Celso Moretti
Engenheiro Agrônomo, ex-presidente da Embrapa
Esse texto trata de uma opinião do colunista e não necessariamente reflete a posição do Agro Estadão
Opinião
Inteligência artificial ajudará produtor a melhorar manejo da irrigação
Embrapa prepara ferramenta com uso inédito da inteligência artificial
A seca historicamente causa prejuízos em diversas regiões brasileiras. Os incêndios ocorridos recentemente em vários estados tiveram como um dos fatores a seca. Em São Paulo, além das condições climáticas, investiga-se a atuação de criminosos.
A seca em 2024 é uma das piores já observadas no país, segundo especialistas. Como tratado recentemente nesta coluna, ela é influenciada por uma combinação de fatores climáticos, como a variabilidade das chuvas e eventos como El Niño e La Niña. No Distrito Federal, a seca já ultrapassa os 120 dias, as temperaturas em pleno inverno têm sido sistematicamente superiores aos 30oC e a umidade relativa do ar comumente chega a valores próximos de 12%.
A seca prolongada pode impactar a agricultura e a disponibilidade de água para abastecimento da população o que, em última análise, afeta a qualidade de vida das pessoas. Dentre os desafios cruciais para enfrentar a seca destacam-se a gestão dos recursos hídricos e o uso sustentável da água, com a adoção de técnicas de irrigação eficientes. Em vários locais do país, como o Semiárido nordestino, a estratégia tem sido a convivência com a seca. A região é composta por mais de 1.200 municípios localizados nos nove estados da região Nordeste do Brasil, uma das áreas mais áridas do país. A condição tem afetado severamente a agricultura, o abastecimento de água e a vida da população. A região possui balanço hídrico negativo: é como se chovesse para cima!
Ao invés de combater, produtores rurais têm adotado estratégias de convivência com a seca para atravessar os períodos mais críticos. Essa relação com a seca é quase que sinônimo de convivência com o ambiente semiárido. A estratégia necessita, em última análise, de um sistema de monitoramento e previsão de ocorrência de eventos severos, visando preparar produtores e agentes públicos para que sofram as mínimas consequências negativas possíveis. Uma estratégia adotada de coexistência é a adoção de sistemas integrados, que aliam a produção agrícola à preservação dos recursos naturais, reduzindo a vulnerabilidade da pecuária na região. É uma ótima alternativa.
Conviver com a seca sempre demanda novos aliados. A ciência agropecuária se prepara para entregar mais um em breve. Em parceria com universidades e o setor privado, a Embrapa desenvolveu um dispositivo dotado de inteligência artificial (IA) para o monitoramento do estresse hídrico nas plantas. Segundo os desenvolvedores, é a primeira vez que a IA é utilizada com este objetivo. A IA já é uma das ferramentas de computação adotada na agricultura digital. Basicamente, seu funcionamento se dá pela análise de grandes massas de dados, buscando identificar padrões. No nosso dia a dia, a IA está presente no reconhecimento facial e em algoritmos utilizados nas redes sociais. A adoção da ferramenta vem crescendo de forma intensa nos últimos anos no Agro brasileiro. No controle de pragas é utilizada para melhorar a identificação precoce, o que pode reduzir o nível de dano na lavoura e também a quantidade de pesticidas aplicados. A ferramenta digital também auxilia o produtor na detecção e controle de plantas daninhas. As aplicações são inúmeras.
A tecnologia desenvolvida pela Embrapa e parceiros combina um conjunto de variáveis. Parâmetros como radiação solar, umidade do ar e hidratação das folhas são utilizados pelo sistema para identificar o estresse hídrico. De posse dos dados, e por meio de análise das informações, o sistema avalia e determina a necessidade de ligar, automaticamente, o sistema de irrigação. A adoção da inteligência artificial contribui para a redução de custo, o que possibilita que, ao chegar no mercado, possa ser adotada por pequenos e médios produtores. Utilizar ferramentas consagradas de manejo de irrigação, em conjunto com tecnologias digitais, é a saída para uma agricultura mais sustentável e competitiva.
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