Sustentabilidade

Quanto de metano é possível neutralizar com sistema silvipastoril? Veja o que diz pesquisa da Embrapa

Estudo com mais de 7 anos analisou o potencial de mitigação desse sistema

Um dos esforços do Brasil na busca por diminuir as emissões dos gases do efeito estufa (GEE) está relacionado a alternativas que reduzam o impacto das emissões de metano. A maior parte dessas emissões é do setor pecuário. Um estudo da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) mostrou o potencial de mitigação dessas emissões no sistema silvipastoril. 

A pesquisa calculou quanto de carbono foi possível capturar a partir das árvores que formam o sistema. Basicamente, o sistema compensou a emissão de metano de 1.035 quilos de bovinos vivos por hectare. Isso representa o peso de 2,3 bovinos adultos. 

“Somente o material [de carbono] que está ali fixo na madeira do tronco das árvores permite mitigar a emissão de 2,3 UAs, que é unidade animal por hectare, sendo que uma unidade animal é um boi de 450 quilos de peso vivo”, pontua o pesquisador da Embrapa Pecuária Sudeste e um dos responsáveis pelo estudo, José Ricardo Pezzopane

Como explica o especialista, essa quantidade de animais e a relação de mitigação podem variar, seja pela quantidade de animais seja pela suplementação com outros alimentos além do pasto. Então, dependendo da finalidade — cria, recria ou engorda —, o sistema pode não só neutralizar como sequestrar mais do que emitir. “Uma UA significa que eu tô falando de 450 quilos de peso vivo. Pode ser um boi gordo ou podem ser dois garrotes, por exemplo”, complementa.

Outro dado analisado é que o sistema permite colocar em um hectare mais animais do que a média brasileira de lotação. Atualmente, essa média é de um animal por hectare, o que torna o sistema silvipastoril mais produtivo e sustentável, se comparado a outros sistemas utilizados no Brasil. 

Sistema permite colocar em um hectare mais animais do que a média brasileira de lotação – Foto: Juliana Sussai/Embrapa

Ganhos extras

O pesquisador também aponta que o estudo dá mais base para produtores que adotam o sistema pleitearem ganhos a mais na produção de carne. É o caso do selo Neutral Carbon Brazilian Beef. 

“É uma certificação voluntária, onde os produtores serão bonificados. Aí é uma certificação voluntária, então, ele vai ser bonificado no produto, que é a carne, cujo animal foi criado nesse tipo de sistema. […] A pesquisa é mais uma forma de reforçar essa certificação”, comenta. 

Resultado pode ser ainda maior

Ainda conforme Pezzopane, o valor mitigado pode ser ainda maior, pois a pesquisa só levou em consideração o carbono armazenado no tronco das árvores. O sequestro nas raízes e no solo, por exemplo, não foi calculado.

Ao todo, o estudo analisou métricas de um campo experimental de 24 hectares, sendo 12 no sistema silvipastoril e 12 em sistema a pleno sol. Em cada hectare do sistema integrado, havia 167 árvores. 

“O que a gente quer mostrar é que existem diversas maneiras da pecuária se tornar sustentável sob o aspecto ambiental e produtivo. A gente pode fazer produção dos alimentos, quer seja carne ou leite. Por outro lado, manter uma questão de sustentabilidade”, conclui o pesquisador.