PUBLICIDADE

Economia

Economistas seguem apostando em inflação acima da meta e taxa de juros congelada até o fim do ano

Cenário aponta para custos de produção elevados no setor agropecuário

Nome Colunistas

Rafael Bruno

01/07/2024 - 16:31

Foto: Adobe Stock
Foto: Adobe Stock

Pela oitava semana seguida, a previsão do mercado financeiro para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) – considerado a inflação oficial do país – teve elevação, passando de 3,98% para 4% este ano. A informação consta no Boletim Focus, divulgado nesta segunda-feira, 1°, pelo Banco Central.  Para 2025 a projeção da inflação também subiu de 3,85% para 3,87%

A estimativa para este ano está acima da meta de inflação do BC, que é de 3%, com margem de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo.

Conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE), em maio a inflação oficial do país foi de 0,46% e em 12 meses, o IPCA acumula alta de 3,93%.

Crescimento econômico sem fôlego

Quanto à projeção das instituições financeiras para o crescimento da economia brasileira neste ano, houve manutenção em 2,09%.  Para 2025, a expectativa para o Produto Interno Bruto (PIB) é de avanço de 1,98%, leve recuo ante 2% estimado na semana passada.

A previsão de cotação do dólar ao fim de 2024 subiu de R$ 5,15 para R$ 5,20. Para o fim de 2025, a estimativa avançou de R$ 5,15 para R$ 5,19.

PUBLICIDADE

Alta do dólar e incertezas econômicas refletem sobre os juros e impacta o campo

Após o Banco Central interromper em junho o corte de juros iniciado há cerca de um ano, os agentes financeiros consultados pelo BC acreditam que a Selic – taxa básica de juros – deve encerrar 2024 no patamar que está hoje, em 10,5% ao ano. Para o fim de 2025, a estimativa é de que a taxa básica caia para 9,5% ao ano.

Para o professor da Faculdade de Economia da Universidade de São Paulo (FEA-USP), Celso Grisi, “está formada entre os executivos que respondem à pesquisa Focus, a convicção de que descompromisso com os problemas fiscais vão conduzir a índices mais altos de inflação e que as declarações do governo sobre o tema desancoram as expectativas sobre a evolução dos preços.”

Ainda de acordo com o professor, essa e outras previsões sobre o comportamento dos preços, devem impactar a próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), a ser realizada entre os dias 30 e 31 de julho.  “Dificilmente o Copom terá condições para aumentar a taxa Selic, mas certamente não terá clima para reduzi-la. Esse patamar foi dado como suficiente pelo presidente do Banco Central,” comenta Gris ao Agro Estadão.

Para a economista Camila Abdelmalack, da Veedha Investimentos, uma taxa de juros maior gera atratividade, no entanto, há uma análise risco a ser gerida: “apesar do corte de juros e da Selic estar num patamar de 10,50% – esse ainda é um nível elevado de juros e consequentemente de retorno dentro da renda fixa -, ao olhar do investidor tem essa atratividade, mas há a análise de que se vale a pena por conta do risco-país”. Para Abdelmalack, diante das incertezas domésticas, o investidor estrangeiro tende a optar por outros países emergentes.

O economista Roberto Troster destaca que quanto mais alta for a Selic, mais alto será o custo do crédito e assim, consequentemente, o setor agropecuário pode ser prejudicado na tomada de crédito no curto prazo. Entretanto, o  ex-economista-chefe da Febraban acredita que – apesar dos dados desta segunda-feira do Relatório Focus – o cenário futuro tende a ser melhor: “o fato de subir a Selic e a taxa de câmbio nesta projeção, dificilmente vai se manter por muito tempo, acredito que o dólar vai cair porque [….] quando aumenta as exportações, com os preços das exportações mais altos, a tendência é que o câmbio caia”. Para Troster, com o arrefecimento da moeda norte-americana ante o real, a tendência é de que a inflação e a taxa de juros voltem a diminuir.

PUBLICIDADE

Percepção não acompanhada pelo professor da USP, Celso Grisi: “a continuar com essa política fiscal será difícil controlar a inflação e com essa monetária será difícil estimular o crescimento. Seria necessário harmonizar esses elementos macroeconômicos de forma a, no médio prazo, garantirmos estabilidade da moeda e crescimento econômico. A perspectiva até o momento é de agravamento do quadro geral da economia, cuja direção vai encontrar-se com a estagflação.”

Para Stefan Podsclan, consultor na Agrifatto, as expectativas retratadas pelo mercado financeiro estão relacionadas ao desalinhamento entre o presidente da república e sua equipe econômica, “mais evidente no confronto direto entre o presidente Lula e Roberto Campos Neto [presidente do Banco Central] sobre o direcionamento da taxa de juros e rumo da política fiscal, com o governo aumentando gasto e arrecadação sem controlar os custos.”

Os impactos da política sobre a trajetória econômica também são destacados por Grisi, “bastaria apenas um sinal do governo de que estaria disposto a reduzir despesas para facilitar o trabalho do Bacen. Mas o presidente Lula parece não querer abandonar suas convicções populista, deixando à margem os problemas de endividamento do estado e de seus sucessivos déficits.”

Seguindo essa espiral, o dólar tende a continuar forte, cenário positivo para a precificação de commodities, deixando o Brasil mais barato e mais competitivo, resultando em melhor desempenho do setor na balança comercial. No entanto, de acordo com o consultor da Agrifatto, há pontos negativos relacionados aos custos de importação e exportação (frete marítimo, seguros etc.) que são dolarizados e encarecem essas despesas: “produtos importados também já encareceram, como fertilizantes e defensivos, com esse dólar mais fortalecido, implicando em elevação do custo de produção”, afirma Podsclan.

Para o professor da USP é de se imaginar que inflação mais elevada possa desequilibrar os preços relativos e que a agricultura possa ver os preços de insumos crescerem: “O plantio exige quantidades de fertilizantes e defensivos corretas, sob pena de perdas expressivas de produtividade […] os preços das commodities é sempre um desafio. No momento, observamos alta no cacau pela queda da oferta. No café vivemos um período de incerteza dos preços em função das expectativas sobre o comportamento do clima. A mandioca encontra-se com o plantio e a colheita atrasadas em função da seca nas regiões produtoras, o que pode significar aumentos de preços”, analisa Grisi. Já sobre a soja, o crescimento razoável da produção americana este ano com um clima favorável e a expansão da área plantada, “pode acentuar a tendência baixista desse grão”. No milho, a análise segue a mesma linha. Segundo o especialista da USP, “embora os bons preços para a safrinha, essa tendência deve acabar e uma nova onda baixista está chegando”. Sobre as proteínas, Grisi alerta: “a arroba do boi não deve apresentar melhoria dos preços dada a boa oferta mundial. Na carne suína a tendência ainda é de alta para o curto e médio prazos.”

Siga o Agro Estadão no WhatsApp, Instagram, Facebook, X, Telegram ou assine nossa Newsletter

PUBLICIDADE

Notícias Relacionadas

Com ajuda dos EUA, Austrália deve bater recorde nas exportações de carne bovina

Economia

Com ajuda dos EUA, Austrália deve bater recorde nas exportações de carne bovina

No acumulado de janeiro a setembro, as exportações da proteína australiana cresceram 16,5% 

Polícia investiga esquema de R$ 120 milhões em golpes na venda de grãos

Economia

Polícia investiga esquema de R$ 120 milhões em golpes na venda de grãos

Foram cumpridas 87 ordens judiciais em nove Estados contra a associação criminosa que aplicava estelionato eletrônico no agronegócio

Metanol: como falhas na produção podem causar contaminação

Economia

Metanol: como falhas na produção podem causar contaminação

Presente em pequenas quantidades, o metanol se torna perigoso quando há falhas na destilação ou adulteração de bebidas

Brasil e Singapura fecham acordo para ampliar comércio de proteína animal

Economia

Brasil e Singapura fecham acordo para ampliar comércio de proteína animal

Acordo prevê a cooperação em temas técnicos e regulatórios, e apoio a ações envolvendo carnes de frango, suína e produtos processados

PUBLICIDADE

Economia

Exportações de amendoim até agosto registram recorde de 180 mil toneladas

Com 86% da produção nacional, Estado de São Paulo consolida liderança e amplia presença no mercado internacional

Economia

Exportações agropecuárias fecham setembro com incremento de 18%

Mesmo sem os Estados Unidos, carne e café cresceram em receita; animais vivos e tabaco também se destacaram nas remessas de setembro

Cotações

Exportação de algodão na safra 2024/2025 vai depender do apetite chinês

Chineses colheram supersafra de algodão, o que, segundo o IBA, afeta os embarques brasileiros; para a Índia, expectativa é de crescimento

Economia

Maior área de plantio de grãos pode impulsionar venda de máquina agrícola

Projeção é da Abimaq e se baseia em números da Conab, que estima plantio de 84,24 milhões de hectares contra 81,74 milhões na safra anterior

Logo Agro Estadão
Bom Dia Agro
X
Carregando...

Seu e-mail foi cadastrado!

Agora complete as informações para personalizar sua newsletter e recebê-la também em seu Whatsapp

Sua função
Tipo de cultura

Bem-vindo (a) ao Bom dia, Agro!

Tudo certo. Estamos preparados para oferecer uma experiência ainda mais personalizada e relevante para você.

Mantenha-se conectado!

Fique atento ao seu e-mail e Whatsapp para atualizações. Estamos ansiosos para ser parte do seu dia a dia no campo!

Enviamos um e-mail de boas-vindas para você! Se não o encontrar na sua caixa de entrada, por favor, verifique a pasta de Spam (lixo eletrônico) e marque a mensagem como ‘Não é spam” para garantir que você receberá os próximos e-mails corretamente.