra dois momentos que considera mais importantes para o agronegócio brasileiro.
“A abertura de bovinos e suínos para o México foi um marco muito grande, porque fazia 20 anos que estávamos negociando. As questões técnicas já tinham sido acertadas há muito tempo. Faltava a questão política”, pontua.
Exportar algodão para o Egito também é visto como “emblemático” por Perosa. “Algodão para o Egito foi emblemático. Nós ouvimos a vida toda que o algodão do Egito é o melhor. Quando a gente é autorizado a exportar algodão para o Egito, a gente põe [o nosso algodão] no mesmo patamar. Ano passado abriu e esse é o fruto disso, que este ano somos o maior exportador de algodão do mundo. Veja o impacto que esses simbolismos trazem para toda cadeia produtiva aqui no Brasil”, enfatiza.
No entanto, o executivo afirma que a situação de maior tensão foi logo na chegada à secretaria de Comércio e Relações Internacionais, quando negociou a retomada das exportações de carne bovina para a China, após registro de vaca louca no Brasil.
“Ficamos 29 dias sem exportar. Na última vez que tinha acontecido um evento desses, a China tinha fechado mais de 100 dias. Então teve muito diálogo internacional, muitas O madrugadas negociando com os chineses, mostrando para os chineses a sanidade”, completa Perosa.
Negociações em andamento
Pouco antes de deixar o cargo, Roberto Perosa comenta que a abertura de novos mercados depende das demandas do setor produtivo. Como exemplo, ele cita os Grãos de Destilaria (DDG) – recentemente, o Brasil abriu diversos mercados para o produto.
“Como estamos incrementando a produção de etanol de milho, e o subproduto do etanol de milho é o DDG, a iniciativa privada pediu muito para abrir. E aí estabelecemos o foco de abrir novos mercados de DDG”, comenta.
O mesmo vale para o setor de frutas, que tem baixa participação no volume das exportações brasileiras, mas vem crescendo. Em 2023, o Brasil exportou 1 milhão de toneladas, segundo dados da ComexStat. Para o ex-secretário, a situação é resultado da falta de incentivo por parte do governo, mas também da organização do setor.
“Não é possivel que o Brasil, sendo o terceiro maior produtor de frutas, seja só o 24º exportador. Grandes mercados devem se abrir para a fruticultura, e a gente imagina que isso incentivará o produtor de frutas a mirar a exportação, porque hoje ele está muito voltado para o mercado interno. Falta mais organização maior do setor, e o apoio que precisa ser dado para que possam ter ainda mais incentivos para exportar”, avalia.
Roberto Perosa avalia que o encontro do G20, que será realizado em novembro, no Rio de Janeiro, será importante para ampliar a participação brasileira no exterior. Ele comenta que a reunião ministerial do G20 em Mato Grosso no mês passado, abriu o caminho para tanto.
“Em uma semana, fizemos mais de 30 reuniões bilaterais – eu e o ministro Fávaro – que ele levaria dois anos para fazer. A gente faz uma pressão grande nessas reuniões para que as coisas aconteçam. Então o G20 vai ser um grande impulsionador de aberturas de mercados”, comenta.
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