Economia
Audiência nos EUA teve até acusação de trabalho infantil em fazendas
Associações norte-americanas fizeram acusações graves sobre o setor agropecuário brasileiro; tréplica do Brasil será apresentada na próxima semana

Daumildo Júnior | Brasília | daumldo.junior@estadao.com
04/09/2025 - 06:10

O Brasil “apanhou bastante” nesta quarta-feira, 3, em Washington, Estados Unidos, durante audiência que ouviu empresas e entidades sobre supostas práticas discriminatórias do país nas relações comerciais com os norte-americanos. Representantes do setor privado dos dois lados fizeram suas apresentações dentro do processo aberto sob a Seção 301 da lei de comércio norte-americana.
Pessoas que participaram da audiência relataram que algumas associações norte-americanas fizeram acusações graves sobre o setor agropecuário brasileiro. “Jogaram na mesa que o Brasil tem trabalho infantil”, relatou uma fonte escutada pela reportagem do Agro Estadão.
Um dos alvos foi a carne bovina. “O setor de carne apanhou muito”, comentou. Outra pessoa que esteve presente classificou as falas como “um monte de barbaridades”.
Uma das acusações foi feita pela U.S. Cattlemen’s Association (USCA) — Associação dos Pecuaristas de Gado de Corte dos Estados Unidos. “Alegaram que há trabalho infantil nas fazendas. Fiquei imaginando uma criança tocando boi Nelore no pasto”, ironizou.
“Falaram que comemos muito coração e rim de porco no Brasil, que são pratos típicos, para ter uma ideia do nível das inverdades”, relatou uma das fontes.
Quanto à resposta brasileira, os representantes de entidades ali presentes citaram a existência do Ministério do Trabalho e da legislação sobre o assunto. “Nossa posição aqui foi combativa em relação a isso, porque nós temos o Ministério do Trabalho, uma série de normas e certificações que precisam comprovar compliance em relação a isso”, disse um dos apresentadores brasileiros.
Brasil fará tréplica na próxima semana
O ex-secretário de Comércio Exterior e colunista do Agro Estadão, Welber Barral, participou da audiência representando a União da Indústria de Cana-de-Açúcar e Bioenergia (Unica). Ele qualificou as acusações como “irreais” e disse que falta um conhecimento da realidade brasileira.
“Acho que o Brasil precisa, inclusive, de um trabalho de, realmente, relações públicas por conta dessa imagem. Mas, tecnicamente, eu acho que nós temos muito argumento para protocolar e para mostrar que nada disso é real”, falou ao Agro Estadão.
A tréplica do Brasil deve ser apresentada pelas entidades na próxima semana. A intenção é levar dados técnicos para rebater as acusações dos norte-americanos. Segundo Barral, o clima é de que todo o processo seja finalizado ainda neste ano.

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