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Agricultor do RS perde lavoura quatro vezes seguidas: “primeiro a seca, agora a chuva”
Além das perdas nas lavouras, grãos estão apodrecendo no armazém; gado também sofre com a falta de pasto
3 minutos de leitura 13/05/2024 - 09:58
Fernanda Farias | fernanda.farias@estadao.com
Na região da campanha gaúcha, a estiagem costuma assombrar e provocar perdas nas lavouras e morte de animais. Mas na tragédia climática que o Rio Grande do Sul vive, a terra seca e os açudes vazios ficaram na memória do produtor rural. O que se vê são plantações inteiras submersas e pasto transformado em lama.
O produtor rural Alexandre Foster, de Santiago, está perdendo a lavoura e vendo o gado minguar na propriedade que tem no município vizinho, Itaqui. Ao Agro Estadão, ele desabafa: “A situação é coisa nunca vista. A nossa prioridade, estamos aqui desde 1960. Nunca foi visto nada igual”.
Assim como os demais produtores da região, Foster planta soja tardia, com início do ciclo entre dezembro e janeiro. Por isso, dos 800 hectares, apenas 200 hectares haviam sido colhidos antes das inundações. Ele conta que o grão que estava nos armazéns está apodrecendo.
“Os armazéns não têm capacidade para secagem. Então, estamos mandando grão molhado, avariado. A soja tá debulhando… abriu, brotou, ardeu. E não tem mais o que fazer”
Alexandre Foster, produtor rural
As carretas que conseguiram sair da propriedade na última semana levaram 25 mil kg de soja no espaço em que eram transportados 40 mil kg. No vídeo enviado ao Agro Estadão, rio e lavoura se misturam e não é possível saber a dimensão das perdas. “Pegou em cheio tanto de arroz quanto de soja. No mínimo 70% de perda”, estima Foster.
Os prejuízos vão além da propriedade. Cerca de 20 pessoas trabalham para o agricultor, entre mensalistas e safristas. Gente que não vai receber o dinheiro que esperava. “A decepção [das pessoas] é desolador. Isso aí e avassalador na economia do município”, afirma o produtor.
Além das perdas nas lavouras, animais estão perdendo peso
O produtor rural Alexandre Foster ainda não sabe dizer se perdeu animais na inundação. O rebanho de 600 cabeças está se alimentando com a reserva de feno que havia na propriedade, porque o pasto virou lama. Foster diz que depois que a chuva parar, ainda deve demorar de dois a três meses para que o pasto volte a crescer.
“O gado, é um horror, tu tira da enchente e atulhando onde não pega água. Onde cabe um, você coloca 5, 6 animais”, conta.
Com a previsão de frio para o Rio Grande do Sul, a preocupação aumenta, pois os animais já estão perdendo peso. Além disso, os cascos estão apodrecendo por conta da umidade.
Produtores rurais do RS vivem quarta safra de perdas
O cenário de hoje no Rio Grande do Sul é tão devastador que fica até difícil imaginar perdas nas lavouras por outro tipo de fenômeno climático. Mas o produtor Alexandre Foster lembra muito bem o drama que ele e outros produtores do estado vivem há quatro safras.
“Faz três anos que temos prejuízo, são três secas seguidas. E a seca passada não foi visto nada igual. E agora veio a chuva”, conta, destacando que o prejuízo atual é muito maior do que representa.
Na fazenda, em Itaqui, o açude praticamente secou e a terra rachou, como mostra essa foto abaixo da safra 2022/23. Foster diz que esta é a terceira geração da família de produtores rurais. A tristeza na voz não esconde a decepção, mas também revela força diante de mais um drama. “Tijolo a tijolo. Vai ter que fazer tudo de novo”.
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