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Do chão de fábrica para a lavoura: com experiência industrial, agricultor “vira a mesa”em fazenda
Com mais de 30 anos de experiência na indústria, produtor diz que ambientes têm similaridades, mas Agro é mais desafiador
Daumildo Júnior* | Rio Verde (GO) | daumildo.junior@estadao.com
16/02/2025 - 09:00

Quem vê Alexandre Baumgart ganhando o Desafio Nacional de Produtividade de Soja da região Centro-Oeste realizado pelo Comitê Estratégico Soja Brasil (CESB) não imagina que antes de se tornar produtor rural, ele trabalhou por 33 anos no setor industrial. E como ele mesmo conta, foi de lá que trouxe muitas coisas para a Fazendas Reunidas, em Rio Verde (GO).
“Eu trago toda essa carga de ter trabalhado forte na indústria: parte de organização, de produção, controle, gestão,venda, compra de insumos. E é muito parecido com fazenda em relação ao contexto, ao conceito. Na prática é completamente diferente”, elucida.
A história com a atual propriedade, que é um dos negócios do Grupo Baumgart, começou quando ele tinha oito anos. De férias em férias, ele frequentava a fazenda. O tempo foi passando e aos 16 anos assumiu o negócio, mas sem se dedicar a 100%, sendo o foco principal na indústria da família. Enquanto isso, a tarefa de gerir e acompanhar a propriedade rural foi delegada para um gestor, o que não deu muito certo.
“Eu já tinha montado toda uma estrutura de controle [na fazenda]. Estava vendo o barco afundar bem controladamente. Aí eu tirei o gestor e assumi”, conta Alexandre. A virada de mesa foi a partir de 2018. “De lá para cá, a gente virou a curva para cima. Começamos a produzir bastante e começou a dar dinheiro. Desde a implantação da fazenda que não dava dividendos para os sócios. De patinho feio virou a estrela do grupo [Baumgart]”, destaca.
O “patinho feio” agora espera colher entre 80 e 82 sacas de soja na atual safra em uma área de 9,1 mil hectares. Além da soja, a receita da Reunidas é baseada em outros produtos, como a venda de bovinos, lavouras de milho e girassol, e também de crédito de carbono, por meio da CPR Verde.
Dividir para crescer
Na comparação entre guiar um negócio rural e um industrial, Alexandre diz ser “moleza” gerir uma indústria. “A indústria é muito mais controlada, muito mais previsível. O mercado não sobe e desce da manhã para noite. Você consegue trabalhar de forma mais previsível. E no agro é tudo imprevisível, desde a compra do insumo. Quando você está comprando o insumo a relação de troca não vai ser a mesma que você vai ter quando estiver vendendo. Fica tudo de cabeça para baixo”, comenta.
É esse conjunto de variantes que faz do trabalho do gestor um desafio diário. Por isso, Alexandre trouxe da indústria a ideia de segmentar as áreas. Por exemplo, hoje, a Reunidas conta com pessoas e áreas para agricultura, pecuária, administrativo, manutenção de máquinas e equipamentos e até um encarregado pelo ESG da propriedade. É cada um no seu lugar e ninguém pensando no lugar do outro.
“Eu diria que a indústria me formatou, só que o conjunto de informações que a indústria imputa na sua formatação é muito menor do que no agro. Agro você realmente precisa dividir muito mais. No agro, quem disser que faz tudo sozinho e faz bem está mentindo. Precisa dividir para conseguir extrair o máximo de potencial que cada uma das áreas tem para dar”, acrescenta.
Receita e despesa: quem manda é o Excel
Um ponto considerado essencial por Alexandre é o planejamento financeiro claro. Ele explica e resume o processo como: fazer um orçamento com receitas e despesas previstas em cada momento, prever uma produtividade modesta, monitorar o previsto e o executado mês a mês e ajustar a cada mês as despesas levando em consideração o resultado almejado no final do ano.
“Esses somatórios de receitas e despesas vão mexer na projeção do seu resultado no final do ano e isso vai te educando. Se você consegue gerir bem o teu custo, o resultado vem. Mas você precisa ter a cultura de controlar as suas contas, de ver o que você está fazendo hoje, qual é o efeito que isso vai te dar lá na frente”, pontua o CEO da Fazendas Reunidas.
Apesar de não ser pequena — cerca de 25 mil hectares de terra, segundo Alexandre, a propriedade é gerida como se assim fosse. Nesse sentido, ele aponta que pequenos e médios produtores devem estar atentos e buscarem uma gestão mais eficiente e profissional.
“Quando falo em profissionalizar é ter atitudes profissionais. Não misturar o caixa particular com o caixa do negócio. Não pode haver desperdício, tem que ter uma cultura de economia, de remuneração por salário para o próprio agricultor. E vai ter que procurar se informar muito sobre tecnologias para produzir mais”, exemplifica.
Como dica final, o produtor de Rio Verde faz uma espécie de roteiro para alcançar o sucesso, independente do tamanho da propriedade. Ele ressalta o papel dos fornecedores, especialmente, na hora da aquisição dos insumos, ponto nevrálgico e um dos poucos que são controláveis na visão de Alexandre.
“Eu acho que é procurar informação, procurar aprender. O primeiro caminho é aprender com os próprios fornecedores. Procurar aprender a fazer uma boa comercialização. Colocar algum sistema de gestão e começar a se organizar, não usar mais talão de cheque ou o ‘pago com o que tem na conta’. Precisa separar as contas da família das contas do negócio. Além disso, aprender e entender qual é o melhor momento para comprar os insumos e o melhor momento de vender a produção. E investir em pessoas”, sinaliza.
*Jornalista viajou a convite da BASF
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