Teresa Vendramini
Produtora Rural, ex-presidente da Sociedade Rural Brasileira
Esse texto trata de uma opinião do colunista e não necessariamente reflete a posição do Agro Estadão
Opinião
Rastreabilidade, um grande desafio para o pecuarista
Os pequenos criadores serão os maiores penalizados com a obrigatoriedade do Programa Nacional de Rastreabilidade. E são eles os responsáveis por grande parte dos bezerros que são recriados e engordados
Cheguei há pouco do Pará, estado líder na produção nacional de açaí, abacaxi, cacau, dendê e mandioca. Em meio a tantas riquezas naturais, encontrei muitos desafios. A realização da 30ª Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas (COP 30), em 2025, aumentou a pressão sobre um tema que se arrasta há anos: a obrigatoriedade da rastreabilidade individual dos bovinos.
Com o segundo maior rebanho do país, o Pará tem o terceiro pior Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do Brasil. Um contraste gigantesco. Dados levantados pela consultoria ambiental Niceplanet, são mais de 314 mil CARs (Cadastro Ambiental Rural) registrados no estado, sendo que 90% deles têm até 300 hectares, 35% estão em assentamentos e 52% dos cadastros com restrição por desmatamento estão dentro dos projetos de assentamentos.
Esses números mostram que serão os pequenos criadores os maiores penalizados com a obrigatoriedade do Programa Nacional de Rastreabilidade. E são eles os responsáveis por grande parte dos bezerros que são recriados e engordados.
Em um país, onde a irregularidade ambiental é grande e a regularização fundiária patina, é primordial que esses itens caminhem antes da rastreabilidade, dando oportunidade de regularização ao produtor.
Os pecuaristas paraenses têm consciência que a rastreabilidade é o futuro e uma tendência sem volta, mas é preciso tempo, apoio e, sobretudo, extensão rural. Também um plano de bonificação para incentivar e custear as adaptações necessárias. Veja o exemplo do “Boi China” – apesar dos atuais preços não tão remuneradores – foi um grande impulsionador dos índices produtivos do rebanho nacional.
Exemplos de rastreabilidade voluntária existem, inclusive no Pará. O governo do estado criou o “Programa de Integridade e Desenvolvimento da Cadeia Produtiva de Bovinos Paraenses”, que vai aplicar brincos de identificação nos animais para rastrear individualmente. Tem ainda o Programa Sustentável de Bezerros, lançado pelo IDH e FAEPA (Federação da Agricultura e Pecuária do Pará) e o Programa de Rastreabilidade Individual e Monitoramento de Indiretos (PRIMI), uma iniciativa pioneira do Frigorífico Rio Maria. Além da JBS, que possui uma plataforma de pecuária transparente, que possui critérios sócio ambientais, entre eles desmatamento, invasão em terra indígena ou quilombolas e trabalho análogos à escrevidão.
Aguardamos, agora, a proposta do Governo Federal, que pretende – segundo notícia recente – implementar a rastreabilidade ainda este ano com perspectivas de rastrear de 30% a 50% do rebanho nacional até 2026. No entanto, reafirmo minha posição de que é preciso mais tempo para o pecuarista se organizar e, principalmente, abolir a ideia da obrigatoriedade. Só assim é possível avançar nessa pauta.
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