Tirso Meirelles
Presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de São Paulo (Faesp)
Esse texto trata de uma opinião do colunista e não necessariamente reflete a posição do Agro Estadão
Opinião
Não criminalizem o agro!
Vivemos mais um momento frágil para o setor agropecuário. Os incêndios que atingiram várias cidades do interior paulista reacenderam as insinuações sobre a participação dos produtores rurais nessa tragédia
São anos de trabalho e investimentos que se transformaram em cinzas e irão obrigar o produtor a investir muitas vezes o que não tem na recuperação de suas terras. Plantações e florestas, que foram devastadas. Além de muita dor e perdas a milhares de famílias. Ao contrário do que alguns pensam, o agro é o maior defensor do meio ambiente, pois entende a importância para o desenvolvimento do campo e a continuidade do seu negócio.
Os produtores rurais têm um papel crucial na preservação das Áreas de Proteção Permanente (APPs) e das Reservas Legais, que são essenciais para a manutenção dos ecossistemas, a proteção da biodiversidade e a regulação do clima. As APPs, como matas ciliares e encostas, desempenham funções vitais na proteção dos recursos hídricos, evitando erosão, enchentes e deslizamentos, além de contribuir para a qualidade da água. As Reservas Legais, por sua vez, são áreas dentro das propriedades mantidas com vegetação nativa, garantindo a preservação de habitats e da biodiversidade.
A prática de incêndio é crime, sujeito à pena de reclusão de três a seis anos. O produtor rural já arca com a responsabilidade de manter reservas legais, por entender a importância do Código Florestal – uma conquista após muita luta, para o meio ambiente e para a perspectiva de mercado. Como vítima da catástrofe e frequentemente visto com desconfiança por aqueles fora do setor, ele terá que se responsabilizar pela recuperação das florestas, pastagens e da própria cultura, além de restaurar a terra para cultivo ou adquirir novos animais.
A preservação dessas áreas não é apenas uma questão ambiental, mas também de sustentabilidade econômica para o agronegócio. Práticas agrícolas que respeitam as APPs e Reservas Legais contribuem para a manutenção da saúde do solo e dos recursos hídricos, que são imprescindíveis para a produção a longo prazo. A conservação dessas áreas ajuda a prevenir a degradação do solo, mantendo sua fertilidade e reduzindo a necessidade de insumos químicos, o que diminui os custos de produção e aumenta a eficiência das operações agrícolas.
Preservar o meio ambiente é estratégico para a reputação e competitividade dos produtos brasileiros no mercado global. O Brasil é um dos maiores produtores e exportadores de alimentos do mundo, e a conformidade com as normas ambientais é cada vez mais exigida por consumidores e parceiros comerciais internacionais. O compromisso com a conservação ambiental agrega valor aos seus produtos, acessa mercados que priorizam a sustentabilidade e fortalece a imagem do agronegócio brasileiro como um setor responsável e consciente.
Portanto, não criminalizem o agronegócio. Os produtores rurais são as maiores vítimas dessa catástrofe e esperam que os culpados sejam identificados e paguem pelo crime que cometeram.
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