Protecionismo do Governo Trump: alternativas estratégicas | Agro Estadão
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Welber Barral

Conselheiro da Fiesp, presidente do IBCI e ex-secretário de Comércio Exterior do Brasil

Esse texto trata de uma opinião do colunista e não necessariamente reflete a posição do Agro Estadão

Opinião

Protecionismo do Governo Trump: alternativas estratégicas

Processos produtivos em países que mantêm acordos de livre comércio com os EUA, que permitam modificar a classificação tarifária, podem manter o acesso ao mercado em condições mais favoráveis 

02/04/2025 - 08:00

Foto: Adobe Stock
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A avalanche protecionista sob Donald Trump não surpreende quem acompanha de perto o comércio internacional. Porém, as recentes medidas anunciadas – com uma prometida escalada para o dia 2 de abril – representam mais um capítulo de desafios que as empresas brasileiras precisarão enfrentar com resiliência e estratégia.

Trump voltou ao cenário com vigor renovado, usando ferramentas comerciais poderosas como a Seção 232, sob a justificativa sempre controversa de “segurança nacional”, e a Seção 301, alegando práticas discriminatórias contra interesses norte-americanos. Tais medidas atingem diretamente setores críticos da economia brasileira como aço, alumínio e etanol, além de deixar em alerta segmentos como cobre e madeira, que já se encontram sob rigorosa investigação.

As repercussões dessas políticas não se limitam aos setores diretamente atingidos. O protecionismo gera efeitos colaterais profundos, elevando preços globais e criando volatilidade em mercados estratégicos. Para a economia brasileira, esses impactos são especialmente significativos devido à forte interdependência dos mercados globais e à relevância das exportações brasileiras para os EUA.

Diante desse cenário, empresas brasileiras precisam rapidamente buscar alternativas estratégicas para minimizar impactos negativos e garantir sua competitividade. Primeiramente, a diversificação de mercados é fundamental. Empresas que dependem excessivamente do mercado norte-americano devem explorar novos destinos para seus produtos, especialmente em mercados emergentes e na Ásia, onde já existe uma demanda crescente por commodities brasileiras.

Outra estratégia crucial é buscar mecanismos para evitar o impacto da elevação tarifária. Processos produtivos em países que mantêm acordos de livre comércio com os EUA, que permitam modificar a classificação tarifária, podem manter o acesso ao mercado em condições mais favoráveis. O uso estratégico de zonas francas nos EUA e operações em terceiros países pode oferecer soluções inovadoras, reduzindo significativamente o impacto das novas barreiras.

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Um exemplo concreto e bem-sucedido foi visto em 2017, quando empresas brasileiras conseguiram obter exclusões tarifárias específicas nos EUA, demonstrando a ausência de produção ou produção insuficiente desses produtos. Tal abordagem pode e deve ser explorada novamente, com análises técnicas detalhadas para sustentar essas solicitações junto ao governo norte-americano.

Além disso, a experiência recente mostrou que evitar confrontos diretos e manter canais de comunicação ativa com o Departamento de Comércio dos EUA pode gerar benefícios estratégicos, especialmente até as eleições legislativas (mid-term), quando a pressão econômica interna pode atenuar medidas protecionistas.

De experiências passadas, aprendemos que ciclos protecionistas ensinam sobre a importância da antecipação, da agilidade em adaptar-se a mudanças regulatórias e do constante monitoramento dos cenários internacionais. A colaboração entre o setor privado e o governo brasileiro torna-se, nesse contexto, necessidade estratégica para influenciar negociações comerciais e salvaguardar interesses nacionais.

A médio prazo, é provável que as pressões internas nos EUA – especialmente a inflação elevada causada pelas próprias políticas protecionistas – acabem por moderar as decisões mais extremas. Historicamente, governos que apostaram agressivamente no protecionismo enfrentaram severas consequências políticas e econômicas internas, como ficou demonstrado nas derrotas eleitorais tanto de Trump (em 2020) quanto de Biden, no ano passado.

Ao final, a resiliência das empresas brasileiras é seu maior ativo. Um histórico robusto de superação e adaptação a desafios internacionais, graças à nossa diversidade econômica, à capacidade criativa de seus empreendedores e à competência de sua diplomacia comercial.

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