Agricultura
Brasil quer assento no órgão mundial que regula a produção de azeite de oliva
Com safra brasileira podendo alcançar 1 milhão de litros de azeite, produtores buscam no órgão um atalho para pesquisa e padronização de qualidade

Mônica Rossi | Porto Alegre | monica.rossi@estadao.com
07/10/2025 - 11:00

A olivicultura brasileira almeja um novo patamar de representatividade internacional: uma cadeira no Conselho Oleícola Internacional (COI), entidade que regula a produção de azeite de oliva no mundo. A adesão é um desejo compartilhado por produtores, pelo Ministério da Agricultura e pelo próprio COI, que vê no Brasil um mercado estratégico.
A importância da entrada do Brasil no Conselho é uma via de mão dupla. Para a entidade internacional, é fundamental contar com um grande comprador do produto internacional como membro. “Como segundo maior importador de azeite do mundo, o Brasil precisa ocupar seu lugar entre os grandes players do setor. Outros países vizinhos já integram o COI e reconhecem a importância estratégica de fazer parte dessa organização”, avalia Abderraouf Laajimi, diretor-executivo adjunto do COI, que está no Brasil para uma série de atividades nos estados produtores.
Para os produtores nacionais, os benefícios incluiriam o intercâmbio de informações técnicas e o acesso a pesquisas de ponta, incluindo o vasto banco de germoplasma da entidade, que cataloga e estuda diferentes variedades de oliveiras. Como o Brasil só planta oliveiras comercialmente há cerca de 20 anos, esse conhecimento ajudaria a aumentar a produtividade e a constância das safras, um dos maiores desafios da olivicultura no País, conforme explica Flávio Obino Filho, olivicultor e presidente do Instituto Brasileiro de Olivicultura (Ibraoliva).

Laajimi reforça ainda que ao se tornar membro, o Brasil passará a ter acesso direto a programas de intercâmbio tecnológico, à digitalização e atualização das normas internacionais de qualidade de azeites, além de apoio à formação e capacitação de técnicos, pesquisadores, produtores, importadores e operadores da cadeia produtiva do azeite.
O presidente da entidade brasileira conta que já foi questionado se essa aproximação com o COI poderia intensificar a concorrência com produtos importados, mas ele explica que o foco do produtor brasileiro está em um nicho de altíssima qualidade, que não compete diretamente com os azeites de gôndola de supermercado. “Nós não concorremos com esses azeites que vêm para cá. O nosso é um azeite super premium, outro azeite, com outro preço, com outra qualidade, para outro público”, afirma o olivicultor.
O principal entrave para a concretização de uma cadeira permanente no órgão internacional é o custo da anuidade, estimado em 100 mil euros ou cerca de R$ 600 mil. Com o orçamento do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) restrito, os produtores já pensam em alternativas para viabilizar o recurso, como a articulação de emendas parlamentares. Procurado pelo Agro Estadão, o Mapa ainda não se manifestou sobre a possibilidade do aporte público para a anuidade
De acordo com Obino Filho, o COI conduz no Brasil uma campanha de quatro anos para promoção do azeite e apoio técnico, financiada com recursos do próprio organismo, reforçando a urgência para formalizar a adesão antes do fim do ciclo em 2027. “A nossa meta é que até 2027 o Brasil faça parte do Conselho Oleícola Internacional. O Uruguai, que é um país desse tamanhinho, está lá. A Palestina está dentro também!”, compara.
Safra promissora
Enquanto as negociações para a adesão ao COI seguem, o campo traz notícias animadoras. A perspectiva inicial, considerando a produção gaúcha e de outras regiões como a Mantiqueira em Minas Gerais, é de uma safra que pode alcançar 1 milhão de litros de azeite.
O quadro é promissor, embora não uniforme no RS, explica o presidente do Ibraoliva. Há pomares adiantados com flor aberta sujeitos a perdas por chuva e outros ainda entrando em floração, exigindo de 20 a 30 dias para calibrar as estimativas.
O chefe da entidade explica que a estabilidade nas safras ainda é o calcanhar de Aquiles do setor, visto que o Rio Grande do Sul, que concentra cerca de 80% da produção nacional de azeite de oliva, vem de duas colheitas com quebras devido a problemas climáticos. O caminho, diz ele, passa por pesquisa aplicada “dentro da porteira”, coordenação técnica e experimentação orientada. “O Ibraoliva tem sido um organizador e catalisador de esforços, tanto dos organismos federais como da academia, da universidade e dos nossos assessores. Estamos incentivando nas universidades que façam pesquisa com o CNPq. E agora vamos ter um seminário binacional com o Uruguai em dezembro em Bagé”, conclui.

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