Agropolítica
“Economia não pode ser afetada por questões políticas”, diz CNA sobre taxação de Trump
Em 2024, Brasil exportou mais de US$ 12 bilhões em produtos agropecuários para os EUA; Entidades do setor defendem diplomacia nas negociações

Redação Agro Estadão | Atualizada às 18h33
10/07/2025 - 15:00

A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) se manifestou sobre a tarifa de 50% anunciada nesta quarta-feira, 9, pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. A entidade do setor agropecuário disse que “a medida não se justifica pelo histórico das relações comerciais entre os dois países”. Além disso, aponta que a relação econômica entre as nações não pode ter impacto político.
“Os Estados Unidos e o Brasil em 200 anos de relações sempre estiveram do mesmo lado e não há qualquer razão para que essa situação se modifique. Os produtores rurais brasileiros consideram que essas questões só podem ser resolvidas em benefício comum por meio do diálogo incessante e sem condições entre os governos e seus setores privados. A economia e o comércio não podem ser injustamente afetados por questões de natureza política”, indica a CNA.
A confederação faz referência à carta de Trump, que cita apontamentos políticos para impor as tarifas de 50%. A entidade ainda defende a diplomacia para que haja uma resolução do impasse econômico.
“Nossa esperança é que os canais diplomáticos sejam intensamente acionados para que a razão e o pragmatismo se imponham para benefício de todos, pois este é o único caminho que serve ao entendimento e à prosperidade”, afirma.
Em linha com outras associações do agro, a CNA também pontua que “medidas desta natureza prejudicam as economias dos dois países”. De acordo com números da plataforma Agrostat do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), as exportações de produtos agropecuários para o país norte-americano superaram os US$ 12 bilhões no ano passado.
O destaque são produtos como café, celulose, carne bovina, suco de laranja e açúcar. Outras entidades já manifestaram preocupação sobre o tema e afirmaram que os dois países tendem a perder com a tarifa. Isso porque alguns produtos podem encarecer para o consumidor americano.
Setor da cana-de-açúcar teme impactos
Nesta quinta-feira, 10, outras entidades do setor se manifestaram sobre o tema. Entre elas, instituições que representam o setor da cana-de-açúcar. Na avaliação do presidente da Federação Dos Plantadores de Cana do Brasil (Feplana), Paulo Leal, a taxação imposta por Trump é uma retaliação política e, se concretizada, vai impactar negativamente vários setores produtivos. “O Brasil está levando um puxão de orelha” e que a medida “é um feito dos Estados Unidos muito duro não só sob o governo, mas também sob o povo brasileiro”, disse.
A Organização de Associações de Produtores de Cana do Brasil (Orplana) também se manifestou, afirmando que teme a possibilidade de que os avanços no setor de biocombustíveis sejam freados e de que isso gere impactos ambientais e econômicos negativos. A entidade defende o diálogo diplomático como caminho para a questão, “evitando retrocessos comerciais e ambientais”.
O CEO da entidade, José Guilherme Nogueira, disse que a medida também preocupa pelo potencial de impacto nas exportações brasileiras e na competitividade do etanol nacional nos EUA. “Trata-se de uma tarifa que pode afetar diretamente o setor sucroenergético, comprometendo o equilíbrio comercial entre os dois países e penalizando, inclusive, o consumidor norte-americano, que poderá arcar com preços mais altos no combustível e no açúcar”, explicou, por meio de comunicado.
“Será necessário um acordo muito bem coordenado”, diz SRB
Em nota, a Sociedade Rural Brasileira (SRB) afirmou que a imposição de barreiras comerciais, sem base técnica ou diálogo prévio, “compromete não apenas a previsibilidade dos fluxos comerciais, mas também o ambiente de confiança mútua que sempre norteou a relação entre Brasil–Estados Unidos”.
O presidente da SRB, Sérgio Bortolozzo, disse que a decisão causa apreensão e exige atenção imediata do governo brasileiro. “Não é bom para o Brasil, nem para os Estados Unidos. Temos uma posição confortável, já que somos o principal fornecedor de café e carne bovina para o país, mas será necessário um acordo muito bem coordenado para reverter isso”, enfatizou Bortolozzo.
Competitividade do setor preocupa SindiTabaco
O Sindicato Interestadual da Indústria do Tabaco (SindiTabaco) acredita que a tarifa ameaça a competitividade do produto brasileiro no mercado norte-americano, atualmente o terceiro maior destino em volume e valor.
De acordo com Valmor Thesing, presidente do sindicato, o momento exige responsabilidade e equilíbrio. “O setor está atento, mobilizado e confiante de que a diplomacia buscará uma solução antes da entrada em vigor da tarifa, prevista para o dia 1º de agosto”. Mas, apesar da preocupação, Thesing diz que “há uma demanda mundial muito grande de tabaco, e é muito provável que o produto seja remanejado para outros destinos”.
De acordo com dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC/ComexStat), entre janeiro e junho de 2025, o Brasil exportou 19 mil toneladas de tabaco aos Estados Unidos, gerando US$ 129 milhões em receita. No acumulado de 2024, foram 39,8 mil toneladas e US$ 255 milhões em vendas externas para o país. Isso representa cerca de 9% das exportações totais brasileiras do setor, que alcançam, em média, 500 mil toneladas por ano para mais de 100 países.
Abag espera solução diplomática
A Associação Brasileira do Agronegócio (Abag) disse que se trata de uma questão puramente política e que não existem justificativas econômicas para as novas tarifas, dada a realidade de superávit norte-americano no comércio com o Brasil. Segundo a entidade, alguns impactos específicos na agroindústria brasileira podem ser antecipados para papel e celulose, carne bovina, suco de laranja, açúcar e café — principais produtos afetados.
Em nota, a associação afirmou que “espera por uma solução diplomática nas tratativas bilaterais antes de primeiro de agosto” e que “tal ação não vai só desfavorecer o exportador brasileiro, mas também o próprio consumidor americano”.
“Sem articulação ágil e estratégica, o país seguirá vulnerável”, diz Faesp
Na avaliação do presidente da Federação da Agricultura e Pecuária de São Paulo (Faesp), Tirso Meirelles, o anúncio do presidente Donald Trump “escancara a falta de assertividade e visão da diplomacia brasileira em antecipar e negociar medidas que afetam diretamente setores estratégicos da economia nacional”.
Para Meirelles, o Brasil precisa adotar uma postura mais ativa nas mesas de negociação, fortalecendo canais de diálogo permanentes com os EUA, assim como os demais parceiros, e utilizando os acordos multilaterais e fóruns internacionais como ferramentas de pressão e defesa. “Sem essa articulação ágil e estratégica, o país seguirá vulnerável a decisões unilaterais que comprometem sua competitividade no comércio internacional”, afirmou em nota enviada à imprensa.
No entanto, o presidente da Faesp acredita que há espaço para que o governo brasileiro consiga reverter a medida. “Entendo que o confronto levará a prejuízos incalculáveis para a Nação”, concluiu.

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