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“Próxima safra plena será só em 2030”, diz produtor de uva atingido por deslizamentos no RS

Vinhedos destruídos no Rio Grande do Sul começam a ser recuperados; Cooperativa Aurora estima investimentos de até R$ 200 mil por hectare

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Fernanda Farias* | Bento Gonçalves (RS) | fernanda.farias@estadao.com

02/12/2024 - 08:00

Ilso planta novas mudas de parreiras no vinhedo da família. Foto: Fernanda Farias/Agro Estadão
Ilso planta novas mudas de parreiras no vinhedo da família. Foto: Fernanda Farias/Agro Estadão

Luciano De Mari, 42 anos, repete várias vezes ao longo da conversa: “tem que ser forte”. Ele é um dos produtores de uva afetados pelas chuvas de maio no Rio Grande do Sul, o maior desastre climático ocorrido no estado. “Eu fui a primeira pessoa que chegou e se deparou com essa tragédia nos vinhedos. Foi bastante frustrante, desanimadora no momento. Mas a gente vai se acostumando com a situação e criando coragem para recomeçar”, lembra Luciano. “Tem certos momentos na vida que a gente busca forças que a gente não sabe que tem. Essa é a verdade, né? E eu descobri isso com o que aconteceu”, reflete.

E ninguém duvida disso, especialmente a família. “Eu não abandonei por causa do meu sobrinho. Ele disse: está tudo no chão, mas nós vamos tocar de novo”, conta Nacir De Mari, 67 anos, sobre o momento em que o desânimo foi forte. “Ele não deixou: vamos devagar e vamos reconstruir de novo’”, reforça a tia, Nilzete De Mari.

O agricultor é o responsável por tocar o vinhedo que começou com o avô – imigrante italiano – há mais de 50 anos e depois seguiu com o pai Ilso, e o tio Nacir. Todos dormiam na madrugada em que a terra deslizou e levou embora o trabalho de três gerações, além de carros e máquinas agrícolas que ficaram soterrados.

“Nós ouvimos um barulho. Tiramos a nonna de casa e fomos para o vizinho. Corremos pro lado que não tinha barulho!”, lembra Nilzete. No dia seguinte, a notícia da destruição foi como um choque. “Ele [Luciano] me disse prepara, porque o negócio está feio. Quando eu cheguei lá em cima, já estava tudo destruído”, conta Nacir.

A propriedade localizada em Linha Demari, distrito de Bento Gonçalves, tem 11 hectares, dos quais 4 hectares foram totalmente destruídos. Por safra, a família cultivava 320 mil kg de uvas para suco entregues para a Cooperativa Vinícola Aurora. Na próxima colheita, em janeiro, a produção deve cair para menos da metade e ficar em torno dos 140 mil kg.

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Maurício Bonafé, gerente Agrícola da Aurora, lembra que, em três dias, choveu cerca de mil milímetros na região. “É a mesma coisa que eu pegar 1 m² de solo e jogar mil litros de água. O solo, obviamente, não aguentou”. O trabalho de recuperação na propriedade é acompanhado e orientado por técnicos da Aurora, o que acontece também com outros cooperados.

A Embrapa contabilizou 674 pontos de deslizamento de terra na serra gaúcha, totalizando mais de 1,2 mil hectares entre áreas de mata e de lavouras.

Apoio social e técnico na recuperação dos vinhedos

Dos 1,1 mil associados da cooperativa, 86 foram afetados. Em área, os danos ocorreram em 75 hectares nos municípios de Bento Gonçalves, Cotiporã, Monte Belo do Sul, Pinto Bandeira, São Valentim do Sul e Veranópolis, sendo que os maiores problemas foram concentrados em 56 ha – desses, 7 ha já foram recuperados.

A estimativa de perdas da Aurora é de 2,5 milhões de kg de uvas na safra. Em relação ao total produzido, o percentual é baixo, porém para as famílias, bastante significativo. “Alguns produtores perderam até 70% da área produtiva, então isso é muita coisa”, lembra Bonafé.

Por isso, no primeiro momento, logo após o desastre, a cooperativa focou no apoio emocional. “Chegamos nos produtores para consolar, dar força. Eu vim diversas vezes aqui visitar a família e disse, vamos lá, vamos lá!”, conta Julio Cesar Taufer, engenheiro agrônomo que atende a região da propriedade dos De Mari.

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Nos meses seguintes, choveu muito no Rio Grande do Sul, e não foi possível começar a trabalhar com o solo, o que acabou acontecendo a partir de setembro. Mas as plantas de cobertura só serão plantadas no próximo inverno, por isso, toda a parte de biológicos e adubação vai ter que esperar.

Vinhedos reconstrução
Família De Mari e agricultores parceiros no vinhedo destruído pelos deslizamentos na serra gaúcha. Foto: Eduardo Benini

Próxima safra plena só em 2030

Nos vinhedos da família De Mari, é possível ver duas áreas bem diferentes: uma ainda está com restos de galhos e montes de terras; mas outra já recebeu a estrutura do parreiral e o plantio de novas mudas. “Vontade pra isso a gente tem, né? E coragem também. Então vamos reconstruir isso aí, né?”, afirma Luciano.

Segundo o agricultor, o investimento total na propriedade deve ficar entre R$ 800 mil e R$ 1 milhão, sendo o maior custo na infraestrutura do vinhedo. O valor é quase o faturamento de uma safra, que em anos bons soma cerca de R$ 800 mil.

Luciano acredita que as próximas três ou quatro safras serão de baixo faturamento porque a recuperação dos vinhedos é lenta. As mudas plantadas agora só produzirão em três ou quatro anos. “Os próximos anos serão só investimento para depois começar a colher os frutos. A próxima safra plena só em 2030”, afirma Luciano.

Em média, a cooperativa calculou um custo de R$ 200 mil por hectare nessa recuperação, que começa com a reorganização do solo. Segundo o gerente agrícola, os cooperados recebem também orientação técnica e apoio na hora de obter financiamentos.

Bonafé explica que a vitivinicultura é uma atividade bastante rentável e que o custo de produção equivale a 20 mil quilos de uva por hectare. “Se eu produzir menos, eu estou no prejuízo, se eu produzir mais, eu vou ganhar cada vez mais”, resume.

*Jornalista viajou a Bento Gonçalves (RS) a convite da Vinícola Aurora

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