Ofertas de crédito verde aquecem mercado produtivo
O Brasil é, e deve continuar sendo, um dos poucos países com condições de aumentar a produtividade e atender a demanda mundial por alimentos
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07/02/2024
Por: Redação Agro Estadão
O Brasil é, e deve continuar sendo, um dos poucos países com condições de aumentar a produtividade e atender a demanda mundial por alimentos. Não à toa, o Plano Safra 2023/2024, teve a sustentabilidade como “pano de fundo” para os R$ 364,22 bilhões destinados ao crédito rural, número 26,8% maior do que os valores oferecidos na safra passada ( R$ 287,16 milhões). É o crédito verde.
A forte manifestação de interesse do Governo em focalizar recursos em práticas de sustentabilidade não é exatamente uma novidade no País. Ela vem crescendo nos últimos anos sustentadas por programas como o ABC (Agricultura de Baixa Emissão de Carbono), criado em 2010 pelo Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) com o objetivo de fomentar sistemas de produção que ajudem o Brasil a cumrpir compromissos de redução de emissão de GEE no setor agropecuário assumidos no Acordo de Paris.
No seu segundo ciclo de implementação, o Programa ABC+, neste ano chamado de Renovagro, traz três modalidades de crédito para o produtor que quer adotar boas práticas de sustentabilidade.
- Renovagro Ambiental: programa de financiamento para a recomposição de reservas legais e áreas de proteção permanentes (APP) das propriedades;
- Renovagro Recuperação de Pastagens: atua no financiamento de tecnologias como ILPF (Integração Lavoura Pecuária Floresta) e sistemas de plantio direto;
- RenovAgro – Demais: focado em outras práticas agrícolas sustentáveis.
Os juros variam de 7% (recuperação de pastagens e ambiental) a 8,5% (nas demais) com teto de financiamento de R$ 5 milhões e prazos que chegam até 12 anos para o pagamento.
Desafio do crédito verde é levar programas de sustentabilidade ao produtor
Para Erich Erich Gomes Schaitza, pesquisador da Embrapa Florestas, instituição que atua no desenvolvimento de tecnologias aplicadas no programa ABC, os próximos anos devem ser de voo em “céu de brigadeiro”. “Temos tecnologia para mudar o futuro e a visão mundial sobre a agricultura brasileira, mas ela precisa chegar às mãos do produtor, que é o verdadeiro agente de mudança”. O pesquisador afirma que o crédito rural é a ferramenta para tornar a tecnologia acessível.
No primeiro ciclo (2010 a 2020), o ABC promoveu a recuperação de 23 milhões de hectares de pastagens degradadas. Além disso, totalizou cerca de 11 milhões de hectares em sistemas integrados de ILPF ( Integração Lavoura Pecuária Floresta ILPF) e outros 12 milhões de hectares em plantio direto no País. Com essas iniciativas, a emissão de carbono equivalente (CO2eq) reduziu em 170 milhões de toneladas no período, segundo dados do Mapa.
Inclusão produtiva com sustentabilidade
O Brasil tem urgência pela transição de um modelo de produção que atenda aos requisitos de um consumo com sustentabilidade econômica, ambiental e social. E isso já é uma preocupação também dos bancos privados. O Santander, um dos grandes financiadores do ABC, atua no crédito verde há 13 anos e desde 2017 adota um programa de incentivo à agricultura sustentável.
“O produtor rural que adota boas práticas consegue captar recursos por meio de linhas com juros mais baixos e tem prioridade, ou seja, seu crédito é liberado mais rápido”, diz Carlos Aguiar, diretor de agronegócio do Santander. A concessão do crédito também considera pré-requisitos ambientais. Desde julho deste ano, os bancos passaram a consultar áreas embargadas por órgãos ambientais estaduais antes da concessão do crédito às fazendas, norma instituída pelo Banco Central.
O incentivo à sustentabilidade tem feito “pipocar” projetos de produção integrados pelo Brasil. Um deles é o do Sítio Nelson Guerreiro, de Brotas, SP, que, há 12 anos decidiu diversificar atividades, deixando o sistema de monocultura após forte crise no mercado de laranjas em 2005. Com apoio da Embrapa pecuária Sudeste, a propriedade aderiu à ILPF por meio do Produsa (Programa de Estímulo à Produção Agropecuária Sustentável), financiado pelo BNDES.
Maria Fernanda Guerreiro, dona das terras e formada em agronomia, diz que o sistema trouxe vantagens econômicas e ambientais até então impensadas no negócio familiar. “Triplicamos nossa produtividade já nos primeiros anos de diversificação”, lembra.
“É um absurdo pensar que ainda existam pecuaristas que não trabalham com lavouras, salvo quem não tem dinheiro para fazer melhorias ou ainda não buscou recursos”, observa a produtora. Hoje, ela produz milho, eucalipto e gado comercial, tendo como diferencial de produção alimentos orgânicos e madeira agroecológica , produtos de alto valor agregado.