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Cafeicultura no DNA: a trajetória de Carmem Lucia reeleita presidente da BSCA
Com um legado familiar na produção de café, Carmem projeta um futuro promissor para os cafés especiais no Brasil e no exterior
Sabrina Nascimento | São Paulo
25/12/2024 - 08:05
Sendo a terceira geração de uma família com tradição na cafeicultura, Carmem Lucia Chaves de Brito foi reeleita para a presidência da Associação Brasileira de Cafés Especiais (BSCA). Com a decisão, Ucha, como é conhecida, dará continuidade à sua gestão à frente da entidade, iniciada em 2014.
Para o novo ciclo, Carmem almeja continuar fazendo uma cafeicultura cada vez mais estabelecida, com propósito, realmente voltada à qualidade e a questões de impacto positivo na natureza e na sociedade.
E, se depender de seu legado, a meta de Ucha se torna perfeitamente alcançável. Nascida no sul de Minas Gerais, em Três Pontas, Carmem carrega no DNA a paixão e o comprometimento com o café.
Apesar de crescer cercada pelo aroma do café, Carmem passou boa parte de sua vida longe das plantações, estudando e desenvolvendo sua carreira no Rio de Janeiro. A perda de seu pai, entretanto, foi o divisor de águas que a trouxe de volta para Três Pontas.
“Quando meu pai faleceu, me impactou muito a ideia de dividir a fazenda, o legado de gerações da nossa família. Chamei meus irmãos e propus que ficássemos juntos, honrando o que nossos avós e pais construíram”, contou ao Agro Estadão com um sotaque que entrega suas origens.
Assim, sem nenhum arrependimento, Carmem trocou a vida agitada do Rio pelos desafios da gestão rural. Junto com um de seus irmãos, assumiu a administração das propriedades e mergulhou de corpo e alma na cafeicultura.
Ao adentrar no mundo do café, Ucha diz que a primeira coisa que ela fez foi estudar. Nessa trajetória, a Universidade Federal de Lavras foi seu berço de aprendizado. Além disso, ela buscou parcerias e fez questão de se inserir em um setor que, até então, ainda era majoritariamente masculino. “Quando eu cheguei, 17 anos atrás, havia poucas mulheres nesse universo. Hoje, é lindo ver como elas estão preparadas e ocupando espaços importantes”, menciona durante a conversa.
Café como motor de transformação
Mais do que uma bebida, Ucha vê o café como um agente de conexão e transformação. “O café une pessoas, transforma vidas e nos conecta ao mundo”, destaca com entusiasmo.
Para ela, o impacto da cultura não está somente na economia ou na gestão, mas também no fortalecimento das pessoas que trabalham dentro das fazendas. Em sua propriedade, localizada em sua cidade natal, Carmem preza pelo olhar humano e busca mostrar aos funcionários o valor de seu trabalho. “Eles entenderam que o que fazemos lá no campo tem um impacto enorme no mundo. Isso mudou a forma como eles enxergam o próprio trabalho e trouxe um desejo genuíno dos jovens de continuarem na fazenda”, enfatiza Ucha.
Essa mudança cultural rendeu frutos. Dionathan de Almeida, um jovem trabalhador da fazenda Caxambu — propriedade da família de Ucha —, tornou-se provador profissional de café e, em abril de 2024, foi eleito o campeão mundial do campeonato de provadores da bebida. Um título inédito para o Brasil.
“Um menino que começou lá dentro da fazenda, sendo a quarta geração da família que sempre trabalhou lá, hoje é campeão mundial de Cup Taster. […] o café especial faz isso, transforma vidas e traz oportunidades”, pontua Brito.
Assim como Dionathan, Ucha também é uma provadora experiente. Ao descrever a experiência de tomar café, ela associa a ação a um diálogo. “Quando coloco a bebida na boca, pergunto: ‘Quem é você? O que você quer me dizer?’ Porque o café fala. Ele dialoga”, frisou, ao destacar o café como uma arte, moldada por três pilares: o grão, o meio ambiente e o toque humano.
O futuro da cafeicultura
Para o futuro, Carmem enxerga um potencial ainda maior do café especial no cenário global. Entre as perspectivas, estão os mercados do Oriente Médio e da Ásia. Ela destaca ainda, uma futura participação da China.
“Hoje, a China está começando a olhar para o café. Na verdade, eles nem tomam café ainda. Mas uma China que nem toma café já está influenciando o mercado de todos os países produtores, especialmente o Brasil, porque estão olhando com muito carinho para a nossa produção”, ressalta.
Para Carmem, é importante pensar estrategicamente nesse mercado em ascensão. “Se considerarmos que amanhã uma pequena parcela da população chinesa, algo como 2% ou 3%, começar a consumir café, isso já significaria uma demanda equivalente à produção de mais um Brasil inteiro”, explica.
Além do mercado externo, Ucha também vê grandes oportunidades dentro do Brasil. Atualmente, o país é o segundo maior consumidor de café do mundo, muito próximo dos Estados Unidos. “Antes da pandemia, vimos um crescimento impressionante de mais de 20% ao ano no consumo de cafés especiais, enquanto o consumo geral de café crescia em torno de 2% a 3%”, relata.
Embora esses números tenham se ajustado, Carmem estima que o Brasil ainda esteja com um crescimento anual de 16% no segmento de cafés especiais, demonstrando que o consumidor brasileiro está valorizando a qualidade e novas experiências sensoriais proporcionadas pela bebida.
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