Agropolítica
Fim de incentivos fiscais sobre agroquímicos pode aumentar em R$ 20,8 bi custo de produção, diz Mapa
Proposta de mudança na tributação dos produtos está em análise no Supremo Tribunal Federal

Sabrina Nascimento | São Paulo
06/11/2024 - 14:00

Uma possível revogação dos incentivos fiscais sobre os agroquímicos pode aumentar em R$ 20,8 bilhões o custo de produção dos agricultores brasileiros. A estimativa foi apresentada pelo diretor do Departamento de Análise Econômica e Políticas Públicas do Ministério da Agricultura (Mapa), Silvio Farnese, durante audiência pública no Supremo Tribunal Federal (STF) na terça-feira, 05. Segundo o Mapa, o valor representa um aumento de 17% na carga tributária do setor.
Também participando da sessão, o secretário de Defesa Agropecuária do Mapa, Carlos Goulart, defendeu que cabe ao produtor rural decidir usar ou não esses produtos, aumentando ou diminuindo sua produção agrícola.
A audiência convocada pelo ministro do STF, Edson Fachin, faz parte do processo que analisa a Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) 5553, aberta pelo Partido Socialismo e Liberdade (PSOL).
A sigla questiona as regras do Convênio 100/1997 do Conselho Nacional de Política Fazendária (Confaz) que reduzem em 60% a base de cálculo do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) sobre agroquímicos. A ação também contesta a legislação tributária que estabelece alíquota zero do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para alguns desses produtos.
O diretor jurídico da Federação das Associações de Arrozeiros do Rio Grande do Sul (Federarroz), Anderson Belloli, explicou que o fim da desoneração aumentaria o custo de produção das lavouras de arroz no estado. Como consequência, haveria redução da produção e aumento dos preços.
“Se consegue produzir no Rio Grande do Sul porque conseguimos usar menos químicos, e por isso que ainda se tem arroz no Brasil. E é importante destacar que o custo da lavoura de arroz, que é R$ 14 a 15 mil por hectare, ele vai aumentar significativamente”, afirmou Belloli.
Durante a audiência, o engenheiro agrônomo e representante do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), Ângelo Dellatorre defendeu que o avanço dos incentivos fiscais aumentaram a utilização de agroquímicos no Brasil.
“Penso que deveríamos estar discutindo a transição para a produção orgânica, regenerativa, soberania alimentar, função social da terra e tributação progressiva”, afirmou Dellatorre. “No entanto, a sina das empresas pelo lucro, independente das consequências sociais, ambientais e econômicas, mostra que uma parcela da sociedade insiste em girar a roda da história rumo a um destino incerto”, completou.
Já o representante da Defensoria Pública da União (DPU), Fernando da Cunha Cavalcanti, destacou durante a audiência que 30% dos atendimentos da DPU envolvem questões de saúde, como pedidos de medicamentos ou tratamentos médicos. Segundo ele, muitas dessas demandas acabam se transformando em ações judiciais relacionadas ao uso excessivo de agrotóxicos, gerando um grande custo para o poder público.
O julgamento da ADI começou em 13 de junho, quando foi lido o relatório do ministro Edson Fachin e apresentadas as manifestações das partes e de terceiros interessados no processo. No entanto, o plenário do STF atendeu a proposta do relator de realizar a audiência pública para obter esclarecimentos técnicos.
Durante a audiência, o ministro Edson Fachin disse que o julgamento do caso será marcado após a finalização de seu voto sobre a questão. A data ainda não foi definida.
Siga o Agro Estadão no Google News e fique bem informado sobre as notícias do campo.

Newsletter
Acorde
bem informado
com as
notícias do campo
Mais lidas de Agropolítica
1
Trump corta tarifa da celulose; carne e café podem ser os próximos
2
Renegociação de dívidas rurais não está esgotada, diz Haddad
3
Acordo Mercosul-EFTA zera tarifas de 99% das vendas brasileiras ao bloco europeu
4
RS: aula inaugural contra o agronegócio em Pelotas gera reação do setor
5
Novo imposto de renda: o que muda para o produtor rural?
6
Alesp vota PL que corta benefícios de pesquisadores e ameaça autonomia científica

PUBLICIDADE
Notícias Relacionadas

Agropolítica
Mesmo sem taxação das LCAs, bancada ruralista se mantém contrária a proposta
Apesar disso, o presidente da FPA, deputado federal Pedro Lupion, afirma que não deve haver encaminhamento para a derrubada do texto

Agropolítica
Governo prorroga emergência zoosanitária para gripe aviária
Brasil não tem vírus circulando em granjas comerciais, mas medida é preventiva e mobiliza verbas

Agropolítica
Municípios gaúchos fora da ajuda do governo têm R$ 2,7 bi em dívidas rurais
Critérios definidos pelo Ministério da Agricultura e Pecuária para liberação dos recursos excluem 92 cidades do Rio Grande do Sul, segundo a Farsul

Agropolítica
Importação de banana do Equador preocupa produtores de Minas Gerais
Setor teme desequilíbrio no mercado interno e alerta para riscos sanitários de pragas e doenças que não existem no Brasil
Agropolítica
Dívidas rurais: lista para crédito inclui balneários e exclui polos agrícolas
Farsul alerta para distorções na escolha dos municípios e sugere ao governo mudanças para contemplar regiões de forte tradição agrícola
Agropolítica
Ministério da Pesca suspende mais de 130 mil licenças
Pasta diz que medida foi tomada após investigação conjunta com a Polícia Federal; interessados em recorrer têm até 30 dias para fazer o pedido
Agropolítica
Ex-secretário de Agricultura do RS assume Farsul no ano do centenário
Conheça a trajetória de Domingos Antonio Velho Lopes, engenheiro agrônomo e produtor rural, marcada por serviços prestados à agropecuária gaúcha
Agropolítica
MDA cria comitê para tratar de uso das centrais de abastecimento
Junta será responsável por propor melhorias no uso dos imóveis públicos dedicados à atividades da agricultura familiar