PUBLICIDADE
Nome Colunistas

Celso Moretti

Engenheiro Agrônomo, ex-presidente da Embrapa

Esse texto trata de uma opinião do colunista e não necessariamente reflete a posição do Agro Estadão

Opinião

Novidades na pesquisa agropecuária e um problema antigo

Um conjunto de ações em andamento deve contribuir para que diferentes setores da agropecuária brasileira sejam beneficiados com inovações neste e nos próximos anos 

10/02/2025 - 05:00

Foto: Adobe Stock
Foto: Adobe Stock

Para arroz de terras altas (sequeiro) a Embrapa vai lançar durante a Tecnoshow Comigo, que acontece em Rio Verde (GO) em fevereiro, a variedade de arroz de terras altas BRS A503. O material traz uma série de novas características associadas ao tamanho do grão (mais alongado) e qualidade agronômica, apresentando baixa incidência de gessamento, um problema tecnológico inerente ao arroz que torna o grão de coloração opaca, semelhante ao gesso, reduzindo sua qualidade comercial. 

Na produção de frutas exóticas, pesquisadores da Embrapa identificaram genes no cupuaçu, uma fruta apreciada na elaboração de sorvetes e sobremesas, que ajudarão a planta a vencer uma doença que foi a grande responsável pela derrocada da produção de cacau na década de 90: a vassoura de bruxa. Causada por um fungo chamado Moniliophthora perniciosa, a doença provoca uma série de alterações na planta, como o apodrecimento dos frutos e o ressecamento dos galhos, que ficam com aspecto de uma vassoura. Daí o nome vassoura de bruxa. Os estudos permitirão um melhor entendimento da dinâmica entre a planta e o patógeno, o que possibilitará o manejo sustentável da doença, dando mais competitividade à cadeia produtiva do cupuaçu.

Na área de bioinsumos, onde o Brasil é um dos líderes mundiais, pesquisas avançam na adoção da tecnologia de edição gênica para melhorar microrganismos usados no controle biológico. Com o emprego de “tesouras biotecnológicas” (estratégia cientificamente conhecida como Crispr) fungos são modificados para atuarem de forma mais efetiva no controle de outros microrganismos ou insetos que atacam plantas. Os primeiros resultados foram obtidos em 2024 quando fungos do gênero Trichoderma foram editados e produziram três vezes mais melanina, melhorando sua performance no controle biológico em condições de alta luminosidade. 

As pesquisas nas cadeias de produção de proteína animal também avançam em várias frentes. Pesquisadores da Embrapa e da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul, atuando em pecuária de precisão, desenvolveram um dispositivo corporal para medir a temperatura de animais. A medição é feita por meio de um sensor colocado no canal auditivo. A temperatura corporal foi escolhida pois permite acompanhar uma série de processos como infecções e inflamações, além da ocorrência de cio e estresses variados no animal. O sensor foi patenteado e a ideia agora é buscar parceiros que tenham interesse em explorar comercialmente a tecnologia.

Ainda na cadeia de bovinos, pesquisadores de mais de 20 instituições estão empregando diferentes ferramentas para identificar a “impressão digital” da carne bovina produzida no Sul do Brasil. Com o uso de metabolômica, ciência que permite conhecer a fundo o metabolismo dos animais, é possível relacionar características da carne ao manejo e ambiente de produção e aos eventuais efeitos na saúde humana. A pesquisa lança mão também de ferramentas digitais, mais precisamente a inteligência computacional, isto é, a aplicação de algoritmos genéticos e redes neurais artificiais. Em tempos de DeepSeek, é importante diferenciar este tipo de inteligência da inteligência artificial (IA), que estuda modelos que têm como base o raciocínio humano. O estudo poderá ser replicado para outras regiões do país e ajudará na diminuição da desinformação sobre a composição da carne e seus impactos na saúde do consumidor.

A ciência agropecuária demonstra que tem capacidade de desenvolver soluções para distintas cadeias produtivas e que a convergência de diferentes áreas do conhecimento como agronomia, computação, biotecnologia e eletrônica pode dar origem a soluções que reduzem os custos e tornam a produção mais sustentável. Para que possa seguir trazendo tais contribuições é importante que existam recursos para seu financiamento. Pesquisas que visam a solução de problemas reais do agro brasileiro devem ser priorizadas. A falta de recursos é um problema antigo que insiste em se fazer presente. O Estado brasileiro e o setor produtivo podem e devem se unir para buscar formas criativas de financiamento. Que essas alternativas não passem nem perto do aumento de carga tributária.

Siga o Agro Estadão no WhatsApp, Instagram, Facebook, X, Telegram ou assine nossa Newsletter

PUBLICIDADE
Agro Estadão Newsletter
Agro Estadão Newsletter

Newsletter

Acorde bem informado
com as notícias do campo

Agro Clima
Agro Estadão Clima Agro Estadão Clima

Mapeamento completo das
condições do clima
para a sua região

Agro Estadão Clima
VER INDICADORES DO CLIMA

PUBLICIDADE

Notícias Relacionadas

Política Agrícola: vítima de dano colateral

Opinião

Política Agrícola: vítima de dano colateral

O custo financeiro médio subiu para todos os produtores e cooperativas, sem que nada de muito negativo tenha ocorrido no agro brasileiro; isso porque a Selic subiu por razões que estão fora do setor rural

José Carlos Vaz loading="lazy"
Opinião:

José Carlos Vaz

Governo contempla parte de demanda do setor no Plano Safra

Opinião

Governo contempla parte de demanda do setor no Plano Safra

O lançamento do Plano Safra 25/26 trouxe uma série de medidas voltadas à sustentação da produção agropecuária nacional, com destaque para o fortalecimento das linhas de crédito destinadas à agricultura familiar e empresarial 

Tirso Meirelles loading="lazy"
Opinião:

Tirso Meirelles

Marcos Fava Neves: 5 pontos para ficar de olho no mercado agro em julho

Opinião

Marcos Fava Neves: 5 pontos para ficar de olho no mercado agro em julho

Setor agrícola entra no segundo semestre atento ao desempenho das safras, efeitos climáticos, mudanças fiscais e cenário geopolítico

Marcos Fava Neves loading="lazy"
Opinião:

Marcos Fava Neves

O gargalo invisível: a dependência brasileira do Estreito de Ormuz

Opinião

O gargalo invisível: a dependência brasileira do Estreito de Ormuz

Israel e Irã cantaram vitória nesta semana. Terminou a guerra de bombas e mísseis. Começou a guerra de narrativas

Celso Moretti loading="lazy"
Opinião:

Celso Moretti

PUBLICIDADE

Opinião

Taxação das LCAs é risco para as próximas safras

A proposta de taxação das Letras de Crédito do Agronegócio (LCAs), que até então eram isentas de Imposto de Renda para pessoas físicas, representa um marco preocupante para o setor agropecuário brasileiro

Tirso Meirelles loading="lazy"
Opinião:

Tirso Meirelles

Opinião

13 anos do Código Florestal: ativo ou passivo brasileiro?

Instrumento essencial para destravar as novas economias verdes, o Cadastro Ambiental Rural (CAR) ainda não decolou no Brasil, comprometendo a credibilidade do país no mercado Agroambiental global

Marcello Brito loading="lazy"
Opinião:

Marcello Brito

Opinião

Política Agrícola e taxação no Agro: as consequências virão depois

Apesar da negativa do governo, taxar as LCA vai encarecer o crédito rural, sim, pois reflete no custo de captação a ser equalizado pelo Tesouro nas operações 

José Carlos Vaz loading="lazy"
Opinião:

José Carlos Vaz

Opinião

Os poltrões na aduana

Operação-padrão: prejuízo ou cautela?

Welber Barral loading="lazy"
Opinião:

Welber Barral

Logo Agro Estadão
Bom Dia Agro
X
Carregando...

Seu e-mail foi cadastrado!

Agora complete as informações para personalizar sua newsletter e recebê-la também em seu Whatsapp

Sua função
Tipo de cultura

Bem-vindo (a) ao Bom dia, Agro!

Tudo certo. Estamos preparados para oferecer uma experiência ainda mais personalizada e relevante para você.

Mantenha-se conectado!

Fique atento ao seu e-mail e Whatsapp para atualizações. Estamos ansiosos para ser parte do seu dia a dia no campo!

Enviamos um e-mail de boas-vindas para você! Se não o encontrar na sua caixa de entrada, por favor, verifique a pasta de Spam (lixo eletrônico) e marque a mensagem como ‘Não é spam” para garantir que você receberá os próximos e-mails corretamente.