Agropolítica
RS: confirmados dois focos de gripe aviária
Além de contaminação em granja comercial, governo federal confirma casos em Zoológico público da grande Porto Alegre

Mônica Rossi | Porto Alegre | monica.rossi@estadao.com | Atualizada às 14h45
16/05/2025 - 14:10

O Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) confirmou a existência de dois focos da gripe aviária no Rio Grande do Sul. A informação foi dada em coletiva na Secretaria da Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação do Rio Grande do Sul (Seapi), na manhã desta sexta-feira (16).
O foco que mais preocupa, e que havia sido confirmado no início desta sexta pelos governos, é o que atingiu uma granja de matrizes de frango de corte no interior de Montenegro, cidade a 80 quilômetros da capital Porto Alegre. A Seapi esteve no local em 12 de maio e constatou a morte de mais de 15 mil animais, de um total de 17 mil que ocupavam dois aviários. O plantel que sobreviveu foi sacrificado pelas autoridades. Toda produção de ovos fecundados que foi vendida pela granja nos últimos 28 dias está sendo rastreada e deverá ser descartada.
Entre as medidas implementadas pelo Serviço Veterinário Oficial do RS, estão:
- Isolamento da área afetada em Montenegro;
- Eliminação das aves remanescentes para início do protocolo de saneamento.
- Investigação complementar em um raio de 10 km da área de ocorrência e análise de possíveis vínculos com outras propriedades.
O diretor-adjunto do Departamento de Vigilância e Defesa Sanitária Animal da Seapi, Francisco Lopes, explica que, assim como foi feito no caso recente de Newcastle no estado, barreiras de desinfecção serão montadas em um raio de 10 quilômetros da granja afetada.
Ele explica que serão barreiras com foco em veículos de maior potencial de contágio. “Serão dedicadas a veículos de interesse, ou seja, de carga animal, com carga de ração ou também com carga de transporte de leite. São aqueles veículos de maior risco que fazem contato de propriedade em propriedade. Já nas barreiras mais próximas ao foco, poderá se fazer a desinfecção em 100% dos veículos, isso para as que ficam em estradas vicinais de menor movimento. O monitoramento será 24 horas por dia”, informa Lopes.
A Seapi também confirmou a existência de outra granja, de proprietário diferente, dentro desse raio de 10km de contenção, que também passará por procedimentos especiais. Não foram divulgados os nomes das propriedades de Montenegro.
O outro foco, em terras gaúchas, foi localizado no Zoológico de Sapucaia do Sul, na grande Porto Alegre e a 50 quilômetro de Montenegro. Segundo o Ministério, cerca de 90 aves, entre marrecos, patos e cisnes, morreram recentemente. Essas aves aquáticas totalizavam 500 animais e estão todas isoladas, explicou Marjorie Kauffmann, secretária do Meio Ambiente e Infraestrutura do RS, que esclareceu que o zoológico está fechado para visitação.
“Todas as equipes que trabalham no zoológico estão recebendo as orientações, tanto da Vigilância Sanitária Animal como da Secretaria da Saúde. Também estamos fazendo a análise de água e assim que nós tivermos a confirmação do fato, será divulgado amplamente”, complementou a secretária. Diferentemente das aves comerciais, no caso das silvestres não haverá sacrifício das sobreviventes.
A Seapi reforçou que o consumo de carne de aves e ovos segue seguro, já que a doença não é transmitida por meio do consumo desses produtos.
Feiras e eventos
Como medida de precaução, o Rio Grande do Sul suspendeu qualquer tipo de evento com aglomeração de aves. O pavilhão de aves da Fenasul Expoleite de 2025, que ocorre até domingo em Esteio, está fechado desde quanta-feira (15) e os 65 animais devem voltar para as propriedades de origem. “Eles estavam em uma bolha de proteção para evitar contato com aves de vida livre, tudo na feira foi pensado para ter segurança na exposição, por isso não haverá medida como quarentena”, explicou Francisco Lopes.
Segundo a Seapi, um decreto deverá ser publicado com proibição da participação de aves e pássaros em eventos, exposições e feiras em todo estado.
Impactos no setor avícola gaúcho
De acordo com José Eduardo dos Santos, presidente-executivo da Associação Gaúcha de Avicultura (Asgav/Sipargs), o setor avícola já vem acompanhando os casos de influenza aviária ao redor do mundo e vem assumindo o compromisso de adotar medidas e interagir com os órgãos oficiais para o país ter uma produção sustentável e saudável.
“Nós não estamos 100% protegidos, a gente sempre tem algum tipo de vulnerabilidade, porque temos, por exemplo, a questão das aves migratórias, que tem livre trânsito entre continentes. Mas o setor tem feito seu papel com investimentos em biosseguridade, em educação sanitária, justamente para evitar danos maiores e um espalhamento da doença, que nos preocuparia e traria grandes impactos”, complementa.
O representante do setor detalhou ainda que tem confiança nos órgãos oficiais, incluindo a diplomacia brasileira, quanto aos possíveis impactos no mercado de exportações.
José Eduardo dos Santos lamentou que o foco tenha surgido quando o estado estava às vésperas de retomar o comércio de produtos avícolas com os chineses, suspenso desde a ocorrência da doença de Newcastle em 2024.
“Com a China, a gente estava na iminência com o anúncio da reabertura dos próximos dias. Porque o ministro Carlos Fávaro, o Luís Rua [secretário de Comércio e Relações Internacionais], o Ricardo Santin [presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA)] estiveram lá e já tinham encaminhado o pedido diretamente para o presidente da China. E foi sinalizado que nos próximos dias teria uma possível retomada do comércio”, conclui.
O secretário da Agricultura do Rio Grande do Sul, incluiu em sua análise o cenário negativo que o estado vem enfrentando no agro, com cinco anos seguidos de perdas devido a eventos climáticos. Edivilson Brum disse que “um problema desse, claro, que impacta de forma negativa os setores, especialmente na questão de ovos e frango. Teremos ao longo da semana números mais claros e também o comportamento de nível internacional em relação à compra e exportação”.
O chefe da pasta acredita que a experiência bem sucedida com a erradicação do foco de Newcastle vai auxiliar na celeridade da resolução destes focos de gripe aviária. “Que a gente possa, em um curto espaço de tempo, em um mês ou 40 dias, normalizar toda essa questão pertinente à gripe aviária, especialmente no foco, lá em Montenegro”.

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