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Fim da usina Santa Elisa acende alerta no setor sucroenergético

Maurílio Biagi e Canaoeste comentam sobre a usina que moldou Sertãozinho e  foi referência em tecnologia agrícola

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Sabrina Nascimento | São Paulo | sabrina.nascimento@estadao.com

16/07/2025 - 16:09

Usina Santa Elisa em Sertãozinho - SP | Foto: Biosev/Divulgação
Usina Santa Elisa em Sertãozinho - SP | Foto: Biosev/Divulgação

Por quase um século, a Usina Santa Elisa foi um dos pilares da indústria sucroenergética brasileira. Fundada em 1936 na cidade de Sertãozinho, interior de São Paulo, a usina se tornou símbolo de inovação, produtividade e protagonismo no setor. 

Nas mãos das famílias Biagi e Marchesi, consolidou-se como um dos maiores parques industriais do país, tendo se destacado em 1998 como a maior processadora de cana-de-açúcar do mundo, com capacidade de moagem superior a sete milhões de toneladas.

A trajetória da Santa Elisa acompanhou momentos cruciais da história do setor sucroenergético nacional. Desde o Proálcool — programa lançado nos anos 1970 para estimular a produção de etanol —, até os anos 2000, quando integrou a joint venture Santelisa Vale, fruto da união com o grupo Junqueira. 

Apesar das tentativas de expansão, a pressão financeira da época resultou na venda para a antiga marca Biosev em 2008. Em 2021, a usina foi incorporada ao portfólio da Raízen, líder global em biocombustíveis e maior produtora de açúcar e etanol do Brasil, fruto da parceria entre Cosan e Shell.

Desativação

Por décadas, a Santa Elisa foi referência em tecnologia agrícola, práticas industriais e políticas de integração com fornecedores. No entanto, em 15 de julho a história da Usina ganhou novos capítulos, após a Raízen anunciar a desativação por tempo indeterminado da Santa Elisa. 

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O movimento envolveu a venda de 3,6 milhões de toneladas de cana-de-açúcar, próprias e de terceiros, para seis grupos produtores — incluindo São Martinho, Bazan, Viralcool, Alta Mogiana, Pitangueiras e Batatais. A operação foi avaliada em até R$ 1,04 bilhão. 

O objetivo declarado pela companhia, em comunicado publicado na Comissão de Valores Mobiliários, foi o fortalecimento de sua estrutura de capital e a redução da dívida líquida, que havia alcançado 3,2 vezes o Ebitda, que reflete a capacidade financeira de uma companhia gerar lucro. 

Sob a ótica financeira, analistas da XP Investimentos avaliaram a medida como positiva. Em relatório, os especialistas apontam que a alienação de ativos e contratos fortalece a liquidez da Raízen em um momento de pressão sobre margens e desafios globais no mercado de combustíveis renováveis. Entretanto, ponderam que, a decisão também levanta questionamentos sobre o impacto na dinâmica do mercado sucroenergético do interior paulista, especialmente na competição pela cana e nas relações com fornecedores.

O desabafo de Maurílio Biagi Filho

Maurílio Biagi Filho, neto do fundador da Santa Elisa e figura histórica do setor, expressou publicamente sua tristeza diante do fechamento da usina. 

Em carta aberta, Biagi declarou: “Recebi com profunda tristeza a notícia da paralisação da Santa Elisa. Mais do que uma usina, ela representa um legado, um símbolo de trabalho, inovação e desenvolvimento para Sertãozinho e para o Brasil”, escreveu. “Sua história não pode ser simplesmente encerrada sem o reconhecimento de tudo que ela significou”, acrescentou.

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Biagi destacou ainda o papel da Santa Elisa na formação de gerações de profissionais e na consolidação de Sertãozinho como capital mundial da tecnologia em biomassa e equipamentos industriais. “Mais do que um empreendimento, a Usina Santa Elisa representa um patrimônio imaterial valioso — de memória, de pertencimento, de vínculos afetivos e sociais. A história que ela ajudou a escrever em Sertãozinho é indelével”, declarou. 

Há 25 anos Maurílio deixou de participar da gestão da Usina e há 20 anos não participa da sociedade. Apesar da tristeza pela desativação da Usina, ele acredita que os os atuais proprietários tomaram a decisão certa para o momento, com todo o cuidado e respeito pelas partes envolvidas. “A Santa Elisa pode ter encerrado temporariamente suas atividades, mas o que ela construiu jamais será apagado”, encerra (leia a íntegra da carta de Maurílio Biagi Filho abaixo).

Decisão traz desafios ao setor, avalia Canaoeste

A Associação dos Plantadores de Cana do Oeste do Estado de São Paulo (Canaoeste), uma das mais representativas entidades do setor, manifestou preocupação com os impactos da desativação na cadeia produtiva da região. A entidade alertou para possíveis efeitos sobre o emprego, a renda dos fornecedores e o equilíbrio do mercado regional de cana.

Segundo a associação, a decisão da Raízen, embora compreensível sob a ótica empresarial, traz desafios à estabilidade do setor. “Entendemos os movimentos corporativos e as dinâmicas de mercado, mas não podemos ignorar que decisões dessa magnitude afetam profundamente produtores, trabalhadores e toda a cadeia de valor do setor sucroenergético”, afirmou. 

De acordo com a entidade, é preciso diálogo e ações coordenadas para mitigar os impactos negativos. “A prioridade da Canaoeste neste momento é garantir que os nossos associados tenham seus contratos respeitados e possam seguir com suas atividades de maneira segura e sustentável”, afirmou, informando que as tratativas com a Raízen já estão encaminhadas e em breve terão um encontro com esses produtores pra explicar, acolher e assegurar os contratos.

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Confira a íntegra da carta de Maurílio Biagi Filho:

“Recebi com tristeza a notícia da descontinuidade das operações da Usina Santa Elisa, em Sertãozinho, por tempo indeterminado.

Essa usina faz parte da minha história pessoal e da história da nossa região. Foi adquirida por minha família, em 1936, e desde então se tornou um verdadeiro símbolo do desenvolvimento industrial de Sertãozinho. Lá, vivi grandes momentos da minha vida: iniciei minha trajetória profissional atrás do balcão do armazém, passei por todos os setores, da indústria à presidência, e pude liderar sua transformação em uma das maiores empresas do setor sucroenergético no mundo, tanto em inovação quanto em produção.

Em 1998, alcançamos um marco histórico: a Santa Elisa se tornou a usina com maior volume de moagem do mundo à época, com mais de 7 milhões de toneladas. Antes disso, protagonizamos a primeira grande fusão do setor, com a Usina São Geraldo, sempre buscando caminhos de crescimento e sustentabilidade econômica e social.

Mas, acima de tudo, nenhuma conquista teria sido possível sem as pessoas extraordinárias que caminharam ao meu lado. A Santa Elisa foi uma escola de formação profissional e humana para milhares de colaboradores, muitos dos quais ajudaram a construir não só essa empresa, mas outras que nasceram a partir dela.

Há 25 anos deixei de participar da sua gestão e há 20 da sociedade, com o sentimento de missão cumprida. Vivi lá desde o meu nascimento, dediquei grande parte da minha vida a essa companhia e me orgulho do legado que deixamos. Torço para que os impactos dessa decisão sejam os menores possíveis, especialmente para os trabalhadores, fornecedores e para toda a comunidade local.

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Mais do que um empreendimento, a Usina Santa Elisa representa um patrimônio imaterial valioso — de memória, de pertencimento, de vínculos afetivos e sociais. A história que ela ajudou a escrever em Sertãozinho é indelével.

Neste momento de pausa, escolho olhar para o futuro com esperança. Acredito na força de reinvenção da nossa região e confio que, com diálogo, sensibilidade e responsabilidade, será possível encontrar novos caminhos e equalizar essa situação.

Tenho a convicção que os atuais proprietários tomaram a decisão certa para o momento, com todo o cuidado e respeito pelas partes envolvidas. Aliás, aproveito para destacar que sempre agiram comigo com muita fidalguia, com total consideração a mim e a todo esse legado.

Fiquei surpreso pelo tanto de mensagens e telefonemas carinhosos que recebi desde cedo de amigos de todas as fases da minha vida e da imprensa. Cada um com uma lembrança, com uma história para ser compartilhada e me pedindo para compartilhar a minha. Por esse motivo decidi me manifestar através deste texto.

A Santa Elisa pode ter encerrado temporariamente suas atividades, mas o que ela construiu jamais será apagado. E é com esse espírito que seguimos em frente, com coragem, resiliência e fé nos novos tempos”.

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