Agropolítica
Projeto que cria política nacional para agricultura urbana vira lei
Estudos apontam que agricultura urbana tem potencial para suprir necessidade de hortícolas, porém faltam incentivos dos governos e linhas de financiamento próprias

Daumildo Júnior | Brasília | daumildo.junior@estadao.com | Atualizada em 29/07/2024 às 11h25
16/07/2024 - 08:00

A agricultura urbana e periurbana ganhou uma lei de incentivo. O projeto de lei que institui uma política nacional sobre o tema foi aprovado no início de julho no Senado Federal e se tornou lei após a sanção presidencial.
A nova legislação define a agricultura urbana e periurbana como “atividade agrícola e pecuária desenvolvida nas áreas urbanas e periurbanas e integrada ao sistema ecológico e econômico urbano, destinada à produção e à extração de alimentos e de outros bens para o consumo próprio ou para a comercialização”.
Na prática, há uma diversidade dentro da agricultura urbana. Um lote vazio, por exemplo, pode servir para o plantio de uma horta comunitária. A diretora de Pesquisa do Instituto Escolhas, Jaqueline Ferreira, explica que essas áreas também incluem terrenos de escolas e postos de saúde, terraços, zonas debaixo de linhas de transmissão elétrica, espaços ao lado de rodovias e também a chamada agricultura verticalizada, feita em paredes de prédios.
“A produção local de alimentos tem uma grande capacidade de contribuir na estratégia de combate à fome e segurança alimentar”, afirma Ferreira. Um dos objetivos da nova lei é, justamente, “ampliar a segurança alimentar e nutricional” de pessoas em estado de vulnerabilidade.
Um estudo feito pelo Escolhas mostra que a região metropolitana de São Paulo tem 60 mil hectares de áreas que poderiam ser utilizadas para produzir verduras e legumes. Isso poderia abastecer 20 milhões de pessoas por ano, ou seja, quase o número de habitantes da grande São Paulo.
Invisibilidade de produtores urbanos é um dos desafios atuais
A diretora do Instituto Escolhas aponta alguns desafios em que a nova lei poderá auxiliar. O principal é a invisibilidade dessa agricultura, que “existe, mas não é vista, não recebe políticas públicas, nem mesmo políticas da agricultura familiar”. O acesso ao crédito, por exemplo, não é possível.
“Esses agricultores não conseguem acessar porque têm uma definição de agricultura familiar que não os atende, como, a exigência de que a renda familiar oriunda seja predominantemente do estabelecimento agropecuário, ou então você tem uma área que não é cultivada só por uma família, mas sim por várias”, completa.
Outra questão que pode ser resolvida é a implementação de medidas de apoio dentro dos planos urbanos, com os municípios entendendo a importância dessa agricultura. “É importante que os municípios entendam isso e coloquem dentro de seus planejamentos urbanos políticas públicas voltadas para fortalecer essa agricultura”, analisa Ferreira. Além disso, a diretora inclui um terceiro desafio, que é a necessidade de assistência técnica.

O que a nova lei prevê?
O texto aprovado no Senado tem alguns dispositivos que podem mitigar esses problemas apresentados pela especialista. O projeto prevê:
- inclusão da agricultura urbana nos planos diretores e planejamentos municipais, especialmente no aspecto de uso e ocupação do solo urbano;
- a responsabilidade da execução e planejamento da agricultura urbana vai ser dividida entre a União, os Estados, o Distrito Federal e os municípios;
- o governo federal como agente de articulação com os demais entes da federação para viabilizar, entre outros pontos, a aquisição de produtos da agricultura urbana e estimular o serviço de assistência técnica com foco nessa agricultura;
- incentivo à criação de feiras livres e de outras formas de comercializar os produtos da agricultura urbana;
- estabelecimento de linhas de crédito com foco nessas atividades.
Apesar desses elementos, a legislação a ser sancionada não traz critérios para inclusão dentro do parâmetro da agricultura familiar e deixa vago os órgãos federais, estaduais e municipais que serão responsáveis pela implementação da lei.
Ganhos com agricultura urbana e periurbana vão além da comida
A geração de emprego nas cidades é uma questão levantada pela diretora Jaqueline Ferreira. Segundo ela, um estudo feito pelo Instituto Escolhas observou a agricultura urbana em sete regiões metropolitanas (Fortaleza, Manaus, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Goiânia, Porto Alegre, São Paulo).
Somente nessas áreas, o levantamento apontou que aproximadamente 285 mil pessoas já trabalham nessa atividade agrícola urbana. “É mais do que a indústria automobilística contrata em todo o país”, compara.
Ela pontua outros benefícios que a agricultura urbana e periurbana traz:
- aumento das áreas verdes;
- redução do custo do alimento;
- redução de emissões de gases do efeito estufa no transporte de alimentos;
- diminuição do desperdício, já que os produtos frescos tendem a perder mais rapidamente.
Siga o Agro Estadão no Google News e fique bem informado sobre as notícias do campo.

Newsletter
Acorde
bem informado
com as
notícias do campo
Mais lidas de Agropolítica
1
Trump corta tarifa da celulose; carne e café podem ser os próximos
2
Renegociação de dívidas rurais não está esgotada, diz Haddad
3
Acordo Mercosul-EFTA zera tarifas de 99% das vendas brasileiras ao bloco europeu
4
Novo imposto de renda: o que muda para o produtor rural?
5
RS: aula inaugural contra o agronegócio em Pelotas gera reação do setor
6
Alesp vota PL que corta benefícios de pesquisadores e ameaça autonomia científica

PUBLICIDADE
Notícias Relacionadas

Agropolítica
Itamaraty confirma conversa de Vieira com Rubio e diz que delegação vai aos EUA
Reunião entre comitiva brasileira e equipe norte-americana para debater tarifaço deverá ser em Washington, mas ainda sem data definida

Agropolítica
MP que altera impostos sobre investimentos caduca e agro comemora
Líder da bancada ruralista fala em “ameaças” ao setor para que a medida fosse aprovada

Agropolítica
Isenção de IPI para máquinas agrícolas avança na Câmara
Projeto de Lei 1853/24 foi aprovado na Comissão de Agricultura e segue para análise em outras comissões

Agropolítica
Flávio Dino pede vista e julgamento da Ferrogrão é suspenso
Dois ministros já manifestaram votos favoráveis à lei que suprime área de parque para acomodar traçado da linha férrea
Agropolítica
Ruralistas pedem urgência em lei que autoriza Estados a controlar javalis
FPA quer garantir competência estadual no manejo de fauna antes de decisão do STF sobre constitucionalidade da prática
Agropolítica
CNA reelege João Martins como presidente da entidade
Há mais de 10 anos à frente da confederação, Martins mira em futuro com acesso à capacitação
Agropolítica
Escolha de Alckmin para negociações com EUA agrada bancada ruralista
Presidente da FPA avalia o vice-presidente da República como moderado e racional para resolver a questão do tarifaço com o governo Trump
Agropolítica
Mesmo sem taxação das LCAs, bancada ruralista se mantém contrária a proposta
Apesar disso, o presidente da FPA, deputado federal Pedro Lupion, afirma que não deve haver encaminhamento para a derrubada do texto