
Teresa Vendramini
Produtora Rural, ex-presidente da Sociedade Rural Brasileira
Esse texto trata de uma opinião do colunista e não necessariamente reflete a posição do Agro Estadão
Opinião
Paixão pelo Campo
Venho de uma linhagem de agricultores. A história começou com meu avô, seguiu com meu pai e agora estou à frente da fazenda sozinha.
03/03/2024 - 11:33

Venho de uma linhagem de agricultores. A história começou com meu avô, seguiu com meu pai e agora estou à frente da fazenda sozinha. No entanto, minha jornada nem sempre foi assim. Muito jovem, casei e me mudei para a cidade. Apesar das raízes profundas no campo, passei a maior parte da minha vida distante da terra, empreendendo em negócios sem qualquer relação com o Agro.
Mas o destino de todos que nasceram no campo um dia bateu à porta e a sucessão foi necessária. Fiquei diante de duas opções: vender tudo ou voltar para o campo. Nesse momento, as memórias afetivas falaram mais alto: o cheiro do mato, a vida na fazenda, as conversas atentas com meu pai. Lembranças que me chamaram de volta para a roça. Foi a melhor decisão da minha vida. Após os 50 anos, descobri minha verdadeira vocação, ou melhor, minha paixão pela fazenda e pela pecuária.
Claro, a transição não foi fácil. Mergulhei nos estudos e, bebendo do saber dos pesquisadores da Embrapa, transformei a fazenda, antes dedicada à cana-de-açúcar, em um modelo de pecuária sustentável, com foco no bem-estar animal e uma gestão eficiente. Os princípios do empreendedorismo que aprendi na cidade, trouxe para a gestão da fazenda e assim se passaram 10 anos de pecuária.
Esse caminho de volta abriu um universo imenso, que recomendo a todos da cidade, que tenham ou não suas raízes no campo. Vocês vão se surpreender ao conhecer como o plantio direto tornou o cerrado – um bioma inóspito para a agricultura – em uma das maiores fronteiras agrícolas do país. Vai conhecer a história de pessoas como o nosso saudoso Alysson Paolinelli, pai da agricultura brasileira, que deixou um legado imenso para a humanidade, muito maior que qualquer Steve Jobs.
Vão testemunhar os cuidados dos pecuaristas com o seu rebanho, os protocolos reprodutivos e sanitários, a preocupação com o pasto, com a água e com o meio ambiente. Entrem no mundo rural e conheçam de perto o volume de empregos gerados pelo agronegócio, e, principalmente, as famílias que trabalham na agricultura e na pecuária de subsistência, que se levantam de madrugada para ordenhar o leite que chega à sua mesa.
Saibam também sobre os desafios climáticos enfrentados pelos produtores a cada safra, afinal, suas empresas operam sob o céu aberto. Compreendam as margens de custo e preço com as quais eles lidam diariamente e ainda as regulamentações ambientais que os produtores rurais cumprem com primor.
Busquem, de fato, conhecer o campo. Olhem nos olhos das pessoas que fazem o Agro. Além de valorizar ainda mais a comida de cada dia e a vocação do nosso país, vocês vão entender que é preciso separar o joio do trigo. Arrisco ainda a dizer que, assim como eu, a paixão pela roça florescerá em vocês. Experimentem!

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