Economia
Gripe aviária muda rotina e intensifica cuidados no setor
Prevenção contra a gripe aviária envolve desinfecção de veículos, uso de EPIs e mudança no calendário de eventos

Sabrina Nascimento | São Paulo | sabrina.nascimento@estadao.com
12/06/2025 - 08:00

Há quase um mês, o Brasil confirmou o primeiro caso de Influenza Aviária de Alta Patogenicidade (IAAP) em uma granja comercial localizada no município de Montenegro (RS). Desde então, países importadores impuseram barreiras comerciais, e o setor já sentiu os impactos com a queda nas exportações mensais de carne de frango.
Internamente, o episódio também provocou mudanças. Nesta semana, o Ministério do Meio Ambiente restabeleceu o Centro de Operação de Emergência (COE) para a gripe aviária. A medida foi publicada no Diário Oficial da União e atribui ao COE a função de monitorar, propor e coordenar ações ambientais para mitigar os efeitos da IAAP (vírus H5N1) em animais silvestres. O colegiado, que contará com representantes do Instituto Chico Mendes e do Ibama, deverá se reunir a cada 15 dias.
Empresas reforçam protocolos
A confirmação do caso em território nacional também acendeu o alerta dentro das empresas que integram a cadeia produtiva. A Mig-Plus, especializada em nutrição animal, intensificou os protocolos de biossegurança, especialmente no transporte de ração e no controle sanitário de sua unidade fabril, localizada em Casca (RS).
Ao Agro Estadão, João Elias, médico-veterinário e gerente da linha de aves da empresa, explicou que, por trabalharem com ração, é essencial garantir que o transporte até as granjas seja o mais seguro possível. “O risco de contaminação cruzada é real. Caminhões circulam por várias propriedades e podem carregar o vírus nos pneus ou superfícies externas”, salientou.
Uma das principais medidas adotadas é a desinfecção rigorosa dos veículos, realizada com bomba costal e solução à base de amônia quaternária a 40% – utilizada também em ambientes hospitalares e industriais. Hoje, a empresa possui uma frota de cerca de 200 caminhões, que passam por esse processo antes de entrar ou sair da fábrica.

Além disso, os motoristas utilizam botas descartáveis ao descer do veículo nas propriedades. O descarte desses Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) é feito fora das granjas, em sacos plásticos levados de volta para a fábrica. “Isso sempre foi uma prática da empresa, mas agora as exigências estão mais rígidas, e o treinamento dos funcionários foi reforçado”, destaca Elias.
Segundo ele, as medidas de biossegurança dentro das granjas são responsabilidade dos produtores, que contam com assistência técnica própria, mas as ações das empresas fornecedoras também contribuem para evitar a disseminação do vírus. “O que a gente faz é da fábrica até a porteira. Depois disso, cabe aos responsáveis técnicos das granjas garantir os procedimentos adequados”, ressalta.
Festa do Ovo adiada por precaução
A preocupação com o avanço do vírus também impactou o calendário de eventos da avicultura. O prefeito de Bastos (SP), Kleber Lopes, anunciou o adiamento da tradicional Festa do Ovo 2025, que agora será realizada de 27 a 31 de agosto. A decisão foi tomada em conjunto com o Sindicato Rural de Bastos e a Associação Cultural e Esportiva Nikkey (ACENBA).
“Não cancelamos a festa. Mudamos a data para proteger nossa economia, a avicultura local e os empregos gerados pelo setor”, afirmou o prefeito em uma live nas redes sociais. Segundo ele, a nova data foi escolhida estrategicamente para que o evento ocorra após o pico migratório das aves – período de maior risco sanitário.
A presidente do Sindicato Rural, Cristina Nagano, destacou a importância da decisão. “Foi uma escolha difícil, mas necessária. São mais de 3 mil empregos diretos e cerca de 10 mil indiretos ligados à avicultura. Com mais tempo, conseguimos reorganizar contratos, garantir apoio dos patrocinadores e realizar uma festa segura, com novas regras de biossegurança”, afirmou.

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