
Welber Barral
Conselheiro da Fiesp, presidente do IBCI e ex-secretário de Comércio Exterior do Brasil
Esse texto trata de uma opinião do colunista e não necessariamente reflete a posição do Agro Estadão
Opinião
O melhor cenário para o agro brasileiro
Quem observa os números acachapantes do crescimento do agronegócio brasileiro nas últimas décadas acaba esquecendo que, até os anos 1970, o Brasil era um importador líquido de alimentos
20/08/2024 - 08:00

Foram também os tempos em que o Departamento de Agricultura dos EUA previu, de forma desconcertante, que o Brasil continuaria a importar alimentos, pela impossibilidade de agricultura eficiente no Cerrado.
A previsão do DoA não contava com os avanços da biotecnologia e com a teimosia de alguns heróis (como Alysson Paulinelli) que desmentiram fragorosamente as previsões da contínua dependência agrícola brasileira.
Estes fatores transformaram o Brasil, em 50 anos, no campeão (ou prata ou bronze) de produção das principais commodities agrícolas. O comércio mundial não seria o mesmo sem a soja, milho, café, carnes, e segue a lista, exportados pelo Brasil. Tampouco a balança comercial brasileira seria superavitária sem a contribuição das exportações agrícolas.
Por isso, uma reflexão sobre alguns fatores determinantes deste comércio sempre é bem-vinda, mesmo que no limite superficial de uma crônica.
Um primeiro fator é a demanda futura: o crescimento da população mundial, até um equilíbrio em três ou quatro décadas, indica acréscimo à demanda. Ainda, a elevação de renda, sobretudo na Ásia, aponta para maior demanda de proteínas, constatação também positiva para as exportações brasileiras.
Outro fator a considerar: a demanda crescente por biocombustíveis como forma de redução de emissões, colocará em algum momento um dilema para a produção de alimentos. As previsões atuais ainda são genéricas quanto a este dilema, mas basta observar que apenas a produção de combustível renovável de aviação demandará bilhões de litros com origem verde.
Ainda outro fator positivo para o Brasil: apesar da eficiência em várias culturas, existe enorme potencial de melhor aproveitamento da terra arável e de recuperação de áreas degradadas. Juntamente com mais tecnologia, este fator pode incrementar novas e velhas culturas: do leite ao trigo, passando pelo azeite, para ficar em poucos exemplos óbvios.
Mas não nos limitemos a uma visão “Poliana”: há, sim, fatores de risco a serem observados pelo Governo e pelos exportadores: barreiras sanitárias sempre podem ser invocadas, preocupações sobre sustentabilidade podem materializar novas barreiras, preferências dos consumidores estrangeiros podem implicar custos adicionais de certificações e de padrões privados. Há, ainda, fatores que devem passar a ser vistos como riscos estruturais: as mudanças climáticas implicarão custos ainda incomensuráveis; a concentração de demanda em poucos mercados oportuniza volatilidade de preços; riscos geopolíticos trazem impeditivos logísticos.
Observar todos estes fatores, seu peso relativo em cada contexto econômico e as alternativas disponíveis deve ser uma tarefa nacional. Buscar mitigar riscos, abrir novos mercados, agregar valor aos produtos e aumentar a eficiência dos produtores são o mínimo que devemos, tanto ao esforço heróico da geração passada quanto ao nível de vida da futura geração de brasileiros.

Newsletter
Acorde
bem informado
com as
notícias do campo
Mais lidas de Opinião
1
Mesmo com queda na participação no PIB, Agro segue motor da economia
2
Marcos Fava Neves: 5 pontos para ficar de olho no mercado agro em Abril
3
Protecionismo do Governo Trump: alternativas estratégicas
4
Ação e reação no mundo conectado do biodiesel e do agronegócio
5
Etanol de milho pode representar 40% da produção de biocombustíveis no Brasil até 2030

PUBLICIDADE
Notícias Relacionadas

Opinião
No fogo cruzado das tarifas, agro brasileiro precisa de estratégia (e cautela)
No recente embate entre China e Estados Unidos, cada lado brande tarifas acima de 100% contra seu adversário

Welber Barral

Opinião
Etanol de milho pode representar 40% da produção de biocombustíveis no Brasil até 2030
O Brasil foi o segundo maior produtor mundial de etanol em 2024, com 36,8 bilhões de litros, dos quais 6,3 bilhões foram produzidos a partir do milho

Celso Moretti

Opinião
Ação e reação no mundo conectado do biodiesel e do agronegócio
Os atuais ambientes global e nacional mostram a importância que o equilíbrio tem em um mundo interconectado e interdependente, sem espaço para levantar muros

Francisco Turra

Opinião
Marcos Fava Neves: 5 pontos para ficar de olho no mercado agro em Abril
Destaque para as medidas anunciadas por Donald Trump, que impõem tarifas importantes em países que são grandes importadores do agro

Marcos Fava Neves
Opinião
Protecionismo do Governo Trump: alternativas estratégicas
Processos produtivos em países que mantêm acordos de livre comércio com os EUA, que permitam modificar a classificação tarifária, podem manter o acesso ao mercado em condições mais favoráveis

Welber Barral
Opinião
Mesmo com queda na participação no PIB, Agro segue motor da economia
Em 2024, o setor agropecuário brasileiro enfrentou desafios que resultaram em uma redução de sua participação no Produto Interno Bruto (PIB)

Tirso Meirelles
Opinião
Vamos seguir sem deixar nenhuma mulher para trás
No Dia Internacional da Mulher, não venho fazer homenagens. Venho falar sobre as dores que, nesta data, muitos jogam debaixo do tapete

Teresa Vendramini
Opinião
A norma antidesmatamento européia (EUDR) e o Agronegócio Brasileiro
A preocupação global com o desmatamento e suas consequências ambientais têm gerado intensos debates nas últimas décadas, especialmente em relação à Amazônia, um dos maiores patrimônios naturais do planeta

Welber Barral