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Agropolítica

“A lição de casa é achar novas fontes de recursos para o seguro rural”, diz secretário de Política Agrícola do Mapa

Para Guilherme Campos, investimentos do RenovAgro podem ser opção para aumentar recursos do Programa de Subvenção ao Prêmio de Seguro Rural

5 minutos de leitura 05/09/2024 - 08:30

Por: Fernanda Farias | Porto Alegre | fernanda.farias@estadao.com

Foto: Waldemir Barreto/Agência Senado
Foto: Waldemir Barreto/Agência Senado

A poucos dias de completar dois meses no comando da principal secretaria do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), Guilherme Campos diz que o principal desafio é encontrar uma nova fonte de recursos para o Programa de Subvenção ao Prêmio do Seguro Rural (PSR) e para o Plano Safra. 

O secretário de Política Agrícola concorda que o valor recém confirmado para o seguro rural em 2025 – de R$ 1,06 bilhão – não é suficiente e que é urgente disponibilizar mais recursos. “Ainda estou procurando!”, disse Campos em entrevista à reportagem. “Você pode me apertar [perguntar mais de uma vez], mas eu não tenho a resposta”, brincou.

Campos assumiu a SPA em meio às negociações do governo federal com os produtores rurais do Rio Grande do Sul sobre medidas de apoio aos atingidos pelas enchentes de maio, mas não participou efetivamente das negociações. “Diretamente, foi o ministro. Muito pelo fato de eu estar chegando”, explicou. 

Confira abaixo os principais trechos da entrevista. 

Agro Estadão – O valor do seguro rural anunciado para 2025 é o mesmo valor de anos anteriores. O que o senhor acha desse valor?
Guilherme Campos, secretário de Política Agrícola do Mapa O Seguro rural começa com um valor, todo mundo pede lá em cima, começa com corte do orçamento e vai tendo a briga ao longo do ano. Hoje está por volta de R$ 1 bilhão e o que nós estamos brigando é pra ter mais espaço no orçamento, para ter mais recurso para o seguro rural. Porque o seguro está cada vez mais crítico e necessário para o financiamento – uma coisa está ligada à outra. Por exemplo, o que vem acontecendo no Rio Grande do Sul com as cheias, em São Paulo, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso e Paraná com os incêndios. Tudo isso vai agravando e vai aumentando o custo para o financiamento. Por isso, a lição de casa que me foi passada é achar novas fontes de recursos para o seguro rural.

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Agro Estadão – Mas o valor que é programado acaba sendo cortado todos os anos.
Guilherme Campos – É o número que tem sido recorrente nos últimos dez anos, por aí…  No final das contas chega nisso [R$ 1 bilhão], porque contingencia daqui, atrasa dali… complica a vida de todo mundo.

Agro Estadão – O senhor já encontrou a forma de aumentar os recursos? Quais são as opções? 
Guilherme Campos – Ainda estou procurando! Mas seria fora do Tesouro. A busca é para trazer de fora e também ter uma mudança de mentalidade por parte do produtor. Porque o produtor faz uma administração do seguro rural da propriedade: ele pega um pedaço, ele não segura para todos os tipos de sinistros, ele faz uma administração daquilo que ele consegue assumir. E que, muitas das vezes, não cobre aquilo que acontece. Então é uma mudança cultural.

Agro Estadão – Mas quem começa primeiro? Porque para o produtor poder assegurar mais, precisa de mais subsídio…
Guilherme Campos – Mas quando você tiver um diferencial cada vez mais marcante, o custo de financiamento em função do seguro vai estimular [o produtor].

Agro Estadão – Se fala em um novo modelo de seguro rural em estudo dentro do Ministério da Agricultura há quase dois anos.
Guilherme Campos – Não é só um novo modelo, é achar uma nova fonte de recursos. 

Agro Estadão – Fontes de fora do país, no caso?
Guilherme Campos – Sim. Já teve aporte de recursos via BNDES de R$ 8 bilhões do ano passado para esse ano. Desses R$ 8 bi, já foram assumidos R$ 6 bi, mas como é recurso cambial, é muito focado no Centro-Oeste, que tem agricultura para exportação. A nossa procura é aproveitando a oportunidade do RenovAgro [Programa de Financiamento de Sistemas de Produção Agropecuária Sustentáveis], onde você vai recuperar as pastagens. É uma grande porta de entrada para recursos de fora e é onde está sendo procurado.  

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Agro Estadão – Sobre o Plano Safra, já se trabalha nos valores para o próximo?
Guilherme Campos – No mínimo o que tem hoje, para cima. E também tem que achar novas fontes de recursos. Uma coisa é cada vez mais evidente: o Plano Safra é uma das políticas públicas mais longevas que temos no país. Quando ele começou, tinha uma relevância muito maior do que ele tem hoje, porque o setor cresceu muito mais que o governo. A atividade do agro está muito maior que o governo e maior ainda que o Tesouro. O que custa no Brasil para o setor R$ 1,5 bi, o governo consegue atender com praticamente um terço disso. 

Agro Estadão – Existem algumas reclamações sobre a diferença entre os orçamentos de alguns programas, do que é disponibilizado para a agricultura empresarial e o que vai para a agricultura familiar. O que o senhor acha disso?

Guilherme Campos – Não concordo. Tem que dar relevância para a agricultura familiar, que atende um número muito grande de pequenos produtores. Para a agricultura familiar, o Plano Safra passa a ser a única alternativa que eles têm. Para as grandes propriedades, você tem alternativa de fazer direto com os grandes bancos, alternativa de buscar o recurso lá fora.  Para o pequeno, praticamente é a única alternativa que ele tem. 

Agro Estadão – O senhor está há quase dois meses à frente da Secretaria de Política Agrícola do Mapa. Qual é o grande desafio?

Guilherme Campos – Esses dois [Plano Safra e Seguro Rural]; achar uma fonte de recursos. Ainda bem que a gente está falando do agro, onde o Brasil é competitivo, onde o Brasil é eficiente, onde o Brasil é protagonista. Procurar recursos para alavancar ainda mais esse setor é uma missão difícil? É. Mas não é impossível – muito pelo contrário – tem aí uma chance de obter êxito muito grande.

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