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Agropolítica

Tarifaço gera insegurança comercial e econômica, alerta Abimaq

Ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, avalia que protecionismo dos EUA ameaça comércio global, mas vê oportunidades para o Brasil

Paloma Custódio e Daumildo Júnior | Brasília | Sabrina Nascimento | São Paulo | Atualizada às 16h48

03/04/2025 - 12:23

Foto: Adobe Stock
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A Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq) alertou, em nota, que “alterações abruptas” nas tarifas de importação tendem a gerar insegurança comercial e econômica. A manifestação ocorre em resposta à decisão do governo dos Estados Unidos de impor uma sobretaxa de 10% sobre produtos importados do Brasil.

Segundo a Abimaq, aproximadamente 20% da receita do setor de máquinas e equipamentos é proveniente do mercado externo. Em 2024, as exportações totalizaram US$ 13,2 bilhões, dos quais 25% — o equivalente a US$ 3,5 bilhões — tiveram os Estados Unidos como destino, representando 7% da receita total do setor. Por outro lado, o Brasil importou cerca de US$ 4,7 bilhões em máquinas e equipamentos norte-americanos, resultando em um saldo comercial deficitário. 

A associação avalia que a elevação da tarifa pode gerar impactos negativos significativos para a economia e perda de competitividade para a indústria brasileira de máquinas e equipamentos. “Podemos citar como exemplo máquinas agrícolas, rodoviárias e máquinas para a indústria de transformação. Esses produtos, entre outros, são produzidos tanto pelo Brasil como pelos Estados Unidos”, destaca.

“Sabemos que o governo brasileiro vem buscando resolver a questão por meio de negociações, o que, para a Abimaq, é o melhor caminho. Temos expectativas de que tal decisão, no caso do Brasil, seja revista, a fim de que a relação comercial seja preservada”, estima a entidade.

Já a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) afirmou à reportagem que as tarifas impostas pelo governo dos Estados Unidos não impactam diretamente o setor, uma vez que o Brasil não exporta autoveículos regularmente para o mercado norte-americano.

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Ministro da Agricultura defende diálogo com EUA

O ministro da Agricultura e Pecuária (Mapa), Carlos Fávaro, defendeu o diálogo e a negociação com os Estados Unidos. Segundo ele, equipes dos Ministérios das Relações Exteriores e do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços — coordenadas pelos respectivos ministros Mauro Vieira e vice-presidente da República Geraldo Alckmin — já estão em missão nos Estados Unidos em negociação sobre a taxação das importações. 

“É um contrassenso um governo dito liberal nos Estados Unidos tomando medidas ortodoxas e protecionistas, enquanto o Brasil, que tem um governo progressista com um forte viés social,  mas é a favor do livre comércio”, disse Fávaro a jornalistas antes de participar da 2ª Conferência Internacional UNEM DATAGRO sobre Etanol de Milho, em Cuiabá (MT).

O ministro da Agricultura avalia que as medidas protecionistas do governo norte-americano podem atrapalhar as relações comerciais no mercado internacional, mas acredita que “o Brasil tem competência e certamente vai saber usufruir disso e fazer disso uma grande oportunidade”. 

Fávaro também afirmou que o tarifaço de Trump deve desencadear uma inflação global, começando pelos Estados Unidos. “Vai encarecer o custo de todos os produtos norte-americanos. Não é de hoje para amanhã que você monta uma indústria. Então você vai precisar importar e, além de tudo, com um custo mais alto”, analisa. Por outro lado, ele diz que o Brasil é muito competitivo, principalmente no setor agropecuário. “Se soubermos agir — e vamos agir com muita cautela e prudência — pode se tornar uma oportunidade para o Brasil”, destacou.

Taxa menor em relação a outros países

O secretário de Comércio e Relações Internacionais do Mapa, Luis Rua, disse ao Agro Estadão que “comparativamente a outros países, a taxa [de 10% sobre a importação dos produtos brasileiros] é menor, mas ainda assim é um movimento preocupante”.

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Confira a lista de sobretaxas aplicadas pelos EUA a diversos países:

  • Brasil: 10%
  • China: 34%
  • União Europeia: 20%
  • Vietnã: 46%
  • Taiwan: 32%
  • Japão: 24%
  • Índia: 
  • Reino Unido: 10%
  • Coreia do Sul: 25%
  • Tailândia: 36%
  • Suíça: 31%
  • Cambodja: 49%
  • Malásia: 24%

FAESP vê abertura de novos mercados e defende planejamento e diálogo

A Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de São Paulo (FAESP) avalia que, neste primeiro momento, o Brasil tem “um pouco de flexibilidade sobre outros países”, uma vez que estamos colhendo uma safra recorde e os estoques de alimentos no mundo estão reduzidos. Com isso, o presidente da FAESP, Tirso Meirelles, acredita na abertura de novos mercados, no entanto, alerta para a complexibilidade do cenário global. “Se eles [outros países] também não conseguem exportar, terão dificuldades em comprar a quantidade que vinham comprando, criando insegurança alimentar”, afirmou. 

Meirelles acredita que o governo dos EUA deveria ter negociado e dialogado com as outras nações antes de tomar a decisão das tarifas. Segundo ele, o déficit da balança comercial norte-americana com alguns países não deveria ser trabalhado “com uma mudança tão radical”. “Se não houver diálogo, haverá um estrangulamento da economia global”, argumenta. 

Além do mais, o dirigente da FAESP defende que o Brasil precisa ter um planejamento de médio e longo prazos visando a criação de mecanismos que reduzam os custos de produção no campo. Um dos exemplos citados por Meirelles é a alta dependência brasileira da importação de fertilizantes. “É importante usarmos as nossas jazidas minerais para os fertilizantes. Hoje nós importamos cerca de 90% desses produtos e se a gente conseguir produzir aqui, conseguimos diminuir o custo da produção dos alimentos, ficamos com preços mais acessíveis no mercado internacional, inclusive baixando os preços da alimentação internamente”, explica. 

Agro está preparado para superar desafios e aproveitar oportunidades, diz ABAG

A Associação Brasileira do Agronegócio (ABAG), vê com preocupação as tarifas adicionais impostas ao Brasil e a outros países. Em comunicado, a entidade afirma que as restrições forçosas aos fluxos de comércio, incompatíveis com as regras multilaterais da Organização Mundial do Comércio, tendem a desacelerar a economia global e elevar o custo de vida dos cidadãos. “O impacto negativo é ainda mais grave quando atinge o setor agrícola, responsável pela segurança alimentar de bilhões de pessoas em todos os continentes”, ressalta a nota, destacando que as tarifas vão desencadear pressões inflacionárias e de desaceleração econômica, não apenas nos EUA, mas em todo o globo.

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Conforme a Abag, o setor agrícola nacional estará preparado para superar obstáculos e aproveitar oportunidades que se apresentem neste novo cenário. “Veremos um profundo reordenamento das cadeias de produção e rotas de abastecimento. Diversificação e abertura de mercados, novos ou tradicionais, devem ser prioridades do Governo brasileiro”, salienta.

Contudo, a Associação espera que o governo brasileiro adote uma estratégia diplomática firme de resposta às tarifas adicionais, “evitando imediatismos e preservando os interesses de longo prazo do país”. Nesse contexto, para a entidade, o Projeto de Lei da Reciprocidade, aprovado pelo Congresso Nacional e encaminhado para sanção do presidente da República, “é bem-vindo por oferecer o embasamento legal necessário a eventuais medidas de resposta a políticas arbitrárias e abusivas adotadas por governos estrangeiros em detrimento do nosso sistema produtivo”, conclui a Abag.

Tarifas ferem o livre comércio, mas Brasil tem vantagem, avalia SRB

Para a Sociedade Rural Brasileira (SRB) a tarifa de 10% imposta pelos EUA sobre produtos do Brasil “garante uma vantagem comparativa” em relação aos demais concorrentes, que vão sofrer com alíquotas superiores, como União Europeia (20%), Japão (24%), Coreia do Sul (25%), Indonésia (32%) e China (34%).

“A alíquota mais baixa imposta ao Brasil em comparação com outros países fortalece a posição do exportador brasileiro no comércio internacional”, ressaltou a SRB em nota, destacando que os EUA mantêm um superávit comercial consistente, tanto em bens quanto em serviços aqui do país.

No entanto, a entidade entende que a medida fere o livre comércio, criando barreiras que impactam as relações comerciais internacionais e podem gerar desdobramentos no longo prazo. “Vamos seguir acompanhando a evolução do cenário e suas implicações para os setores produtivos brasileiros”, salienta.

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