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Dia do Agricultor (a): O que elas querem no campo
Mulheres comandam 19% das propriedades rurais brasileiras e ainda enfrentam desafios na liderança dos negócios na agricultura

Há quatro anos, o sonho de Ana Paula da Silva Furtado era sair do interior de Boqueirão do Leão (RS) e morar na cidade. Nem parece a jovem de 19 anos que, atualmente, é empreendedora e cultiva morangos em estufa na propriedade da família. “Trabalhamos eu, minha mãe e meu pai na estufa. Já chegamos a colher 5 kg por dia”, conta. Agora, com o frio e as chuvas, a produção diminuiu.
Em 2019, Ana Paula fez um curso de gestão e empreendedorismo do Instituto Crescer Legal, projeto do Sindicato das Indústrias de Tabaco (Sinditabaco) e empresas parceiras, que oferece cursos de ensino e profissionalização para os jovens do campo nos três Estados do Sul. As aulas foram o impulso para que ela enxergasse de outra forma o meio rural.
“Hoje eu vejo que existem boas oportunidades no meio rural para as mulheres. Buscar esse espaço depende de nós mesmas”, reflete.


Participação das mulheres
Segundo o último Censo Agropecuário do IBGE, mais de 6 milhões de mulheres atuam no campo e representam 34% da força de trabalho agrícola do País. No comando das propriedades rurais, estão apenas 19% delas. Nesse grupo, estão jovens como Ana Paula, que decidiu seguir os passos da família cedo, e outras mulheres que chegaram um pouco mais tarde.
Com a mineira Michelle Morais, foi assim. Em 2006, ela e a irmã precisaram assumir os negócios após a morte do pai. “Foi um momento complicado e desafiador. Eu não tinha experiência no setor agropecuário e a empresa estava toda na cabeça dele”, lembra Michelle, contando que levou um tempo para elas entenderem o mercado e também ganharem a confiança das pessoas.
Depois de um período de adaptação e aprendizado, as duas investiram em uma gestão voltada para inovação e sustentabilidade. Além de criar gado, ela apostou na silvicultura, plantando eucaliptos em áreas degradadas. “Foi uma estratégia para diversificar e otimizar áreas que estavam difíceis de utilizar para pecuária.”

A trajetória da produtora também reflete a evolução da participação feminina no setor agrícola, um ambiente historicamente masculino. “Era muito desafiador ser uma mulher jovem no comando. Eu precisei provar meu valor constantemente e construir uma rede de contatos sólida.”
Perseverança
O início da jornada de Juliana Farah na agricultura também começou em um ambiente completamente masculino. Aos 19 anos, ela foi trabalhar com o pai em um curtume de couro no interior de Goiás. “Foi um dos grandes aprendizados da minha vida.” Ela lembra que dessa convivência, saíram lições como a importância de um posicionamento firme. “Aprendi muito com meu pai, que me orientou e mostrou que eu precisava ser forte e não abaixar a cabeça por ser mulher.”

Hoje, Juliana lidera fazendas em Mato Grosso e São Paulo e compartilha o aprendizado e a experiência com outras mulheres em uma iniciativa pioneira no interior paulista. Com o intuito de transformar o setor agrícola, ampliando a visibilidade e a autonomia das mulheres que trabalham no campo, a agricultora comanda a vice-presidência da Comissão Semeadoras do Agro da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de São Paulo (FAESP).
“Quando você compartilha um pouco do que viveu, traz muita proximidade com essas mulheres, porque todas nós vivemos as mesmas dores, de forma diferente”, diz. Em 2024, dez mil mulheres participaram dos eventos que buscam fortalecer a autoestima e a autonomia financeira das mulheres do campo e levar informações sobre saúde e empreendedorismo.
Embora o cenário esteja mudando, ainda há barreiras a serem superadas. A dica de ouro para vencer não está nos manuais: “A perseverança é crucial para conquistar a igualdade de oportunidades no meio rural. Todas nós devemos ter fé na mulher que nascemos para ser”, conclui Juliana.
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