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Campos de lavanda encantam e geram renda no interior de SP
Planta teve papel importante para que Cunha (SP) se tornasse polo turístico

Igor Savenhago | Ribeirão Preto
10/02/2025 - 09:58

Em 2010, a produtora cultural Fernanda Freire, que trabalhava na capital paulista, foi convidada a desenvolver um projeto de arte e educação em Cunha (SP). Ela não imaginava que viraria a pioneira na produção de lavanda no município de pouco mais de 20 mil habitantes no leste paulista, na divisa com o Rio de Janeiro.
O trabalho inicial de Fernanda era com cerâmica — setor no qual a cidade é considerada o principal polo no Brasil. Para acompanhar os resultados mais de perto, alugou um sítio. Observadora atenta, percebeu que a região guardava semelhanças com Provença, no sudeste da França, conhecida pelos vinhedos, oliveiras e campos de lavanda — dos quais saem perfumes requisitados no mundo todo.
Decidiu experimentar o cultivo. “Comprei meia dúzia de pés de lavanda, plantei e foram superbem”. Era o início de um novo negócio na cidade. Logo, Fernanda fez viagens à Provence, comprou uma área em Cunha e passou a plantar mais. Construiu uma destilaria e contratou uma engenheira química. Começou a vender mudas e abriu um espaço para visitação. Aos poucos, o jardim foi ganhando mais lavandas e outras plantas aromáticas, como alecrim, verbena e manjericão. Todas juntas totalizam cerca de 40 mil pés.

O Lavandário, nome dado ao empreendimento, tem a produção toda verticalizada. A lavanda vira xampu, creme, colônia, sabonete. Tudo comercializado em loja própria. Também é destinada a decorações e buquês para casamentos. Um café serve bebidas aromatizadas com lavanda, chocolates, trufas e sorvetes feitos com a planta, além de pães de queijo recheados com ervas colhidas no sítio.
Fernanda recebe interessados em apreciar as cores e os perfumes da lavanda de sexta a domingo, “das 10h até o pôr do sol”. O entardecer é o horário mais disputado. A beleza da paisagem é apreciada do alto do morro. Para dar conta da demanda, a proprietária já tem 20 funcionários. E tem buscado agregar outros atrativos: consorciou uma parte da produção de lavandas com oliveiras e produz azeite há um ano.

Adaptação ao solo brasileiro
O cultivo da lavanda teria se originado na Grécia e na Roma antigas, tendo sido disseminado por colonizadores para outras regiões do globo, como o restante da Europa e as Américas. Segundo historiadores, era muito usada por romanos para banhos — daí a origem do nome (do latim lavare; em português, lavar).
Mais abundante em áreas de clima temperado, como o sul da Europa, a planta precisou passar por adaptações às condições brasileiras. “Foi um processo que sofreu reveses, devido às mudanças climáticas. Antes, fazia mais frio em Cunha. Além disso, a lavanda requer um solo bastante alcalino, o que não é a realidade no nosso país, que tem um solo mais ácido. Foi preciso fazer a compensação com calcário”, afirma Fernanda. Já para suportar as altas temperaturas do Brasil, existem espécies mais adaptadas, como a Lavandula dentata, que corresponde a 80% da produção dO Lavandário.

Expandindo negócios
O mesmo tipo da planta ocupa a maior parte do campo do Contemplário, administrado por Henry Villar. Formado em hotelaria, ele nasceu no Brasil, mas foi criado na Europa.
Em 2015, soube que o Contemplário em Cunha, recém-criado, estava à venda. Villar, que voltaria para Portugal, ,mudou os planos e virou dono do espaço em dezembro daquele ano.
O modelo de negócios não foi alterado, mas Villar ampliou os serviços: comprou uma área para fazer estacionamento, montou um chalé para receber casais e agora está construindo um restaurante.
A destilaria a gás deu lugar a uma maior, elétrica, que permitiu aumentar a extração dos óleos essenciais da lavanda — que viram velas, sabonetes, aromatizadores, bombons, perfumes, repelente natural, cerveja, picolé, mel, entre outros. Um licor da planta também está sendo desenvolvido. “O turismo cresceu bastante, o que atribuo à lavanda. Até a cerâmica, que não tinha o poder chamativo que tem a lavanda, se beneficiou com isso”, explica.
A propriedade de Villar tem 20 mil pés de lavanda distribuídos em 20 hectares. O objetivo é chegar a 30 mil. De quinta a segunda, o local é aberto para visitação, gratuita, das 10h às 18h. Além de contemplar o jardim, os frequentadores podem parar para um café e ter contato com outras plantas aromáticas, como alecrim, citronela, capim-limão e patchouli. “Além de produzir, eu moro na propriedade. Então, cuido das plantas como se fossem um jardim de casa mesmo”, diz Villar.

Turismo em alta
De acordo com a Secretaria de Turismo e Cultura de Cunha, o município recebe, todos os anos, mais de 200 mil turistas — dez vezes a população local. Só de pousadas, são mais de 40 opções. Uma delas é a Lavandas de Cunha, inaugurada em 2022 por um grupo da Bahia. São seis chalés para alugar. Devido à alta procura, a expectativa é construir outros, além de um spa com academia e massagem com uso de lavanda.
O gerente, Marcelo Antunes dos Santos, conta que o jardim da pousada tem 2.500 pés de lavanda. E ela também está por toda parte: na decoração de pratos do jantar, em desenhos que identificam os chalés, em bolos servidos no café da manhã e até em uma caipirinha feita com lavanda — a “caipilanda”.
“Recebo bastante gente que vem para cá por causa das lavandas. Inclusive o nome da pousada foi pensado nesse sentido. Muitos pesquisam na internet os termos “lavandas de cunha”. E, com isso, acabam chegando até nós. Desde a fundação, estamos em constante expansão”, declara Santos.


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