Sustentabilidade
Moratória da Soja: debate de leis no STF preocupa mais que decisão do Cade, diz especialista
Suprema Corte analisa legislações estaduais que podem impor penalidades gigantescas ou até proibitivas para empresas exportadoras

Sabrina Nascimento | São Paulo | sabrina.nascimento@estadao.com
27/08/2025 - 13:37

Após pedidos de vistas, o Supremo Tribunal Federal (STF) suspendeu, pela segunda vez, o julgamento das Ações Diretas de Inconstitucionalidade (ADIs) 7774 e 7775. Os processos, respectivamente, analisam as leis estaduais de Mato Grosso e de Rondônia que visam proibir benefícios fiscais e doações de terrenos públicos a empresas signatárias de acordos comerciais, a exemplo da Moratória da Soja.
No caso da ADI 7774, o relator do processo, o ministro Flávio Dino, publicou decisão restabelecendo os efeitos da lei mato-grossense a partir de janeiro de 2026. O ministro tinha suspendido a aplicabilidade da lei em dezembro do ano passado.
No final de junho deste ano, em julgamento no plenário virtual do STF, o ministro Alexandre de Moraes votou acompanhando o relator. Porém, após pedido de vista do ministro Dias Toffoli, a avaliação foi suspensa.
O julgamento tinha sido retomado na primeira quinzena deste mês. Em seu voto, o ministro Toffoli abriu divergência do relator, sugerindo suspender os efeitos do artigo 3º do texto. No entanto, na terça-feira, 26, a análise do processo voltou a ser suspensa após pedido de vista do ministro Edson Fachin.
Já no julgamento da ADI 7775, sobre a lei de Rondônia, o pedido de vista foi do ministro Flávio Dino. Não há data para retomada dos julgamentos.
Impacto na cadeia de soja
O sócio da área de Agronegócio do VBSO Advogados, Marcelo Winter, indica que, dependendo da decisão do Supremo, haverá impacto na cadeia de soja. “Eu acho que é uma questão [legislações estaduais] mais sensível do que a decisão do Cade. Porque, a partir do momento em que você tem uma lei que impõe uma limitação sobre benefícios fiscais que são extremamente indispensáveis para a operação de grãos no Brasil você basicamente está impondo uma penalidade gigantesca ou até proibitiva para essas empresas”, afirma.
Atualmente, Pará, Tocantins, Maranhão e Roraima — estados que, juntamente à Mato Grosso e Rondônia fazem parte da Amazônia Legal — se articulam para aprovar legislações semelhantes. Os movimentos são liderados pela Associação Brasileira dos Produtores de Soja (Aprosoja) estadual sob a justificativa de restrição do uso da terra por parte dos agricultores e prejuízos bilionários.
Em audiência pública no Senado Federal, em abril deste ano, a Aprosoja Brasil apontou que a Moratória da Soja afetava diretamente cerca de 4,2 mil produtores em Mato Grosso, impedindo o uso produtivo de aproximadamente 1,8 milhão de hectares. O que, segundo estimativas da entidade, representa uma perda potencial de até R$ 60 bilhões em receitas para o estado.
Diante do contexto, segundo Winter, ambos os lados — produtores e tradings — têm argumentos para discussão, mas buscar um meio de caminho seria fundamental. “Eu acredito que o ideal seria um consenso entre as partes para a gente conseguir avançar e não prejudicar o fornecimento da cadeia agroindustrial da soja e cereais de grãos como um todo”, salienta.
Análise no TCU
Além do debate no STF, o Tribunal de Contas da União (TCU) vai apurar se bancos públicos estão aplicando critérios da Moratória de forma irregular na concessão de crédito rural do Plano Safra. A suspeita é que instituições como Banco do Brasil, Caixa e Banco da Amazônia estariam adotando exigências não previstas em lei para restringir o acesso ao financiamento agrícola. O processo foi aberto a pedido do Congresso Nacional.
Em voto deferido no dia 06 de agosto, o relator do processo no TCU, ministro Aroldo Cedraz, determinou a realização de uma auditoria de conformidade nos bancos públicos, com possível extensão a outros órgãos ligados ao crédito rural e ao Ministério da Agricultura. O ministro prorrogou ainda, por 90 dias, o prazo para atendimento da solicitação do Congresso.
O imbróglio da Moratória, porém, não se limita às investigações do TCU. Entre as decisões recentes em torno do tema está o cancelamento, por parte da Justiça Federal de Brasília, da decisão da Superintendência-Geral do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (SG/Cade). O órgão tinha suspendido, temporariamente, a Moratória, enquanto se analisa uma possível formação de cartel entre as empresas signatárias.

Newsletter
Acorde
bem informado
com as
notícias do campo
Mais lidas de Sustentabilidade
1
Governo reconhece falhas no Plano Clima e pode mudar texto
2
Moratória da Soja: debate de leis no STF preocupa mais que decisão do Cade, diz especialista
3
Fim da Moratória da Soja opõe ministérios da Agricultura e Meio Ambiente
4
Brasil lança calculadora de emissões de gases do efeito estufa na pecuária
5
BNDES lança programa de R$ 60 milhões para bioinsumos na agricultura familiar
6
O que é vazio sanitário na lavoura?

PUBLICIDADE
Notícias Relacionadas

Sustentabilidade
Por que as abelhas são importantes para o sucesso da sua propriedade rural?
A presença de abelhas na fazenda é um sinal de equilíbrio ambiental, promovendo a biodiversidade, o controle natural de pragas e agregando valor de sustentabilidade à propriedade rural

Sustentabilidade
Governo de SP confirma 17 animais vítimas de incêndios florestais neste ano
Morte da anta resgatada em canavial mostra gravidade dos incêndios; governo oferece curso online sobre resgate de animais vítimas do fogo

Sustentabilidade
Biometano ganha destaque em discussões sobre transição energética no Brasil
Fórum em São Paulo e painel na Expointer abordaram políticas públicas e investimentos para ampliar o uso do combustível renovável

Sustentabilidade
Produtores terão até 2 anos para adotar medidas contra fogo; veja exigências
Obrigatoriedade será cobrada de produtores de todos os portes e pode gerar agravantes caso não sejam implementadas
Sustentabilidade
Sicredi estima crescimento da carteira verde em 10% neste ano
Crédito para projetos relacionados à sustentabilidade tem chegado ao Norte do país, mas enfrenta dificuldades de acesso
Sustentabilidade
Nova lei estimula produtores do semiárido mineiro a irrigar pela primeira vez
Política estabelece diretrizes para aumentar o percentual de áreas irrigadas em Minas Gerais, atualmente em torno de 15%, para 50%
Sustentabilidade
Governo reconhece falhas no Plano Clima e pode mudar texto
Consulta pública do Plano Clima de mitigação recebeu cerca de 2 mil sugestões de mudanças; agro contesta peso desproporcional ao setor
Sustentabilidade
Emissão de metano no País cresce 6% em 4 anos, puxada por pecuária, diz relatório
Brasil assumiu meta de reduzir 30% até 2030, mas níveis seguem em crescimento