Economia
MAPA acelera medidas ‘paliativas’ contra tarifas dos EUA sobre o agro
Com US$ 12 bilhões em risco, Ministério da Agricultura tenta abrir frentes na Ásia, América Central e União Europeia

Sabrina Nascimento | São Paulo | sabrina.nascimento@estadao.com
28/07/2025 - 15:07

A quatro dias da entrada em vigor das tarifas de 50% impostas pelos Estados Unidos (EUA) sobre produtos brasileiros, o Governo Federal mapeia caminhos alternativos para mitigar os efeitos da medida sobre as exportações do agronegócio. Atualmente, o setor responde por US$ 12 bilhões dos embarques brasileiros aos EUA — cerca de 7% do total exportado pelo setor, segundo o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa).
O secretário de Relações Exteriores do Mapa, Luís Rua, detalhou as ações classificadas por ele como ‘paliativas’, durante reunião do Conselho Superior do Agronegócio (Cosag) da Federação das Indústrias do estado de São Paulo, nesta segunda-feira, 28. Conforme Rua, as iniciativas envolvem abertura de novos mercados, ampliação de destinos existentes e articulação comercial com países estratégicos. “A gente mapeou 90 ações pelos nossos adidos agrícolas. […] São medidas emergenciais que não resolvem tudo, mas que podem ajudar a amortecer parte dos impactos”, afirmou durante o encontro.
Entre as ações concretas já em andamento, Rua citou a recente auditoria realizada pelo México com o objetivo de ampliar em 45% o número de plantas brasileiras habilitadas para exportar carne bovina. Segundo ele, essa ampliação pode abrir espaço adicional significativo para absorver parte da produção que perderá mercado nos EUA.
Além disso, o secretário informou que viajará nos próximos dias ao Japão e à Coreia do Sul, com duas agendas principais: ampliar o acesso da carne bovina brasileira e promover comercialmente o suco de laranja nacional — que, segundo ele, deve conquistar uma cota específica no mercado sul-coreano. “Também está prevista uma missão minha para a América Central e para o Caribe nas próximas três semanas”, afirmou.

União Europeia e Mercosul
Outra frente considerada essencial pelo governo é intensificar as articulações em nível presidencial, para viabilizar a assinatura do acordo comercial entre a União Europeia e o Mercosul. “Mais do que um gesto de alinhamento entre dois blocos importantes no mundo, o acordo nos daria oportunidades comerciais concretas”, destacou Rua. Entre elas, citou cotas de 99 mil toneladas para carne bovina, 180 mil toneladas para frango, 25 mil toneladas para carne suína, redução tarifária para o açúcar e desgravação no café — incluindo a equiparação da tarifa do café solúvel com a do grão verde.
Rua lembrou ainda que, setores como de carne bovina, manga, tilápia, açúcar, café e suco de laranja devem sentir um maior impacto das tarifas. “Cerca de um terço do suco que exportamos vai para os EUA. E não é simples desviar esse fluxo: há exigências logísticas, refrigeradas, contratos em andamento”, explicou. “Estamos falando de exportações relevantes, em grande volume. Só em carne bovina, são de 300 a 400 mil toneladas que podem ficar sem destino. Não dá para substituir isso da noite para o dia”, acrescentou.
Negociações
O secretário também comentou que os EUA, atualmente, estão mais focados em negociar com outras nações, o que tem dificultado o espaço de diálogo para o Brasil. “Infelizmente, não somos prioridade nesse momento”, disse. Neste contexto, ele defendeu uma maior participação do setor privado nas articulações, principalmente no contato direto com as indústrias norte-americanas.
Um dos casos citados foi o diálogo mantido entre o Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé) e a Confederação Nacional do Café dos EUA, em uma tentativa de sensibilizar o governo Trump sobre os impactos das novas tarifas nas importações do café brasileiro.

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