PUBLICIDADE

Agropolítica

“Questionamento do marco temporal estimula a judicialização", diz CNA

A discussão sobre o marco temporal das terras indígenas voltou para o Supremo Tribunal Federal, que tem duas ações para julgar.

Nome Colunistas

Fernanda Farias | fernanda.farias@estadao.com

07/02/2024 - 14:13

Cerca de 120 processos de demarcação estão em estudo, segundo CNA. Foto: Adobe Stock
Cerca de 120 processos de demarcação estão em estudo, segundo CNA. Foto: Adobe Stock

O impasse sobre a demarcação de terras indígenas no Brasil parece longe de um final. As recentes reviravoltas jurídicas e o risco de judicialização da questão são motivo de ansiedade e incerteza entre produtores rurais.

Para a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), o cenário aponta para a judicialização e isso preocupa. “O marco temporal demorou quatro anos para ser julgado, e se voltar ao STF, a CNA vai defender a lei, a aplicação do marco temporal e os interesses dos produtores rurais”, afirma Rudy Ferraz, diretor jurídico da CNA.  Segundo levantamento da entidade, 120 processos para demarcação de terras indígenas estão em estudo e 600 novas áreas estão sendo reivindicadas pelas comunidades indígenas. 

CONTEÚDO PATROCINADO

O marco temporal considera a Constituição Brasileira (outubro de 1988) o divisor para determinar o direito às terras. Segundo a tese jurídica, somente os indígenas que já estavam no território nessa data têm direito à posse. Porém, a medida foi considerada inconstitucional pelo Supremo Tribunal Federal, que retomou, em setembro do ano passado, o julgamento suspenso desde 2021. Mesmo com a decisão do STF, uma semana depois o Congresso Nacional aprovou a lei com significativa vantagem na Câmara dos Deputados –  dos 513 parlamentares, 321 votaram a favor. Depois, foi a vez do Senado aprovar com 53 votos dos 81 senadores. 

Marco temporal foi promulgado após derrubada de vetos de Lula

A bancada do agronegócio teve mais uma vitória em 14 de dezembro, quando derrubou os vetos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao tema. Sem que o presidente se manifestasse no prazo de 48 horas após os vetos, a lei foi promulgada e o marco temporal passou a valer. 

De acordo com o Censo 2022 do IBGE, existem quase 1,7 milhão de indígenas no Brasil. (1.693.535) – menos de 1% da população total. Pelo levantamento, a maioria da população indígena vive na Amazônia Legal e Roraima é o estado com a maior proporção de indígenas.  Segundo a Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), o país tem 736 terras indígenas registradas, o que totaliza 13% do território.   

PUBLICIDADE

“O STF sabe que precisamos de pacificação. E o argumento que faltava, agora existe: a lei.”

Francisco Godoy – conselheiro da SRB

Nesta semana, a CNA recorreu ao STF da decisão do ministro Edson Fachin de suspender todas as ações que questionavam a demarcação de terras nos municípios de Guaíra e Terra Roxa, no Paraná. A instituição pede para participar do julgamento como amicus curiae, com direito à sustentação oral.

A Sociedade Rural Brasileira também está preocupada, assim como a CNA, com a insegurança jurídica gerada com os questionamentos à nova lei do marco temporal. O advogado e conselheiro da SRB, Francisco Godoy, diz que é grande o impacto social de demarcação de novos territórios indígenas sem considerar o histórico das áreas já consolidadas com produção.   

Para a SRB, o Supremo Tribunal Federal tem a chance de fazer o que os seus novos membros têm defendido, que é exercer uma contenção da sua auto competência e reconhecer a decisão do Congresso Nacional. É que o STF tem duas ações para julgar que envolvem o marco temporal. 

Partidos recorreram ao STF contra o marco temporal

Os partidos PL, PP e Republicanos moveram uma ação pedindo ao STF para validar a lei aprovada no Congresso. Pelo lado do governo, o STF recebeu duas ações pedindo a derrubada da nova lei: dos partidos PSOL e Rede junto com a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib); e também dos partidos PT, PV e PCdoB.

“Temos otimismo de que o STF agirá com serenidade, até porque estamos em um momento que precisa de pacificação”, afirma Godoy.

PUBLICIDADE

FPA critica pedido da AGU para suspender processos sobre demarcação de terras

A Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) manifestou-se contra o pedido feito pela Advocacia Geral da União (AGU) ao Supremo Tribunal Federal (STF), para que mantenha suspensos os processos que tratam do tema. Segundo a AGU, a aprovação do marco legal no Congresso Nacional logo após ele ser invalidado pelo STF cria uma ambiente de incerteza.

Em nota, a FPA disse que o regramento legal em vigor quanto à demarcação das terras indígenas deve ser respeitado. “O que se vê, em verdade, é a Funai buscando salvo-conduto para não aplicar a Lei. O pedido demonstra a pretensão de vedar que o produtor rural questione eventuais ilegalidades praticadas pela autarquia, em uma situação de não efetivação do regramento”, disse a nota.

 O Agro Estadão procurou o Ministério dos Povos Indígenas para comentar esse tema. Mas não recebemos resposta até a publicação dessa reportagem.

Siga o Agro Estadão no WhatsApp, Instagram, Facebook, X, Telegram ou assine nossa Newsletter

PUBLICIDADE

Notícias Relacionadas

Setor produtivo cobra reformulação urgente do crédito rural e alerta para colapso no RS

Agropolítica

Setor produtivo cobra reformulação urgente do crédito rural e alerta para colapso no RS

Lideranças do agro denunciam endividamento histórico, falhas no seguro rural e impactos nas famílias rurais

STF avança em julgamento sobre incentivos tributários a defensivos agrícolas

Agropolítica

STF avança em julgamento sobre incentivos tributários a defensivos agrícolas

Resultado está em aberto à espera dos votos de Nunes Marques, Alexandre de Moraes e Gilmar Mendes; sessão continua semana que vem

Decisão do STF sobre o Renovabio garante segurança jurídica, diz CNA

Agropolítica

Decisão do STF sobre o Renovabio garante segurança jurídica, diz CNA

Para o setor, julgamento elimina riscos e reforça a previsibilidade para a transição energética

Conferência expõe divergências entre setor do tabaco e órgãos do governo

Agropolítica

Conferência expõe divergências entre setor do tabaco e órgãos do governo

Setor produtivo teme mudanças regulatórias, crescimento do mercado ilegal e impacto na cadeia que gera US$ 2,89 bilhões em exportações

PUBLICIDADE

Agropolítica

Governo anuncia 10 novas demarcações de terras indígenas

A meta do Brasil é regularizar e proteger 63 milhões de hectares de terras indígenas e quilombolas até 2030

Agropolítica

Para Alckmin, acordo Mercosul-UE será o maior do mundo e fortalecerá multilateralismo

Vice-presidente, que cumpre agenda na COP 30, voltou a mostrar confiança na assinatura do texto final do acordo entre os dois blocos

Agropolítica

Manutenção de tarifa dos EUA para a uva deixa produtores apreensivos

Confira a lista de frutas mencionadas no documento publicado pelo governo dos EUA que retirou as tarifas recíprocas de 10%

Agropolítica

UE oficializa volta do pré-listing para a compra de aves e ovos do Brasil

Decisão oficial do bloco europeu restabelece mecanismo suspenso desde 2018 e fortalece previsibilidade para novas habilitações de plantas brasileiras

Logo Agro Estadão
Bom Dia Agro
X
Carregando...

Seu e-mail foi cadastrado!

Agora complete as informações para personalizar sua newsletter e recebê-la também em seu Whatsapp

Sua função
Tipo de cultura

Bem-vindo (a) ao Bom dia, Agro!

Tudo certo. Estamos preparados para oferecer uma experiência ainda mais personalizada e relevante para você.

Mantenha-se conectado!

Fique atento ao seu e-mail e Whatsapp para atualizações. Estamos ansiosos para ser parte do seu dia a dia no campo!

Enviamos um e-mail de boas-vindas para você! Se não o encontrar na sua caixa de entrada, por favor, verifique a pasta de Spam (lixo eletrônico) e marque a mensagem como ‘Não é spam” para garantir que você receberá os próximos e-mails corretamente.