Agropolítica
FPA busca caminhos para colocar Plano Safra no começo do ano
Sugestão deve ser discutida neste segundo semestre no Congresso Nacional, com a intenção de que vigore a partir de 2026
Daumildo Júnior | Brasília | daumildo.junior@estadao.com
01/08/2025 - 08:00

A ideia de trazer o anúncio do Plano Safra para o começo do ano é uma sugestão que vem ganhando força e pode ser tratada neste segundo semestre no Congresso Nacional. O presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), deputado federal Pedro Lupion (PP-PR), disse que a bancada está buscando a melhor forma de fazer, com a intenção de que seja possível já para 2026.
“Sobre o crédito rural, é aquela iniciativa de nós alterarmos a periodicidade do Plano Safra e criar uma previsibilidade de uma nova lei do Agro. Nós estamos trabalhando pela Câmara muito fortemente para, dentro de uma das Medidas Provisórias ou de iniciativa do governo, a gente conseguir pautar isso”, afirmou o deputado em entrevista exclusiva ao Agro Estadão.
Atualmente, a política de crédito rural é anunciada entre junho e julho de cada ano. A vinculação do lançamento é com relação ao ano agrícola, que começa em 1º de julho e termina em 30 de junho do ano seguinte. Porém, a FPA entende que esse formato não tem trazido benefícios para os diferentes agentes da cadeia agropecuária, já que o anúncio do Plano Safra ocorre dias antes ou mesmo depois do começo do ano agrícola, o que prejudica a previsibilidade e planejamento dos produtores rurais.
Como explica Lupion, ainda não está definida a forma como essa vinculação do lançamento do Plano Safra ao ano fiscal será tramitada no Congresso. Isso porque, dependendo do dispositivo e de como é feito, há o risco de o tema esbarrar no chamado vício de iniciativa — quando uma matéria é proposta por uma autoridade que não tem competência legal para isso.
“O caminho ideal seria a gente mexer isso no Manual de Crédito Rural (MCR). Para isso, a gente precisaria ter uma iniciativa legislativa do Executivo para vencer o vício de iniciativa”, pontuou. Por isso, o caminho cogitado pelos técnicos da FPA é embarcar o tema em algum projeto do Executivo, seja MP ou mesmo um projeto de lei no qual o autor tenha sido o governo federal, que é quem tem a prerrogativa de alterar o tema.
“A gente está vendo se vai mexer na LDO [Lei de Diretrizes Orçamentárias], se vai mexer no PLOA [Projeto de Lei Orçamentária Anual], se vai mexer pela Comissão de Orçamento, por uma medida provisória ou algum projeto de lei em urgência do Executivo”, destacou o chefe da bancada ruralista. Quanto ao prazo, ele acrescentou: “A gente tem ainda a anterioridade, ou seja, tem que ser até dezembro para poder valer para o ano que vem”.
Seguro Rural: “Não vamos ficar esperando o governo”
Outro ponto-chave da frente é o Seguro Rural. Após o anúncio de um bloqueio de mais de 40% no orçamento do Programa de Subvenção ao Prêmio do Seguro Rural (PSR), a bancada não poupou críticas ao governo. Recentemente, o ministro da Agricultura e Pecuária, Carlos Fávaro, externou que a pasta pretende apresentar uma reformulação do Seguro Rural até setembro. Mas o presidente da FPA não acredita que o assunto caminhe como deve ser.
“Não dá para falar em seguro rural, principalmente com o governo que, infelizmente, este ano não apresentou nenhum real de seguro nessa safra. Então, é impressionante que haja esse tipo de discussão dentro do governo quando a gente vê que não há essa prioridade para um tema tão importante”, comentou Lupion.
A aposta da bancada é um projeto de lei de autoria da senadora Tereza Cristina (PP-MS) e relatoria do senador Jayme Campos (União Brasil-MT). A proposta está com a tramitação parada e prevê uma efetivação de um fundo para bancar riscos agropecuários.
“Há um cuidado por parte do Senado de não tramitar nada goela abaixo para ter os votos necessários e o apoio necessário para que haja a tramitação possível desse projeto. Mas ele está muito maduro, ele está muito bem feito, tem iniciativas importantes baseadas em locais que funcionam e funcionam muito bem”, destacou.
Fávaro já chegou a manifestar apoio a pauta em tramitação, mas Lupion sinaliza que não haverá espera do governo. “Não vamos ficar esperando o governo. Eu acho que a tramitação vai muito mais da nossa força de vontade, do nosso trabalho dentro do Senado e da Câmara, do que efetivamente esperar o que o governo vai fazer. Agora, se, nesse meio tempo, o governo enviar alguma iniciativa que seja positiva, a gente adere também, não tem problema nenhum”, disse.
Tributação em LCAs não deve prosperar
No primeiro semestre, uma das pautas que movimentaram o embate entre Legislativo e Executivo foram os decretos relativos ao Imposto sobre Operações Financeiras (IOF). Entre idas e vindas, a decisão final ficou a cargo do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, que determinou que parte do aumento do imposto seja mantido. Lupion criticou o encaminhamento, mas disse que o assunto deve ser tratado pelos presidentes das Casas Legislativas.
Porém, no mesmo palco do IOF, está uma medida provisória para começar a tributar as Letras de Crédito do Agronegócio (LCAs), atualmente isentas. Essa e outras mudanças na tributação de investimentos serviriam como uma alternativa para cancelar o aumento do IOF, na sugestão do governo.
No entanto, a iniciativa não deve ter vida fácil no Congresso, já que o presidente da FPA, maior bancada, não pretende aprovar um aumento de impostos. “Nós não vamos aceitar de jeito nenhum. Isso a gente já deixou muito claro, e os votos necessários para suspender a gente tem. Então, nós vamos trabalhar o máximo possível, e o governo sabe disso, o ministro Haddad sabe disso. Nós não temos como aceitar e não vamos aceitar de jeito nenhum”, enfatizou Lupion.
Newsletter
Acorde
bem informado
com as
notícias do campo
Mais lidas de Agropolítica
1
Banco do Brasil diz que produtores em recuperação judicial não terão mais crédito; FPA reage
2
Estados, municípios ou Ibama: quem deve fazer o controle dos javalis no Brasil?
3
Lista de espécies invasoras do MMA pode incluir eucalipto, pínus, jaca e manga
4
Crédito rural de R$ 12 bi segue indisponível nas instituições financeiras
5
Entidades reagem à inclusão da tilápia como espécie invasora pelo MMA
6
Mapa confirma que 'não há perspectiva' de liberação de orçamento do Seguro Rural
PUBLICIDADE
Notícias Relacionadas
Agropolítica
Brasil abandona acordo por transporte pesado elétrico um dia após assinatura
Após repercussão negativa, Ministério dos Transportes deixou coalizão global e reafirmou meta de quadruplicar biocombustíveis até 2035
Agropolítica
Governo amplia prioridades de medidas antitarifaço do Plano Brasil Soberano
Linhas especiais de financiamento passam a contemplar empresas com 1% ou mais do faturamento afetado pelas tarifas dos EUA
Agropolítica
Governo discute tornar Seguro Rural despesa obrigatória, mas depende de convencimento interno
Expectativa do Mapa é que a medida, entregue a Fernando Haddad, ganhe apoio em outros ministérios e no Congresso Nacional
Agropolítica
Brasil amplia exportações para Emirados Árabes e Líbano
Produtos de origem animal e vegetal ampliam presença brasileira no exterior após novos acordos
Agropolítica
Mapa fecha duas fábricas clandestinas de bebidas alcoólicas em TO
Operação em parceria com a Polícia Civil, a Perícia Técnica e a Vigilância Sanitária recolheu 11 mil litros de destilados impróprios para consumo
Agropolítica
Governo libera contratação de empresas para auxiliar inspeção em abates
Decreto faz parte da regulamentação da Lei do Autocontrole, que é discutida há meses; Anffa Sindical criticou a medida
Agropolítica
Conab vai destinar R$ 67 milhões para escoar trigo do RS e PR
Medida deve facilitar a retirada de 250 mil toneladas de trigo dos mercados locais desses Estados
Agropolítica
Conab vai adquirir de 137 mil t de arroz para formar estoques
O leilão atenderá Estados onde os preços do cereal estão abaixo do mínimo estabelecido com o limite de venda de 189 toneladas por produtor