Economia
Quem pode substituir os EUA na exportação de carne bovina para China?
Pequim ainda não renovou as habilitações de parte dos frigoríficos norte-americanos, deixando espaço aberto no mercado

Sabrina Nascimento | São Paulo | sabrina.nascimento@estadao.com
20/03/2025 - 13:00

Até o momento, a China ainda não renovou as habilitações de parte dos frigoríficos de carne bovina dos Estados Unidos (EUA). Os documentos expiraram na segunda-feira, 16.
No início da semana, Pequim restaurou apenas as autorizações para instalações de carne suína e de aves, que também haviam expirado, deixando o questionamento no mercado: quais países podem suprir essa fatia das importações chinesas de carne bovina?
O ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, acredita que esse fluxo pode ser direcionado ao Brasil. Entretanto, apesar do setor brasileiro ser o principal mercado exportador da carne bovina para a China, respondendo por 45% do faturamento total das compras chinesas em 2024, especialistas não enxergam em uma transferência automática dessa demanda para Brasil. “Eu acredito que não vai ter uma transferência para a nossa carne, porque realmente são níveis de preços diferentes, tipos de mercadorias em geral diferentes. E a gente está falando de uma arroba nos EUA, com um preço médio para exportação muito superior aos preços aqui no Brasil. Então, já é uma carne que não tem uma competição muito direta”, destaca Hyberville Neto, diretor da HN Agro.
Dados da consultoria Agrifatto mostram que, em 2024, em média, a carne bovina norte-americana exportada para a China custou 122% a mais do que a carne brasileira. Lygia Pimentel, CEO da consultoria, enfatiza que esse diferencial evidencia que os segmentos atendidos por ambos os países são distintos, dificultando uma substituição direta do fornecimento. “Os EUA exportam para uma classe AA+ chinesa. Não é usual a China importar esse tipo de produto, mas tem nicho para isso. Então, eles importam pouco, em torno de 5% chegando dos EUA. A diferença é que o Brasil exporta outro tipo de carne, para fazer comida na rua, um lanche, um picadinho, uma carne moída”, explica.
A CEO da Agrifatto enfatiza que o Brasil também produz essa carne com um maior valor agregado, oriunda de raças como Angus. No processo, os animais são terminados em confinamento e alimentados com grãos, resultando em carne mais macia, marmorizada e valorizada no mercado.
No entanto, apesar da capacidade de produzir carne de alto padrão, as exportações brasileiras para a China são majoritariamente de cortes de dianteiro de animais Nelore, que compõem a maioria do rebanho nacional. Entre os quais estão: acém, paleta, costela, fraldinha e coxão duro e mole.
O diretor da HN Agro lembra ainda que, a expectativa de mudança no ciclo pecuário do Brasil nos próximos meses, resultando em uma maior retenção de fêmeas e menor oferta de carne, podem reduzir a competitividade brasileira no mercado internacional. “Ainda temos conseguido embarcar bons volumes para a China, mas com a perspectiva de menor oferta em 2025, nossa carne pode se valorizar, tornando-se menos competitiva em termos de preço”, salienta Neto.
Apesar disso, um cenário hipotético foi projetado pela Agrifatto para avaliar o impacto de um eventual aumento das exportações brasileiras de carne premium. Segundo os cálculos, o Brasil pode ter um incremento mensal de até 5% sobre o volume exportado, caso os chineses venham buscar essa carne com valor agregado no mercado brasileiro.

Austrália, Argentina e Uruguai podem ganhar esse mercado
Um dos mercados que tem aparecido como aposta dos analistas para suprir a fatia dos EUA na China é a Austrália. No ano passado, segundo dados da Alfândega da China, o país ficou em terceiro lugar no ranking de faturamento das importações chinesas de carne bovina, com 11%, atrás do Brasil (45%) e da Argentina (16%), porém, na frente dos EUA (10%).
Além disso, somente em fevereiro, as exportações de carne bovina australiana tiveram uma alta mensal de 44%, com 117 mil toneladas embarcadas. A demanda, segundo a Agrifatto, foi impulsionada pela procura do Japão, Coreia do Sul e da China, que têm buscado cada vez mais a proteína produzida na Austrália, registrando um incremento mensal de cerca de 43%. “A Austrália está atualmente com preço em dólares mais baixo do que a Argentina e Uruguai, então possivelmente sairia de lá”, disse Lygia.
Apesar dos indicadores apontarem um certo favoritismo ao país da Oceania, a Argentina e o Uruguai também estão no páreo. “A nossa leitura é que o preço da carne no mercado externo é muito influenciado pela percepção de valor, pelo marketing que esses países fazem. E nós temos o Uruguai, a Argentina e a Austrália com décadas trabalhando nisso”, frisa Hyberville.

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