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Agricultura

Araguaia é a nova fronteira agrícola de Goiás

Com lavouras em áreas de pastagem degradada, Vale do Araguaia recebe neste sábado, 27, a abertura oficial da safra de soja de Goiás

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Sabrina Nascimento | São Paulo | sabrina.nascimento@estadao.com

26/09/2025 - 05:00

Agricultura do Vale do Araguaia vem registrando crescimento de 35% ao ano. Foto: Divulgação
Agricultura do Vale do Araguaia vem registrando crescimento de 35% ao ano. Foto: Divulgação

‘A nova fronteira agrícola do estado de Goiás’. Essa é a descrição que recebe o Vale do Araguaia, no norte goiano. Apesar de representar pouco mais de 2% da produção estadual, desde 2019, a região vem registrando um crescimento de cerca de 35% ao ano. Segundo levantamento do Instituto Mauro Borges (IMB), essa expansão representa sete vezes a alta de produção verificada no restante do estado no mesmo período.

Um aspecto que tem atribuído uma característica singular ao Vale do Araguaia é a produção em áreas degradadas de pastagem. Isso, de acordo com Erik Figueiredo, diretor executivo do IMB, faz com que a produção seja caracterizada pela sustentabilidade. “A nossa leitura é que o Vale do Araguaia não só respeita o Código Florestal, ele tem lá as APPs [Áreas de Preservação Permanentes], reserva legal, mas também ajuda a recuperar o meio ambiente, gerando créditos de carbono”, salientou.

Figueiredo citou ainda uma estimativa de que para cada hectare de terra degradada recuperada, estima-se uma geração anual entre 140 e 200 créditos de carbono. “Ou seja, são 200 toneladas de carbono capturadas nas áreas de pastagem do Vale do Araguaia convertidas em lavouras”, disse. 

Hoje, a Associação Brasileira dos Produtores de Soja de Goiás (Aprosoja-GO) acredita que o Vale do Araguaia possui entre 3,5 e 4 milhões de hectares em condição de recuperação. Porém, é modesta em suas perspectivas. “Considerando uma projeção mais modesta, cerca de 1,5 a 2 milhões de hectares seriam de solos mais aptos ao plantio. Trabalhando com essa base de 2 milhões de hectares, nos próximos 8 a 10 anos seria possível implementar uma produção contínua que poderia resultar em um incremento de 5 a 10 milhões de toneladas de soja nessas mesmas áreas”, disse o presidente da Aprosoja-GO, Clodoaldo Calegari, em entrevista com o Agro Estadão. 

No entanto, ele enfatizou que esse não é um “número sólido”, uma vez que a produção agrícola depende do clima para ser consolidada, além de outros fatores estruturais. Para o IMB, o potencial produtivo do Vale do Araguaia aponta que, no médio prazo, a região pode ampliar em pelo menos 50% sua área agricultável, o que representaria um acréscimo de cerca de 150 mil toneladas de grãos por ano à safra goiana.

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Desafios

Assim como em algumas regiões produtoras, o avanço da produção no Vale do Araguaia enfrenta alguns gargalos de infraestrutura e logística. Atualmente, a área passa por uma grande dificuldade na distribuição de energia, impedindo, por exemplo, a utilização de pivôs de irrigação. 

Um levantamento do IMB apontou que o Vale do Araguaia lidera o índice de necessidade de investimentos em infraestrutura elétrica em Goiás. Segundo a instituição, cada real aplicado em energia na região tem potencial de gerar um retorno produtivo significativamente maior do que em outras áreas do Estado, dada a capacidade de expansão agrícola local.

O estudo desenvolvido pelo instituto partiu de uma metodologia que relaciona a oferta de energia elétrica não apenas à demanda gerada pelo crescimento econômico, mas também ao seu potencial de impulsionar a atividade produtiva. “Nós temos várias fazendas com pivôs parados que não conseguem rodar. Muitos têm que recorrer a fontes alternativas, como energia solar ou até mesmo diesel, o que é absurdo ter que ligar um pivô a diesel. Mas, esse é o problema que se enfrenta no Vale do Araguaia”, apontou o diretor executivo do IMB.

Para o presidente da Aprosoja-GO, não resta dúvidas de que a região é a futura grande fronteira agrícola e pecuária de Goiás. “Agora, a velocidade desse avanço vai ser medida de acordo com a disponibilidade de recursos energéticos e de escoamento armazenado de produção”, pondera.

Alguns produtores de área irrigada com pivôs já começaram o plantio da soja nesta quinta-feira, 25. Foto: Adobe Stock

Plantio da nova safra

Apesar dos desafios, que não se limitam ao fornecimento de energia elétrica — estende-se a juros elevados, falta de armazenagem, infraestrutura de escoamento escassa e endividamento em decorrência de perdas em safras anteriores — os produtores goianos escolheram o Vale do Araguaia para celebrar o início de uma nova safra. 

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No ciclo anterior (2024/25) o Estado colheu 20,4 milhões de toneladas de soja, com crescimento de 21,4% em relação à anterior, segundo levantamento da Companhia Nacional de Abastecimento. Com produtividade recorde: 4,1 toneladas de soja por hectares — alta de 18,4% frente à safra anterior. Atualmente, Goiás é o terceiro maior produtor nacional de grãos, atrás apenas de Mato Grosso e Paraná.

Para a temporada 2025/26, as perspectivas seguem positivas, mas com ponderações. “Nesses últimos dois ou três dias, a gente teve uma rodada de chuvas esparsas aqui pelo estado. Algumas regiões pegaram um pouco mais, outras um pouco menos. Então, os produtores já ficam com muita vontade de soltar o plantio”, relata Calegari. “Mas, nas áreas que não são irrigadas, ainda existe um risco de não ter umidade suficiente para emergência. Então o produtor, como ele não está podendo se dar ao luxo de cometer erros, uma vez que a gente está passando por um período de margens muito estreitas, então não se pode errar. Por isso, esse produtor está tentando aguardar um momento mais seguro”, diz.

Com o fim do vazio sanitário no estado na última quarta-feira, alguns produtores de área irrigada com pivôs já começaram os trabalhos de plantio da soja na quinta-feira, 25. Contudo, a abertura oficial da safra goiana de grãos 2025/26 ocorre neste sábado, 27, à partir das 7h30 na Fazenda Tamburi, Nova Crixás (GO), um dos onze municípios que compõem o Vale do Araguaia. “A Fazenda Tamburi é propriedade do Sr. Marcelo Ribeiro, que foi o primeiro produtor a produzir soja em grande escala naquela região. Ele é o pioneiro lá… É um momento que tem a sua simbologia, porque é um momento de início de plantio”, reforça o presidente da Aprosoja-GO.

Há expectativa da presença de cerca de mil produtores para acompanhar a largada das plantadeiras no campo. Autoridades como o governador de Goiás, Ronaldo Caiado, e o vice-governador Daniel Vilela, além de prefeitos, senadores e deputados federais e estaduais também devem comparecer ao evento. 

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