Inovação
Boi 777: evolução da tecnologia que revolucionou a pecuária brasileira
O conceito criado há mais de uma década segue notável como um modelo de gestão que vai além de números, promovendo eficiência e inovação no campo

Sabrina Nascimento | São Paulo
30/01/2025 - 08:00

Desde seu lançamento há 12 anos, o conceito Boi 777 vem transformando a pecuária brasileira com foco em metas produtivas, rentabilidade e sustentabilidade. Mais do que uma fórmula numérica, o modelo tornou-se um guia de gestão integrado, que ainda hoje é amplamente debatido e aplicado no setor.
Criado para atender às demandas do mercado e impulsionar a produtividade, o boi 777 é baseado na divisão da criação do animal em três etapas: bezerro, recria e engorda, cada fase com a meta de atingir sete arrobas. O objetivo inicial do conceito era produzir um animal de 21 arrobas em até 24 meses, o que na época representava um grande desafio.
“A intenção foi mostrar que todas as fases são importantes, porque até aquele momento, tinha uma supervalorização da engorda do animal e uma desvalorização da cria e recria. Então, com o boi 777, a gente mostrou que para se produzir um animal de qualidade, produtivo e que atende ao mercado, todas as fases são importantes”, disse Gustavo Rezende Siqueira, pesquisador da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (Apta) da Regional de Colina-SP.
Em conversa com o Agro Estadão, Siqueira informou que, após mais de uma década da tecnologia, o foco não está mais em se atingir as sete arrobas em cada etapa de produção, mas sim na gestão integrada do sistema produtivo. “Hoje, incorporamos avanços como a nutrição materna e a programação fetal, que impactam diretamente na qualidade do bezerro e no desempenho do animal ao longo da vida”, detalhou.
Além disso, práticas como a recria intensiva a pasto e a otimização da engorda têm permitido alcançar metas de peso em menos tempo e com menor custo. Conforme explica Gustavo, se antes o desafio era atingir as sete arrobas em 12 meses, hoje é possível conseguir isso em menos de 8 meses. “Essa eficiência reduz o consumo de insumos, tornando o sistema mais sustentável e rentável”, destaca o pesquisador.
Outro ponto importante do boi 777 é sua aplicação em sistemas de produção sustentáveis, como a integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF). Esse modelo integra diferentes atividades agrícolas e pecuárias, promovendo ganhos ambientais e econômicos.
“O ILPF é uma ferramenta essencial para potencializar a eficiência do sistema. Ele melhora a qualidade dos alimentos disponíveis para o gado e contribui para o bem-estar animal, além de maximizar o uso da terra”, afirma Rezende, ressaltando que a busca por um sistema produtivo mais sustentável vai ao encontro das demandas globais por redução de emissões de gases de efeito estufa.
Relevância do boi 777 após uma década
Para o pesquisador da Apta Regional de Colina-SP, a longevidade do boi 777 se deve à sua essência dinâmica e adaptável, com isso, o conceito “não caduca”, sendo considerado muito mais como um modelo de gestão integrada que uma métrica numérica. “Com o tempo, novos conhecimentos e tecnologias foram incorporados ao modelo. Ficou a marca, o nome, mas os conceitos evoluíram continuamente, como tudo na vida”, enfatiza Gustavo.
Ele diz que, constantemente, é questionado sobre o que virá depois do boi 777, se será o 888, 999, ou 789. Entretanto, o pesquisador desmistifica a necessidade de uma atualização numérica para manter o modelo relevante.
“A meta das 777 arrobas nunca foi uma necessidade fixa, era um desafio, uma provocação para movimentar o setor e as metas originais cumpriram seu papel, mas o que importa é o conceito de gestão integrada. […] Qualquer meta numérica fica ultrapassada em poucos anos, mas uma meta baseada em ideias permanece, porque se reinventa e se ajusta às novas demandas”, pontua Rezende.
Siga o Agro Estadão no Google News, WhatsApp, Instagram, Facebook ou assine nossa Newsletter

Newsletter
Acorde
bem informado
com as
notícias do campo
Mais lidas de Inovação
1
Pesquisa pioneira revela principais doenças da macadâmia no Brasil
2
Pesquisa da Embrapa avança na busca por variedade de cupuaçu resistente à vassoura de bruxa
3
ChatGPT do Agro: startup brasileira avança com projeto para automação de dados
4
Drones reduzem custos e tempo em pesquisa sobre milho resistente à seca
5
Boi 777: evolução da tecnologia que revolucionou a pecuária brasileira
6
Novo fungicida para doenças de final de ciclo da soja pode aumentar produtividade em até 8 sacas por hectare

PUBLICIDADE
Notícias Relacionadas

Inovação
Agro já vê dificuldades nas contratações dentro do ambiente da IA, diz executiva
Declaração da diretora Fernanda Hoe, da Elanco Brasil, foi dada em evento da Amcham Brasil

Inovação
Embrapa desenvolve tecnologia para prolongar qualidade das frutas
Método pode ser usado para mangas, melões, laranjas e mamões; também é uma alternativa para uso de fungicidas somente na etapa final de produção

Inovação
Ovelha Soinga: a raça de ovinos adaptada ao semiárido nordestino
Reconhecida neste mês pelo Mapa, raça já surge como protagonista, por resistir aos períodos secos e atender aos mercados de carne e lã

Inovação
Região gaúcha de Machadinho recebe Indicação de Procedência da erva-mate
Produção tem alta tecnologia de cultivo e faz parte da cultura de 10 municípios
Inovação
E-agro, do Bradesco, movimenta R$ 2,4 bi em recursos em segundo ano de operação
As Cédulas de Produto Rural (CPRs) representaram 90% do que foi originado na plataforma em 2024, avanço de 400% em relação a 2023
Inovação
Bayer prepara 3ª e 4ª gerações da Intacta
Desenvolvimento das biotecnologias e de produtos de manejo para as variedades estão em andamento
Inovação
Nova cultivar de feijão combate parasitas e recupera pastagens
Lançada pela Embrapa Pecuária Sudeste, a BRS Guatã também é alternativa de baixo custo para alimentação de bovinos
Inovação
Ovinos adaptados ao semiárido nordestino são reconhecidos como raça
Homologação ocorreu após processo de reconhecimento do MAPA, agora animais integram o registro genealógico da Associação Brasileira de Criadores de Ovinos