Economia
Brasil consolida protagonismo no café canéfora e mira liderança mundial
Segundo o Cecafé, em 2026, o país pode superar o Vietnã e se tornar o maior exportador de café canéfora do mundo, dependendo do clima
Sabrina Nascimento | São Paulo | sabrina.nascimento@estadao.com
23/05/2025 - 08:00

O Brasil, já consolidado como o maior produtor e exportador de café arábica do mundo, caminha para assumir também a liderança do mercado global de café canéfora. De acordo com Marcos Matos, diretor-geral do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé), se as condições climáticas forem favoráveis, o país tem potencial para superar o Vietnã e se tornar, já na safra de 2026, o maior exportador mundial desse tipo de grão.
“O nosso conilon está arrasando em qualidade, sustentabilidade e produtividade. O mundo abraçou essa ideia, e, se não tivermos problemas climáticos, em 2026 a gente passa o Vietnã”, afirmou Marcos durante encontro virtual promovido pela Associação Brasileira de Marketing Rural e Agro, na quinta-feira, 22.
Tradicionalmente reconhecido pelo café arábica, o Brasil tem visto um crescimento consistente na produção de canéfora — que inclui as variedades conilon e robusta —, especialmente no Espírito Santo, Bahia e Rondônia. Atualmente, esse tipo de grão representa cerca de 30% da safra nacional, sendo o Espírito Santo responsável por aproximadamente 65% desse volume, seguido por Rondônia e Bahia.
Além disso, no cenário global, o canéfora é responsável por cerca de 40% da produção mundial, sendo essencial para a indústria, especialmente na fabricação de café instantâneo, segmento no qual o Vietnã lidera com ampla vantagem. Além do Vietnã, os maiores produtores são Brasil, Indonésia, Índia e Uganda.
Comparado aos concorrentes, na visão de Matos, o Brasil se destaca por uma combinação de alta produtividade, qualidade consistente e compromisso rigoroso com prazos e contratos.
Mas há um ponto de atenção em relação à presença internacional. Apesar de o Brasil ter setores bem estruturados, como carnes, etanol e algodão, o café brasileiro, segundo Marcos, ainda carece de protagonismo nas mesas de negociação globais. “Nosso importador nos conhece muito bem, sabe que somos competitivos. Mas, ao mesmo tempo, está numa posição cômoda. Porque o Brasil entrega tudo, mas o nosso produto fica escondido. Falta presença, falta contar nossa história”, salientou.
Reposicionamento do café brasileiro
Um recente mercado consumidor apontado como essencial para um possível redesenho do mercado mundial de café é a China. Desde 2017, as exportações brasileiras de café para o gigante asiatico cresceram 20 vezes, segundo o diretor do Cecafé. E a tendência é de expansão.
Marcos lembra que, até 2018, a China não aparecia nas estatísticas dos principais destinos do café brasileiro, ocupando a 30ª posição. A mudança, no entanto, veio após a indústria do Brasil adotar novas estratégias de mercado, como o envio de contêineres de café gratuitamente para grandes redes chinesas, acompanhados de vídeos mostrando as regiões produtoras e as histórias das famílias cafeeiras. “A embaixada nos alertou: os chineses não estão nem aí para a ideia de país grande ou forte. Eles querem ver histórias, gente, famílias. Adoram vídeos curtos, com narrativa afetiva. Foi o que fizemos”, conta.
O resultado surpreendeu. Desde 2023, a China já entrou no top 10 dos maiores compradores do café brasileiro — e as projeções indicam que o país asiático pode, em uma década, disputar com Estados Unidos e Brasil — respectivamente, primeiro e segundo principais consumidores globais da bebida — os primeiros lugares deste ranking.
Newsletter
Acorde
bem informado
com as
notícias do campo
Mais lidas de Economia
1
China acelera compras de carne bovina à espera de decisão sobre salvaguardas
2
Governo confirma municípios habilitados para renegociação de dívidas rurais
3
Metanol: como falhas na produção podem causar contaminação
4
Onde nascem os grãos da xícara de café mais cara do mundo?
5
Banco do Brasil dá início à renegociação de dívidas rurais com recursos livres
6
Setor de café pede urgência em negociação das tarifas com os EUA
PUBLICIDADE
Notícias Relacionadas
Economia
Indústria de máquinas agrícolas cresce 11,9% em setembro
No acumulado do ano, as exportações de máquinas agrícolas reduzem e vendas internas de tratores e colheitadeiras crescem
Economia
Preço do leite cai 19% em um ano; setor cobra ação contra produto importado
Importação de leite em pó do Mercosul pressiona produtores brasileiros e ameaça a autossuficiência do país em 2026
Economia
Após encontro, Trump reduz tarifas e China retoma compra de soja norte-americana
China deverá comprar 12 milhões de toneladas de soja ainda neste ano e 25 milhões de toneladas por ano pelos próximos três anos
Economia
Custos de produção estão maiores na safra 2025/2026, diz presidente da CNA
Estimativas preliminares da confederação revelam redução de 15% na margem bruta da soja para a temporada
Economia
Alugar, comprar ou terceirizar máquinas agrícolas? Estudo da CNA orienta produtores
Calculadora permite comparar custos e rentabilidade de cada modelo com base em dados reais do campo e nas condições regionais de produção
Economia
BB: restrição a produtores em recuperação judicial visa garantir sustentabilidade dos negócios
Inadimplência na carteira do agronegócio do banco atingiu, em junho de 2025, o maior nível da série histórica, 3,49% — cerca de R$ 12,7 bilhões em dívidas atrasadas
Economia
Soja brasileira será brutalmente atingida pelo acordo entre EUA e China?
Especialistas indicam redução dos prêmios e redução das margens dos produtores, porém, com grão brasileiro mantendo competitividade
Economia
Sicredi inicia renegociação de dívidas rurais
Instituição cooperativa tem R$ 2,2 bilhões em recursos controlados e prevê disponibilizar R$ 10,1 bilhões em recursos livres