Agropolítica
Agro alerta para riscos geopolíticos e cobra previsibilidade do crédito rural
Lideranças do setor alertam para “perda” ao agronegócio do Brasil, caso haja um acordo comercial entre EUA e China
Sabrina Nascimento | São Paulo | sabrina.nascimento@estadao.com
06/05/2025 - 14:17

Em um momento em que o agronegócio brasileiro é pressionado por tensões comerciais internacionais e incertezas domésticas, lideranças políticas e do setor produtivo se reuniram nesta terça-feira, 06, para debater os rumos do setor. Durante o evento “Cenário Geopolítico e a Agricultura Tropical” realizado pela Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), em parceria com o Estadão e a Broadcast, um cenário complexo foi traçado.
O deputado federal Pedro Lupion (PP-PR), presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) alertou para a crescente dependência brasileira em relação ao comércio com a China. “Eu tenho receio muito claro de uma possibilidade desse processo [possível acordo comercial entre EUA e China], pois cerca de 52% das nossas commodities vão para a China”, disse.
Segundo ele, qualquer mudança na balança entre China e Estados Unidos (EUA) pode provocar um “terremoto” no agronegócio brasileiro. A preocupação vem especialmente diante da possibilidade de negociações bilaterais entre as duas potências, que poderiam colocar o Brasil em desvantagem. Ainda assim, o deputado defende a manutenção de uma relação sólida com os chineses. “É uma necessidade manter esse comércio de produção”, salientou.
A preocupação com um possível acordo entre as duas maiores potências econômicas do mundo também foi indicado pelo presidente da CNA, João Martins. “Nesse caso, o agronegócio brasileiro vai pagar um preço alto”, afirmou. De acordo com Martins, quando há um acordo entre dois grandes países, outra nação perde, e, neste caso, será o Brasil. Além do mais, o dirigente indicou ainda que, não será fácil para o agro brasileiro, se Trump decidir recuar de sua política de tarifaço, com o agro perdendo espaço.
Acordo Mercosul-UE
Enquanto o mercado asiático se mostra estável — ainda que concentrado —, as negociações com a União Europeia (UE) surgem como alternativa, principalmente, com o acordo comercial entre Mercosul e UE. No entanto, há barreiras que ainda precisam ser vencidas. “Estamos negociando, principalmente com o Sul da Europa, para tentar desfazer essas narrativas [de desmatamento] impostas lá pela UE”, afirmou Lupion, referindo-se às exigências ambientais cada vez mais rígidas impostas pelo bloco.
Segundo Martins, hoje, o maior problema para avançar com o acordo é o protecionismo europeu. “Apesar do discurso europeu de querer ser parceiro do Brasil, o protecionismo ainda predomina”, destacou.
Gargalos internos
Apesar das pressões externas, de acordo com a senadora e ex-ministra da Agricultura, Tereza Cristina, os maiores desafios do agro ainda estão dentro de casa. “Não dá para, todo ano, chegarmos no meio do ano e estarmos negociando para ver o que sobrou do orçamento”, comentou.
Ela defende um modelo de financiamento com previsibilidade e planejamento plurianual. “O Brasil é o grande concorrente dos EUA, mas o problema é a falta de infraestrutura e armazenagem. Hoje temos três safras, mas só um terço da produção é financiada pelo governo. O resto vem das tradings e dos próprios produtores”, disse.
Tereza Cristina reforçou que o crédito rural é um dos maiores gargalos. “Além disso, não temos seguro rural efetivo. Isso não pode continuar sendo adiado. Precisamos de uma política estruturada”, disse, ressaltando que, sem seguro rural e sem infraestrutura adequada, o país continuará vulnerável, tanto às pressões externas quanto às próprias limitações internas.
Newsletter
Acorde
bem informado
com as
notícias do campo
Mais lidas de Agropolítica
1
Banco do Brasil diz que produtores em recuperação judicial não terão mais crédito; FPA reage
2
Senado quer ouvir Marina Silva sobre inclusão de tilápia como espécie invasora
3
Mapa confirma que 'não há perspectiva' de liberação de orçamento do Seguro Rural
4
Governo discute tornar Seguro Rural despesa obrigatória, mas depende de convencimento interno
5
Brasil abandona acordo por transporte pesado elétrico um dia após assinatura
6
Agronegócio é afetado pelo shutdown mais longo da história dos EUA
PUBLICIDADE
Notícias Relacionadas
Agropolítica
FPA articula notícia-crime contra Lula e Lewandowski por demarcações de terras indígenas
Medida foi endossada por parlamentares da bancada ruralista e será apresentada ao procurador-geral da República, Paulo Gustavo Gonet
Agropolítica
ApexBrasil inaugura escritório em Mato Grosso para expandir negócios no agro
Nova unidade, em Cuiabá, visa fortalecer atração de investimentos e aproximar produtores de mercados internacionais
Agropolítica
CNA pede que STF suspenda novas demarcações de terras indígenas até julgamento do marco temporal
Para a confederação, demarcações representam insegurança jurídica a produtores; governo do MT também aciona STF
Agropolítica
Setor produtivo cobra reformulação urgente do crédito rural e alerta para colapso no RS
Lideranças do agro denunciam endividamento histórico, falhas no seguro rural e impactos nas famílias rurais
Agropolítica
STF avança em julgamento sobre incentivos tributários a defensivos agrícolas
Resultado está em aberto à espera dos votos de Nunes Marques, Alexandre de Moraes e Gilmar Mendes; sessão continua semana que vem
Agropolítica
Decisão do STF sobre o Renovabio garante segurança jurídica, diz CNA
Para o setor, julgamento elimina riscos e reforça a previsibilidade para a transição energética
Agropolítica
Conferência expõe divergências entre setor do tabaco e órgãos do governo
Setor produtivo teme mudanças regulatórias, crescimento do mercado ilegal e impacto na cadeia que gera US$ 2,89 bilhões em exportações
Agropolítica
Governo anuncia 10 novas demarcações de terras indígenas
A meta do Brasil é regularizar e proteger 63 milhões de hectares de terras indígenas e quilombolas até 2030