Economia
Do campo à barra: entenda como o cacau vira chocolate
Da colheita à temperagem, veja como pequenos cuidados impactam no sabor e no mercado do chocolate

Redação Agro Estadão*
30/08/2025 - 08:00

O cacau, fruto tropical de grande relevância histórica e econômica, é a base para uma das paixões mais universais: o chocolate.
A qualidade desse produto final está intrinsecamente ligada à matéria-prima e ao processo de transformação. Para o produtor rural, compreender cada etapa de como o cacau vira chocolate é essencial para otimizar a qualidade da produção e agregar valor ao seu trabalho.
Segundo a Associação Brasileira da Indústria de Chocolates, Amendoim e Balas (Abicab), o consumo de chocolate chegou a 3,9 quilos por pessoa em 2024. Esse aumento na demanda ressalta a importância de uma produção de cacau de alta qualidade.
O início de como o cacau vira chocolate
A jornada do cacau ao chocolate começa no campo, com a colheita seletiva. Os produtores devem estar atentos ao estágio ideal de maturação dos frutos, pois isso impacta diretamente a qualidade das amêndoas.
A colheita é realizada manualmente ou com o auxílio de podões, sempre com o cuidado de evitar danos às cabaças, que podem comprometer a fermentação.
Após a colheita, ocorre imediatamente a quebra das cabaças para a retirada das amêndoas envoltas pela polpa mucilaginosa. A higiene nesta etapa é fundamental para evitar contaminações indesejadas.
A rapidez no processo garante que as amêndoas iniciem a fermentação no tempo certo, fator importante para o desenvolvimento do sabor do futuro chocolate.
Processo de fermentação do cacau

A fermentação é considerada a etapa mais crítica para o desenvolvimento dos precursores de sabor e aroma característicos do chocolate. Durante esse processo, leveduras e bactérias agem sobre a polpa, gerando calor e provocando transformações químicas nas amêndoas.
Existem diferentes métodos de fermentação, como o uso de caixas de madeira ou pilhas no chão. O revolvimento das amêndoas, conhecido como viragem, é essencial para garantir uma fermentação homogênea.
O controle da temperatura e do tempo são fatores fundamentais nesta fase. Boas práticas de fermentação podem aumentar significativamente o valor comercial da amêndoa.
Após a fermentação, vem a etapa de secagem das amêndoas. Os métodos mais comuns incluem a secagem solar em barcaças ou o uso de secadores mecânicos. O objetivo é reduzir o teor de umidade para cerca de 7 ou 8%.
Uma secagem inadequada pode resultar no crescimento de mofo, perda de qualidade e até mesmo no descarte do produto. Esta etapa é fundamental para a conservação das amêndoas e para prepará-las para as próximas fases de transformação em chocolate.
Etapas industriais essenciais de como o cacau vira chocolate
Torrefação
O processo de torra das amêndoas secas é realizado com temperatura e tempo controlados. Esta etapa é fundamental para desenvolver os sabores e aromas complexos do chocolate.
Além disso, a torra facilita a separação da casca da amêndoa, resultando nos chamados “nibs” de cacau.
Quebra e moagem
Após a torra, as amêndoas são quebradas para obtenção dos nibs de cacau, que são a parte comestível da amêndoa. Em seguida, ocorre a moagem desses nibs em moinhos especiais.
Este processo libera a gordura natural do cacau, conhecida como manteiga de cacau, transformando os nibs em uma pasta líquida e quente, denominada licor de cacau ou massa de cacau.
Refino, conchagem e temperagem

O refino do licor de cacau é realizado em moinhos de rolo, geralmente com a adição de açúcar e outros ingredientes. O objetivo é reduzir o tamanho das partículas sólidas a um nível imperceptível na boca, conferindo uma textura suave e aveludada ao chocolate.
A conchagem é um processo prolongado de aquecimento, agitação e aeração da massa de chocolate. Esta etapa melhora a fluidez, remove compostos voláteis indesejados, como ácidos e umidade, e desenvolve ainda mais o sabor e aroma, resultando em um chocolate mais refinado.
Por fim, a temperagem consiste em resfriar e reaquecer o chocolate para estabilizar os cristais da manteiga de cacau.
Este processo confere brilho, crocância e evita o “fat bloom”, que são manchas esbranquiçadas na superfície do chocolate. Após a temperagem, o chocolate é moldado para adquirir sua forma final.
A atenção e o cuidado do produtor rural nas etapas iniciais, como colheita, fermentação e secagem, são fundamentais para a qualidade final do chocolate.
As boas práticas agrícolas e de pós-colheita estão diretamente relacionadas ao valor de mercado das amêndoas e à crescente demanda por cacau de alta qualidade por parte da indústria e dos chocolatiers.

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