Agropolítica
Após 140 dias das enchentes, lavouras seguem cobertas de água no RS
Produtores rurais afirmam que bancos não têm os recursos anunciados pelo governo federal
4 minutos de leitura 16/09/2024 - 14:13
Fernanda Farias | Porto Alegre | fernanda.farias@estadao.com | Atualizada às 19h24
No sul do Rio Grande do Sul, lavouras que deveriam estar prontas para o cultivo de soja e arroz seguem cobertas de água desde as enchentes do final de abril. Uma das áreas é do produtor rural Juliano Rocha, de Arroio Grande. Metade dos 160 hectares está submersa e a outra metade tem o solo molhado ou com barro.
“Já era para pelo menos o solo estar preparado em setembro. Mas a máquina não consegue entrar no solo pela umidade”, conta Rocha ao Agro Estadão. Assim como outros agricultores, Rocha precisa de recursos para bombear a água da lavoura e preparar o próximo cultivo.
Ele conta que tentou pegar financiamento bancário, porém a taxa de juros de 12% é considerada muito alta e o prazo para pagamento, muito curto. “A produtividade da próxima safra já está comprometida. A gente precisa de apoio para repactuar e prolongar em prazo maior, porque o agricultor não consegue acertar duas lavouras seguidas… o clima nem sempre favorece”, avalia.
Em vídeo gravado neste domingo, 15, o produtor rural mostra a situação da área alagada e desabafa sobre as medidas de ajuda adotadas pelo governo federal, mas que não estão sendo acessíveis. “Falta sensibilidade do governo. Não tem como provar mais do que já foi mostrado a nossa situação. A gente não está pedindo migalhas, a gente não está negando conta”, afirma.
Movimento SOS Agro RS diz que bancos não têm dinheiro
Na última semana, o governo federal autorizou os bancos a prorrogar, de forma automática, para 15 de outubro de 2024, o vencimento das parcelas vencidas ou vincendas entre 1º de maio e 14 de outubro. “Não adianta nada, porque o produtor está negativado e não consegue pegar o dinheiro para pagar”, comenta ao Agro Estadão Graziele Camargo, uma das coordenadoras do Movimento SOS Agro RS.
O movimento critica as medidas anunciadas e diz que nem os bancos estão sabendo o que fazer quando são procurados. “Existem dez legislações diferentes, não entendemos porque estão fazendo uma lei vinculada a outras que não funcionam”, comenta Camargo.
Outro problema citado por ela é o Fundo Social, a linha que os produtores poderiam acessar com as regras previstas na Resolução do Conselho Monetário Nacional (CMN) publicada na semana passada. Conforme o Agro Estadão adiantou, o alerta feito pela Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul) de que a linha operada pelo BNDES não teria recurso suficiente, está sendo comprovado pelos produtores.
“O Fundo Social não tem dinheiro. Nós não temos nada concreto de que podemos ir ao banco e conseguir o dinheiro. Nada está resolvido”, desabafa a coordenadora do movimento.
O economista-chefe da Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul, Antonio da Luz, explica que o aporte de recursos ao Fundo Social depende da aprovação do Projeto de Lei 3117, que já passou pelo Senado e agora está na Câmara dos Deputados. Ele trata, entre outros temas, de medidas extraordinárias para casos de calamidade, incluindo a destinação de dinheiro para o Fundo Social.
“Além disso, é fundamental que o BNDES envie para as instituições financeiras, em caráter de urgência, a Circular com as instruções e regras de funcionamento, para que a linha se torne operacional”, destaca da Luz ao Agro Estadão. O valor estimado necessário para o setor é de R$ 50 bilhões.
O que dizem o BNDES e o Ministério da Agricultura e Pecuária
Em nota, o Banco Nacional do Desenvolvimento (BNDES) informou que irá emitir a circular com as regras atualizadas do programa BNDES Emergencial para o Rio Grande do Sul nos próximos dias.
O Agro Estadão também procurou o Ministério da Agricultura, que ainda não respondeu aos questionamentos.
SOS Agro RS e deputados cobram posição do governo federal
Nesta segunda-feira, 16, o movimento SOS Agro e deputados federais, estaduais e entidades do setor se reuniram para discutir a situação do agronegócio gaúcho, que movimenta cerca de 40% da economia do estado. O presidente da Comissão de Agricultura da Assembleia Legislativa do RS, deputado estadual Luciano Silveira (MDB) disse que, após cinco meses das enchentes, a falta de posicionamento do governo incomoda.
“Muitas cidades passam pelo processo de retomada e reconstrução, outras ainda não se recuperaram. E a agricultura, a força motriz do nosso estado, a quarta economia do nosso país, segue sem providências. Precisamos de menos discurso e mais soluções”, declarou o parlamentar durante o encontro.
Também do MDB e líder do agro na Câmara dos Deputados, o deputado federal Alceu Moreira reforçou o discurso: “estamos sendo tratados com desdém e extrema incompetência”.
Já o deputado federal Giovani Cherini (PL-RS), fez declarações duras e disse que o governo federal “não cumpre acordos” e que até agora, as mobilizações do setor foram “um movimento de amiguinhos” que não trouxe resultados.
Siga o Agro Estadão no Google News e fique bem informado sobre as notícias do campo.
Newsletter
Acorde
bem informado
com as
notícias do campo
Mais lidas de Agropolítica
1
BNDES orienta bancos sobre novas regras para financiamento a produtores rurais no RS
2
CMN ajusta norma do PCA para câmaras frias
3
Luis Rua é nomeado secretário de Relações Internacionais
4
Governo prevê retorno das exportações de frango do RS para China em outubro
5
Brasil abre mais 20 novos mercados para produtos agro
6
Produtores afetados por queimadas poderão recorrer à linha do Plano Safra
PUBLICIDADE
Notícias Relacionadas
Agropolítica
Mapa quer discutir regulamentação da lei europeia antidesmatamento com o setor produtivo
Secretário de Relações Internacionais do Mapa também avalia aberturas de mercado e confirma expectativa de chegar a 300 até o fim do ano
Agropolítica
Bioinsumos, incêndios, Marco Temporal e União Europeia são prioridades na agenda da FPA
Presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária criticou atuação do governo no combate às queimadas e qualificou como “incompentente” a ministra Marina Silva
Agropolítica
Lula sanciona lei do Combustível do Futuro
Lei trata de mobilidade sustentável, propõe o aumento da mistura do biodiesel ao óleo diesel e eleva o percentual mínimo obrigatório de etanol na gasolina
Agropolítica
“Vamos buscar todas as oportunidades que existirem em todas as cadeias produtivas”, diz novo secretário de Relações Internacionais do Mapa
Luís Rua tomou posse na tarde desta sexta, 04, e falou com exclusividade ao Agro Estadão sobre as “missões” dadas pelo ministro da Agricultura
Mapa troca diretor de Gestão de Risco
Jonatas Pulquério lamenta a saída após 18 meses e afirma: “sempre fui crítico ao modelo do seguro rural”
Luis Rua é nomeado secretário de Relações Internacionais
Saída de Roberto Perosa acontece três dias após substituir Fávaro no Mapa
Entidades agrícolas da Alemanha pedem que UE adie implementação de lei antidesmatamento
Em comunicado, as entidades disseram que a lei trará enormes impactos negativos para a agricultura e a silvicultura na Alemanha se entrar em vigor na sua forma atual ao fim de 2024
Brasil abre mais 20 novos mercados para produtos agro
O mês de setembro tem, até o momento, 50 aberturas de mercados para produtos brasileiros